Bordado
Sempre admirei a arte do bordado. Minha habilidade nesta arte não é das mais apuradas, mas o suficiente para me perder na magia que envolve todo seu significado.
Alguns autores dizem que bordar o tecido é o mesmo que bordar dentro de nós. A arte de bordar se mistura com a arte de viver.
Uma bonita analogia quando se compara as tramas do tecido com as tramas da vida. No entrelaçamento dos fios e linhas os entrelaçamentos próprios da vida cotidiana.
O cuidado na escolha dos matizes é o mesmo cuidado na escolha das amizades.
Escolher com atenção os afetos que irão deixar nossa vida mais colorida e alegre. Com fios preciosos e de boa qualidade o resultado final será um bonito desenho. É como colocar ao nosso lado pessoas especiais que deem significado às nossas vidas e que realmente nos valorizem.
.Em cada ponto dado, um passo na caminhada do dia a dia. Quando bordamos procuramos sempre dar os pontos certos para chegar ao desenho desejado. Mas, acidentes acontecem. E pode-se perder algum ponto. Ou se desviar do gráfico tracejado.
Então é preciso voltar atrás. Desfazer o erro é desmanchar o bordado. Recomeçar tudo de novo com muita paciência. Pode acontecer de ficarem marcas grandes ou pequenas. Como na vida. Mas o importante é o valor que se dá a cada ponto. Ou a cada passo.
Errar, desmanchar. Cair, levantar e continuar...
Dizem que um bonito e perfeito bordado se admira pelo avesso. É no avesso que nos revelamos. O avesso do bordado revela o capricho da bordadeira. O avesso da vida mostra nossa capacidade em lidar com frustrações e eventuais fracassos. Revela nosso eu interior
.
Um avesso cheio de nós, pontas soltas ou embaralhadas revela uma pessoa descuidada, preocupada apenas com a aparência. E não devemos deixar nos levar apenas pelas aparências.
É no avesso que mostramos nossa capacidade em desembaraçar os nós também da vida. Mostramos nossa retidão e nossa capacidade de superação. Se não se chegou à perfeição, pelo menos tentou caminhar com equilíbrio e bom senso.
O avesso do bordado cheio de nós , pontas soltas ou embaralhadas, revela não só as dificuldades como também nas marcas deixadas pode-se notar sinais de coragem e persistência na tentativa de desembaraçar nós e unir pontas soltas.
Unir pontas soltas ou desembaraçar nós é bordar a vida com amor e paciência para vencer os medos, as angústias, a solidão, as frustrações.
E assim, em cada ponto dado, em cada emaranhado de linhas, ora seguindo adiante, ora desembaraçando nós, vamos bordando a vida. Escrevendo e delineando a própria história.
EDITELIMA 60/ 2016
O seu olhar
Em todo universo , que lembram uma imagem bordado com Estrelas, o seu olhar me lembra o lar.
Esse olhar é refletido em várias galáxias.
Os mundos ao anoitecer te olham nos olhos e descobrem o puro amor sem dor.
Como encontrei esse olhar, que me fez acreditar no amor e louvar e acreditar.
Uma bomba de sentimentos invade todo o ser, deixando a merce dos meus instintos.
Não amo a cor dos seus olhos, e sim esse olhar.
Não amo o seu rosto e sim o seu sorriso para mim.
O seu olhar me fascina, me tira a calma, me despe lentamente a minha lucidez, me fazendo levitar sem sair do chão.
Não quero deixar de sentir esse sentimento, que arrebata todo os meus sentidos, fazendo- me um ser iluminado, fascinada por um olhar.
Angelina Ribeiro
Riosofia
Se o risco norteia o bordado
como lembra Autran Dourado.
Se viver é muito perigoso
na riobaldagem de Rosa.
Confesso que não vivi
sem me abufelar com Neruda,
para encarar o Tinhoso
e sua palavra tão muda.
Também me junto ao melhor
para iluminar essa via:
mão de mulher no cangote
cachaça, verso e folia.
Assim teço minha escrita
da passagem pelo mundo:
faço pose de bacana
mas sou nobre vagabundo.
Na suave brisa da noite, sob um céu bordado de estrelas, seus olhos encontraram os meus, e ali, entre suspiros e sorrisos, começou a história mais bela que já conheci. Seu toque, tão delicado quanto uma pétala de rosa, acende em mim uma chama que jamais se apagará. Nosso amor é como uma sinfonia, onde cada nota é uma declaração de ternura, cada compasso uma dança de cumplicidade. E assim, juntos, navegamos pelos mares da paixão, guiados pela bússola do coração, rumo a um destino onde só o amor habita.
Grifa no kit, Louis e Balmain
Pistão no jato, bordado Versace
Encontro com a gata, bolsa Chanel
Vida do funk, cruzei o céu
O mais importante do bordado é o avesso. O mais importante em mim é o que eu não conheço.
Vaso Chinês
Porcelana frágil, bordado ao acaso
Com um tal dragão nele cunhado
Em perfumado luzidio dourado.
Delicada forma, reflexo Parnaso.
Vaso chinês, arte, audaz talvez,
guerreiro, porém, alma de vaso.
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Maio de 2018
Cerrado goiano
O Umbral Invertido
Há um véu que se ergue no fim da ladeira,
tecido de névoa, bordado em madeira.
Ali onde os olhos já não têm abrigo,
a morte se curva — e retorna contigo.
Não vem como faca, nem sombra de açoite,
mas como um regresso ao ventre da noite.
Um porto sem nome, um espelho sem rosto,
um vinho ancestral sorvido com gosto.
O corpo se cala, mas algo persiste:
um traço, um sopro, um rumor que resiste.
E tudo que foste — promessa e engano —
recolhe-se ao pó do primeiro arcano.
A morte é um caminho que volta ao princípio,
um sino que ecoa num templo fictício.
Não leva, devolve; não cessa, transborda,
abrindo no nada uma porta sem corda.
E os que partem, dizem, não vão tão distantes —
permanecem na alma em forma de instantes.
São brisa que sonda o mundo adormecido,
são nome esquecido num canto contido.
Morrer é despir-se da forma do vento,
e ser o que sempre se foi por dentro.
É ter, no silêncio, um berço escondido —
é mais que um fim: é um umbral invertido.
Deus não nos dá a agulha das horas no aurorear do amanhecer, só para cerzir os rasgos, que por descuido fizemos no tecido rendado do tempo, mas sobretudo, para bordar um dia novo com a linha do recomeço.
O FIO GUARDA A MEMÓRIA
O fio criando conversas
a gente sem pressa se põe a lembrar
Alinhava um afeto noutro
e nem sente o tempo passar.
As linhas que bordam o tecido
se encontram e se espalham,
criando aquela disposição genuína
para amar.
Almas se entregam ao tecer,
universos inteiros de saudade e saber.
Bordado é encontro,
onde alinhavo meus dias entre nós…
Uma bordadura de avesso, passados e presente.
Mãos que produzem efeitos,
decifram enigmas
Feitos de um fio encantado
para gente acreditar:
Bordado é oração.
O fio criando conversas
a gente sem pressa se põe a lembrar
Alinhava um afeto noutro
e nem sente o tempo passar.
Por trás do mosaico de cores do arrebol vejo-te me sorrir misterioso, como um convite cifrado nos olhos indecifráveis da lua.
Da minha vida eu sou uma artesã. E vou bordando minha história. Momentos felizes são bordados com fios de ouro para sempre lembrar do seu valor. Momentos tristes são bordados com fios de seda para que o tempo os torne suaves.
Hoje retirei da gaveta aqueles velhos sonhos guardados e à luz de novos tempos bordei sobre eles a esperança.
Se podes ver, repara
Repara, porque a vida é encontro.
Com a gente mesma,
com o outro e com o mundo.
A tecedura da vida acontece entre um deixar sorrir e um deixar-se sorrir! 💗
Assim que se fecha a porta do dia ouve-se o bater de asas manso da noite, que como uma borboleta de luz pousa na crepuscular flor do tempo e abre as suas asas mágicas enchendo o céu de estrelas; enchendo os sonhos de luz!
O dia declina lentamente até tocar o silêncio do ocaso; local onde os sonhos dormem, onde a saudade fustigada pelo sol se esconde à sombra da noite.
Que a noite chegue com o descanso merecido, com a pausa necessária para recuperarmos as forças para amanhã logo cedinho começarmos um novo dia pleno de luz, paz e poesia.