Boas Amizades
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Antes romances e dramas baseados em realidade, que ficções recheadas de conversa. Nossa história não precisa de personagens fictícios, mas de protagonistas reais.
Autenticidade de dentro para fora, genuidade de fora para dentro e legitimidade de cara lavada. Sem scripts, medos ou âncoras.
Nada que nos acorrente a uma única cultura ou nos algeme em um único lugar. Tudo que possibilite imprimir nossas digitais nos lugares e pessoas que tendem a figurar nos capítulos que ainda escreveremos juntos.
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Deus usa o silêncio para ensinar sobre a responsabilidade das palavras, e alguns cenários para ensinar sobre a gratidão do despertar.
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Lindo mundo
Dentro de mim
Mundo sincero
Rodeado de hipocrisia
Mundo altruísta
Ladeado de egoísmo
Mundo intenso
Sitiado de preguiça
Mundo transparente
Cercado de escuridão
Sou o que sinto
Vivo o que penso
Implodo quando frustro
Explodo se reconsidero
Sou o que sou, extinto
Desequilibro, descompenso
Esclareço se ilustro
Resiliente quando espero
Belo acervo
Dentro de mim
Abundante verdade
Rodeada de mentira
Abundante benevolência
Ladeada de ganância
Abundante jovialidade
Sitiada de inveja
Abundante clarividência
Cercada de dúvida
Sou eu, rei de mim
Sem reinado, influência
Sou o que sou, grande jardim
Sem gramado e indulgência
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Minha pressa de prosperidade cedeu espaço para conjectura. Sem presumir que as coisas caiam do céu, que pessoas sintam minha falta espontaneamente, muito menos que meu coração venha a se arreganhar para o mundo.
Mas especular que meus sonhos e valores sejam recebidos e distribuídos no tempo certo.
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Chico Buarque escreveu uma certa ópera e eu remeti a canção ao meu pai. Na letra existe uma analogia entre o malandro de blusa listrada e o malandro de gravata. Apesar de ele utilizar gravata, a honestidade sempre estampou seu peito com listras bem visíveis. E dessa forma, eu o imaginava como um malandro às avessas - índole, valores e princípios intactos.
E nesta imaginação, uma confluência de personalidades.
Pais, somos
Tais cromossomos
Honestos, vagamos
Desacobardamos
Um perde pra vida
Outro cede pra morte
Ambos descrentes
Nossa miopia, perdão
Tais inocentes
Nossa utopia, bordão
Eu sou
trovador, cavaleiro
e na minha vanguarda
virei forasteiro
vesti minha farda
decidi meu roteiro
Coração devassado
evoquei pensamentos
sem meu pragmatismo
meus desdobramentos
e o meu empirismo
empoderamento
Menestrel, visceral
conservei o lirismo
nasci medieval
conservadorismo
minha credencial
sem pioneirismo
Eu sou
poeta, conteporão
criador, criação
e na minha vanguarda
vesti minha farda
com a minha versão
Tudo que há vida, há um pedaço de Deus. Aquele gatinho que está com fome e frio, é um pedacinho de Deus que está passando fome e frio.
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Lembrei do verão
E floresci, primavera
Muitas folhas ao chão
Fechei minha janela
Descortinei,singelo
Forma de expressão
Extraí o mais belo
Pus em uma oração
E de três em três meses
Minha constatação
Eu, plebeus e burgueses
Somos todos pagãos
Outono se afasta, propício
O frio se instala, indício
Inverno de julho, início
O sol se afasta, solstício
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Minhas ideologias não são esquizofrênicas, apenas muito discrepantes das que me rodeiam com certa teimosia. Chego a confundir a teima com carma, mas logo dissipo a energia que me leva a apontar o indicador para supostos deslizes regressos.
Tudo que transpiro é legítimo e intenso, e legitimidade com intensidade não abre precedentes para gotas de equívoco. Amor e amizade não são sentimentos banalizáveis, algo descartável ou utilizável apenas para satisfazer o bel prazer de um dos lados da história. Ratifico tal percepção ao acessar minhas gavetas repletas de consciência, subconsciência – e porque não – inconsciência coletiva.
Há quase cinco décadas venho me intoxicando com barbitúricos intangíveis e abstratos, que também extirpam a plenitude dos seus destinatários - dia após dia. É como se eu vivesse em uma quimio recorrente, algo plantado para aniquilar toda minha alegria - homeopaticamente.
Com a idade me dei conta deste calvário tóxico e comecei a revirar tais gavetas sem aquela impulsividade adolescente e, por esta única razão, encontrei o cerne que afoga meu âmago com bolhas de angústia – vários frascos do veneno que sequestra minha essência e apaga a estrela que deveria irradiar luz.
Segurei os frascos com meus pensamentos mais lúcidos, abri minha mente com certo receio, e percebi o rótulo que estampa o casulo deste aprisionamento triste e escuro. Um princípio ativo que joga para o ostracismo todo o brilho de uma alma que nasceu para brilhar: “frustração”, dor causada pela ausência de reciprocidade.
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Quem me dera decifrar
A intimidade codificada
Poderia potencializar
A sensibilidade inesgotável
Quem me dera entender
O coração intervalado
Poderia externalizar
A febre interna que não cede
Oxalá, eu tivesse
Esta habilidade sensorial
Revigorizaria minha mente
Transcenderia a obviedade
Oxalá, eu tivesse
O dom da racionalização
Endureceria minhas emoções
Amoleceria duras razões
Eu escreveria o belo inimaginável
Dissertaria o airoso extraordinário
E atropelaria a pobreza midiática
Enquanto isso
Minha mente prosa
Meu coração poesia
Dizem que, nada que diga vai minimizar a dor da perda de alguém. Mas pensando sobre isso, acho que só morrendo para curar a dor de perder alguém.
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Quase quinquagenário
Virei trovador
Não sei qual foi o cenário
Que me percebi escritor
Acendi uma nova verdade
Extingui a visão realista
Uma nova possibilidade
De virar um idealista
Talvez o luto de um irmão
A distância de uma ninhada
Ou a fuga de uma opressão
Uma estrofe, angústia versada
Só sei que virei um poeta
Na quinta às cinco, aos cinquenta
Foi quando surgiu o alerta
Palavras como vestimenta
Vesti meu verso
Despi minha prosa
Olhei acima Universo
Plantei abaixo uma rosa
Um tributo linda trova
Atributo bela bravata
Obtive singela prova
Um soneto com serenata
Testemunhei cá poesia
Outrora, composição
Me livrei de toda heresia
No pulsar do meu coração
E aí entendi o motivo
Da rima como osmose
Do meu ar conotativo
Da minha metamorfose
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Ao implorar pela sua atenção
Retinas atentas libertar-se-ão
Do amargo de palavras solúveis
Do azedo de termos volúveis
Das linhas tão permissivas
Ao conceder a mais linda lição
Almas trancadas libertar-se-ão
Da ideia que te adoece
Do medo que te apetece
Das utopias tão repressivas
Deixe o amor virar paisagem
Abra a janela nesta direção
Censure toda tempestade
Aprenda com ela
Sem tanta omissão
Celebre a beleza do pensar
E se nada disso for possível
Invente o seu impossível
Transgrida o senso comum
A vida não é previsível
Regue seu peito
Germine cada semente
Sem secura, sem lamento
Pois a dor de uma história tão dura
Pode lhe causar sofrimento
Na vida eu sou um prato quebrado,
Já servir varios pratos,
Cozido, assado,
Do bom ou barato,
Servir muita gente,
Deixei gente de barriga cheia,
Lamberam seus beiços,
Sujaram seus dentes,
Sorriso na boca,
Foram todos bem servidos,
Fiz bem meu serviço,
Servir muita gente,
Usaram tão bem,
Agora de lado,
Não sirvo mais a ninguém,
Só um prato vazio,
Velho, mal lavado...
Servir muita gente,
Agora em cacos,
Ninguém mais o quer,
Só um prato quebrado!
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Hoje, quando meus olhos choveram, deixei o sol brilhar dentro de mim. Olhei ao redor e as lágrimas secaram no meu sorriso.