Boi

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Sim o tempo reina; ele retomou sua brutal ditadura. E está-me empurrando, como se eu fosse um boi, com seu duplo aguilhão: "Vai, anda, burrico! Vai, sua, escravo! Vai, vive, maldito!"

Existem dois tipos de homem:
O que tem papo pra boi dormir e o que tem papo pra dormir com a vaca.

A fome/2

Um sistema de desvinculo: Boi sozinho se lambe melhor.., O próximo, o outro, não é seu irmão, nem seu amante. O outro é um competidor, um inimigo, um obstáculo a ser vencido ou uma coisa a ser usada. O sistema, que não dá de comer, tampouco da de amar: condena muitos à fome de pão e muitos mais à fome de abraços. p. 81


Dizem as paredes/l

No setor infantil da Feira do Livro, em Bogotá:
O Loucóptero é muito veloz, mas muito lento.
Na avenida costeira de Montevidéu, frente do rio-mar:
Um homem alado prefere a noite.
Na saída de Santiago de Cuba:
Como gasto paredes lembrando você!
E nas alturas de Valparaíso:
Eu nos amo.

p. 83

de O Livro dos Abraços

Verão. Meio-dia
Na sombra de uma nuvem
o boi cochila

Açougue nas águas:
piranhas esquartejam o boi
no meio do rio.

O canto do grilo
recorda grito do atrito
do carro de boi.

a névoa dispersa
um boi muge
surge o Fuji

Na calma do lago
um bufo entre a canarana:
peixe-boi respira.

Carro de Boi

Que vontade eu tenho de sair
Num carro de boi ir por aí
Estrada de terra que
Só me leva, só me leva
Nunca mais me traz
Que vontade de não mais voltar
Quantas coisas eu vou conhecer
Pés no chão e os olhos vão
Procurar, onde foi
Que eu me perdi
Num carro de boi ir por aí
Ir numa viagem que só traz
Barro, pedra, pó e nunca mais

"Namorar mulher que mora longe e igual orelha de boi.. Você ta perto do chifre e longe do rabo" ...
Ditado popular...

E o machismo começa quando o valor do boi é o dobro do valor da vaca.

É DURO SER POBRE!!!!!!!

Rico de unhas pintadas.....: Playboy

Pobre de unhas pintadas....: Boióla

Rico com sandálias...........: Turista

Pobre com sandálias..........: Mendigo

Rico que come muito.........: Gourmet

Pobre que come muito........: Esfomeado

Rico lendo jornal.................: Intelectual

Pobre lendo jornal..........: Desempregado

Rico vestido de branco........: Médico

Pobre vestido de branco.......: Pai de Santo

Rico subindo o Morro.........: Rapel

Pobre subindo o Morro........: Voltando para Casa

Rico em restaurante...........: Cliente

Pobre em restaurante..........: Garçom

Rico de terno.................: Empresário

Pobre de terno................: Defunto

Rico na loja..............: Quanto custa?

Pobre na loja........: Estou só olhando...

A melhor de todas:

Rico lendo scrap.........: Patrão

Pobre lendo scrap........: Empregado matando serviço

Boi que usa antolhos não se revolta contra o tronco.

O mal do urubu é achar que o boi está morto!

O que segura o boi no pasto não é a cerca, é o capim que ele come.

O homem nordestino

Que mora lá no sertão
Tem alma de vaqueiro
Pega boi o dia inteiro
Ouvindo o rei do baião...

Homem valente e trabalhador
Do chão seco e rachado
Labuta com o seu arado
Povo humilde de grande valor...

Cai chuva ou faz Sol nesse sertão
Nunca se esquecem do grande Gonzagão
Nem do mestre Virgulino
Orgulhos do povo nordestino...

"Não é a cerca que segura o boi no pasto, mas sim o capim que ele come." Em outras palavras: não prenda ninguém, faça a pessoa querer ficar.

Todo boi sonso quando mostra seus chifres, feri de morte.

Publicado no Recanto das Letras em 11/08/2009
Código do texto: T1747615

A Rã e o Boi

Tomavam sol à beira de um brejo uma rã e uma saracura. Nisto chegou um boi, que vinha para o bebedouro:
- Quer ver-disse a rã-como fico do tamanho deste animal?
- Impossível rãzinha. Cada qual como Deus o fez.
- Pois olhe lá!-retorquiu a rã estufando-se toda-Não estou "quase" igual a ele?
- Capaz! Falta muito amiga.
A rã estufou-se mais um bocado.
- E agora?
- Longe ainda...
A rã fez um novo esforço.
- E agora?
- Que esperança...
A rã, concentrando todas as forças, engoliu mais ar e foi-se estufando, estufando, até que, PLAF!, rebentou como um balãozinho de plástico.
O boi, que tinha acabado de beber, lançou um olhar de filósofo sobre a rã moribunda e disse:
(Moral) - Quem nasce para 10 réis não chega a vintém.

O Boi Velho

Uma das coisas mais ingênuas e comoventes da vida do Barão do Rio Branco era o seu sonho de fazendeiro. Homem nascido e vivido em cidade, traça de bibliotecas, urbano até a medula, cada vez que uma coisa o aborrecia em meio às batalhas diplomáticas, seu desabafo era o mesmo, em carta a algum amigo: “Penso em largar tudo, ir para São Paulo, comprar uma fazenda de café, me meter lá para o resto da vida…”

Nunca foi, naturalmente; mas viveu muito à custa desse sonho infantil, que era um consolo permanente.

Por que não confessar que agora mesmo, neste último carnaval, visitando a fazenda de um amigo, eu, pela décima vez, também não me deixei sonhar o mesmo sonho? Com fazenda não, isso não sonhei; os pobres têm o sonho curto; sonhei com o mesmo que sonham todos os oficiais administrativos, todos os pilotos de aviação comercial, todos os desenhistas de publicidade, todos os bichos urbanos mais ou menos pobres, mais ou menos remediados: pegar um dinheirinho, comprar um sítio jeitoso, ir melhorando a casa e a lavoura, vai ver que no primeiro ano dava para se pagar, depois quem sabe daria uma renda modesta, mas suficiente para uma pessoa viver sossegada; com o tempo comprar, talvez mais uns alqueires…

Meu pai foi durante algum tempo sitiante, minha mãe era filha de fazendeiro, meus tios eram todos da lavoura… Mas que brasileiro não é mais ou menos assim, não guarda alguma coisa da roça e não tem a melancólica fantasia, de vez em quando, de voltar?

Aqui estou eu, falso fazendeiro, montado no meu cavalo, a olhar minhas terras. Chego até o curral, um camarada está ordenhando as vacas. Suas mãos hábeis fazem cruzar-se dois jatos finos de leite que se perdem na espuma alva do balde. Parece tão fácil, sei que não é. Deixo-me ficar entre os mugidos e o cheiro de estrume, assisto à primeira aula de um boizinho que estão experimentando para ver se é bom para carro. Seu professor não é o carreiro que vai tocando as juntas nem o pretinho candeeiro que vai na frente com a vara: é um outro boi, da guia, que suporta com paciência suas más-criações, obrigando-o a levantar-se quando se deita de pirraça, arrasta-o quando é preciso, não deixa que ele desgarre, ensina-lhe ordem e paciência.

No coice há um boi amarelo que me parece mais bonito que os outros. O carreiro explica que aquele é seu melhor boi de carro, mas tem inimizade àquele zebu branco vindo de Montes Claros, seu companheiro de canga; implica aliás com todos esses bois brancos vindos de Montes Claros. O caboclo sabe o nome, o sestro, as simpatias e os problemas de cada boi, sabe agradar a cada um com uma palavra especial de carinho, sabe ameaçar um teimoso – “Mando te vender para o corte, desgraçado!” – com seriedade e segurança.

Ah, não dou para fazendeiro; sinto-me um boi velho, qualquer dia um novo diretor de revista acha que já vou arrastando devagar demais o carro de boi de minha crônica, imagina se minhas arrobas já não valem mais que meu serviço, manda-me vender para o corte…