Boas Amizades
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Encontrei o meu lugar
Aquele que me preenche
Que me reconecta com o passado
Que me situa no presente
E me desperta para o amanhã
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No principal domingo do ano
Da luta e da paz desmedida
De um Brasil sem miliciano
Gritarei contra o genocida
Do suor que escorre vermelho
Nas mãos sujas de um aristocrata
Jamais vou cair de joelho
Viva Prestes, Guevara e Zapata
Estudei Nabuco, um abolicionista
Vi morrer a Sociedade escravista
Até elegerem um certo fascista
E renascer a Confraria racista
Dia de um povo marcado
Do negro, do gay, do andrógino
E de um gado, um eleitorado
Ver cair seu idiota misógino
E no fim do abominável
E seu bando alienável
Primavera linda, impagável
Aqui jaz, um inominável
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Em tempos de inverdades, tenho saudades da minha liberdade. De andar pela cidade com pessoas da minha idade. Sinto que privo a minha verdade com certa ambiguidade. E que a calamidade uniformiza a diversidade.
Creio que a cumplicidade reapareceu sem sazonalidade e que o mundo está repleto de reciprocidade. Será que a majestade está sentindo um pouco de vulnerabilidade?
Em tempos de sororidade e equidade, a unicidade é uma temeridade. E a promiscuidade da invisibilidade aflorou a nossa humildade. Que as desigualdades repletas de maldade cedam espaço para a benignidade. E que o renascer da nossa longanimidade nunca mais permita nenhuma iniquidade.
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Nesse mundo de caos, sentimentos líquidos, verdades dissimuladas e mentiras honestas, posso concluir que a cegueira e a surdez ajudam (e muito) na nossa sanidade.
Como não posso fechar os olhos e tapar os ouvidos, reajo diferente. Crio enquanto a maioria copia, produzo enquanto a maioria tende a procrastinar, invisto enquanto a maioria consome e acredito naquilo que todos duvidam.
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Eu do passado, estou ligando para dizer que nos momentos em que você venceu, perdeu e disse umas verdades na hora errada - está tudo certo. Continua acontecendo isso com você no futuro. Vai por mim, faz parte do jogo da vida.
Arrependimentos? Tenho vários. Pensei em pedir para você evitar certas coisas e situações. Mas talvez eu não fosse eu, se você fizesse isso. Tem uma parada chamada paradoxo, e isso poderia alterar quem somos - melhor deixar quieto e aprender com os equívocos.
Vou te pedir para ter mais paciência, ser menos ansioso. Essa tal de ansiedade quase acabou com a gente. Ela foi nossa professora rígida e cruel, porém, extremamente honesta conosco. A ansiedade te consome naquilo que você acha que irá acontecer, e por isso ela é tão verdadeira. Suas fragilidades e fraquezas ficam expostas diante da realidade. Ou seja, você não tem o controle.
Vão ter vezes que você irá achar que é o fim. E vai ser mesmo. Fim de tantas crenças limitantes que você já teve. Ah... e você vai achar que está cheio de razão. Pode acreditar, você estará coberto de enganos. Quanto a família, fique bem pertinho do seu irmão. Todos são maravilhosos e merecem seu carinho, mas dê uma atenção especial para ele. Vai por mim!
Mas sabe de uma coisa? Eu gosto de ti. Você tem garra, é grato e tem atitude. Porém, herdei de você um talento especial para gerar uma certa inveja de quem cria estereótipos negativos para nos definirem erroneamente. Confesso que vivo tentando te desconstruir quando falo de você. Talvez seja o ímpeto de querer que você pense como eu aprendi a pensar. Essa tal de maturidade tardou, mas chegou com força.
Quanto a mim, acho que estou indo bem. Muitos sonhos, projetos e bons caminhos a serem percorridos. Você vai ser pai mais de uma vez, e ainda tentará de novo. Você vai casar, descasar e acertar na segunda tentativa. Tudo vai valer a pena, vai ser uma loucura e você vai querer escrever um livro. Vai ser você e eu, sem brigas pelo protagonismo. Até breve!
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Soneto da Saudade
Quando amamos e vivemos
Com costumes e moral
E na vida aprendemos
O que não pode ser normal
Pais e filhos são eternos
E o desprezo não perdura
Esses laços são fraternos
Ser sensato é ter cordura
Não sou apenas biológico
Sou de trato e emoção
Pai presente, etimológico
Lágrimas surgem e solidão
Podem tirar minha razão
Não me fará falta alguma
Mas me deixe o coração
O meu eixo desapruma
Meu sentimento é verdade
Que me dói até a alma
Meu soneto da saudade
Tenho força, tenho calma
Tenho filha, tenho filho
Meus anseios no papel
Um cordeiro, um novilho
Eu, Manú e Raphael
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Os paradoxos da minha timeline.
Sempre fui um aficionado pelas figuras de linguagem. Paradoxos e metáforas, por exemplo, sempre me ajudaram no processo de externar meus pensamentos. Traçando uma linha do tempo, voltamos ao ano de 1972 para compreendermos o real propósito deste livro.
Na ocasião, o então presidente Emílio Garrastazu Médici, terceiro da lista de ditadores que governaram o Brasil, promovia pela primeira vez a transmissão de um evento através da televisão em cores. Mesmo considerando o regime autocrático e a sua ilegitimidade, nascia a Telebrás, a primeira empresa de telecomunicações do Brasil. Em meio a censura, a violência e a cassação de direitos políticos, o primeiro computador da América Latina era construído na Cidade de São Paulo. Ao mesmo tempo que as fronteiras se fechavam para o livre-comércio, Médici inaugurava o primeiro trecho da Rodovia Transamazônica. E para completar, o juiz Sérgio Moro nascia ao passo que Luiz Inácio Lula da Silva entrava para o Sindicato dos Metalúrgicos com apenas vinte e sete anos de idade.
Saindo um pouco do contexto tupiniquim, o terrorismo palestino assombrava a delegação israelense em plenos Jogos Olímpicos. E para encerrar a lista de contradições, Richard Nixon, então presidente dos Estados Unidos, se reunia em Pequim, na China, com o lendário Mao Zedong - patrono da luta contra o imperialismo e o capitalismo em todo o mundo.
Neste mesmo ano eu chegava ao mundo e daí a ligação emblemática com os paradoxos da minha história. Com tantas contradições presentes no meu encontro com o mundo exterior, ressalto aqui o meu primeiro contato com a resiliência. Minha querida Mãe, genitora mor diante do seu primogênito, ao se preparar e ver se consolidar o segundo maior elo de sobrevivência depois do cordão umbilical, Mãe e Filho, eis que surge a fome e o anseio instintivo pelo aleitamento materno. Um choro a plenos pulmões antes fechados, uma insistência concebida pelo amor incondicional e um pequeno sussurro em meus ouvidos: - Filho, seja resiliente!
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Quanta coisa para agradecer. A vida, cada dia, cada noite, o sol, a lua, a plantação e o que vamos colher. As pessoas que amamos e que nos amam de volta. #reciprocidade
Agradecemos a sabedoria e honramos a erudição, mas preferimos criar ao invés de nos apoiarmos em fatos existentes. O trabalho não justifica nossa existência, mas não estamos neste planeta apenas para existir. Queremos multiplicar a subsistência. #longevidade
Agradecemos o sentimento de liberdade ao fecharmos os olhos, já que toda sombra tende a perseguir consciências suspeitas. Aprendemos a adestrar nossa reputação, e nossa consciência sempre nos acaricia mesmo depois de uma bela mordida. #liberdade
Agradecemos nossos dons. Ela faz, ele escreve. E apesar do eco que volta, seguimos fazendo e escrevendo à nossa maneira. Com a certeza que ações não são bordões, disparamos balas de resiliência no peito dos que sentem aquela dorzinha no cotovelo. #maturidade
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O tempo é comparado a um pó muito fino que, distraídos, deixamos escorregar por entre os nossos dedos.
Se lhe damos um bom uso, é a ponte por onde fazemos passar a trama dos nossos dias para fabricar o tecido de uma vida significativa. Portanto, precisamos ter consciência de que o tempo é o nosso bem mais precioso, essencial para a busca da felicidade. Então porque hesitamos quando abdicamos do supérfluo? Que vantagem há em nos dedicarmos ao inútil? A discórdia? Como disse Sêneca: “Não é que tenhamos tão pouco tempo, mas que o desperdiçamos demais.”
A vida é curta. Sempre perdemos, quando deixamos de lado as coisas essenciais, ou às adiamos ao nos deixarmos enredar pelas demandas incoerentes daqueles que brigam por poder. Os anos ou as horas de vida que nos restam para viver são como uma substância preciosa que se desfaz, podendo ser desperdiçada sem que percebamos.
Eu tenho quase meio século por aqui, e encaro o tempo como uma criança que pode desaparecer se não ficarmos de olho, que pode sumir com um estranho se não tomarmos cuidado, ou até mesmo evoluir rapidamente entre fases se não acompanharmos esta evolução. O tempo é nosso e ele não pode se perder indiscriminadamente. Cada fração desse tempo deve ser trocada por algum significado.
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Você é uma pessoa mecânica, instintiva ou consciente?
O amor mecânico desperta o ódio.
O amor instintivo desperta a incerteza.
O amor consciente desperta a plenitude.
A fé mecânica é loucura.
A fé instintiva é escravidão.
A fé consciente é liberdade.
A esperança mecânica é doença.
A esperança instintiva é covardia.
A esperança consciente é força.
Ao longo dos meus quarenta e muitos, parei de divagar por aí. Estou me afastando dos abalos morais e fazendo um approach com minha consciência.
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Em janeiro (que passou) ele faria quarenta e seis anos de vida.
É como se o seu desenlace espiritual me gerasse uma sensação física de perda, mas que o desconforto estivesse apenas no fato de não me ver vivendo nele. Quando ele dizia o quanto me amava, o quanto me respeitava, é como se eu vivesse nele também e isso me preenchia de alguma forma. A tal da referência sustentada pela reciprocidade incondicional.
Quando lembro, penso, converso com ele; sinto ele perto, como se ainda estivesse na mesma dimensão que eu. As passagens, as memórias se renovam. É como se o ontem virasse o hoje. Aí paro, reflito, e intuitivamente espero o mesmo. É quando me falta a fala, o abraço, o beijo. Ações que se foram com ele.
O que mais sinto falta? Da minha incapacidade de estabelecer um diálogo que me permita dar e receber. Eu falo, mas não ouço mais. Eu abraço, mas não sou mais abraçado. Eu beijo, mas não sou mais beijado. Ele vive em mim, mas não me vejo vivendo nele. É disso que tenho mais falta.
Saudades, meu irmão.
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Mesmo com o tempo voando através do próprio reflexo.
Tenho o entendimento que a sensibilidade e a imaginação conservam a mocidade da alma. Sou mortal na minha matéria e imortal na minha consciência.
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Se você tem muito chão pela frente, caminhe sem se poupar das provações mundanas.
Quem me conhece, sabe o quanto sou voluntarioso nas questões relacionadas ao meu "consciente profissional" e o quanto preciso ressignificar o meu "consciente pessoal", principalmente quando ativo os gatilhos emocionais.
O simples fato de me perceber vulnerável, já cria uma alternativa de melhora. E é o que ando fazendo com recorrência, sempre que fico diante de uma provação.
Não adianta olhar para o céu com muita fé e pouca luta. O segredo é ter 100% de convicção com apenas 50% de resposta.
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Nossa liberdade é parcial?
O máximo de liberdade que podemos almejar é escolher a prisão em que queremos viver o resto de nossas vidas? Um casamento, um emprego, uma cidade, a paternidade, a política, o apego ao "ter".
Enfim, todas as nossas escolhas, incluindo as felizes, implicam algum confinamento, e isto é um fato.
Por isso eu coloco a liberdade na frente do amor. Meu casamento, meu ganha pão, minha cidade natal, meus filhos, meus ideais políticos, meu apego às coisas e pessoas. Se existe amor porque a posse? O amor precisa de asas para ir aonde bem entender, sem amarras, com liberdade.
Os casamentos de verdade sobreviverão, os empregos virarão propósitos, as cidades permanecerão com suas lembranças, pais e filhos respeitarão suas escolhas, as democracias deixarão legados, e "o ser" vai sobrepujar "o ter".
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Há dezoito anos eu me descobri pai de menina. Na tela do ultrassom vi quando o especialista desenhou um laço em sua cabecinha, e uma lágrima rolou mesmo antes do último traço. Foi algo muito natural, orgânico e incondicional. Minha disponibilidade para amar minha filha e o seu universo foi e sempre será infinita. Não adianta achar que criar um elo eterno com parte de você é algo que se faz instantaneamente, e que se mantém sem dedicação. É necessário entender que aquela menininha precisa do pai presente para se tornar uma mulher autoconfiante.
Quase que por um lapso, abandonei as trevas do egoísmo e caminhei na direção da luz do altruísmo. Me despedi dos meus recifes egocêntricos, e saí gritando para o mundo que Deus tinha confiado uma de suas anjinhas aos meus ensinamentos. Não era tão maduro na ocasião, mesmo assim evitei lançar os dados e deixei Ele me mostrar o caminho.
Quando algo mágico acontece e alguém - mais importante que você próprio - cai nos seus braços, você se reinventa, se recomeça. Foi aí que me vi com a responsabilidade de ser muito mais que um “pailhaço”, precisava amadurecer em um curto período, já que os cromossomos XX tendem a amadurecer na velocidade da luz e eu precisava de uma relação sustentável com o que estava por vir.
Depois de algum tempo você entende a diferença entre andar de mãos dadas e andar de mãos algemadas. Entende que amar não significa cobrar, prender ou até mesmo se apoiar em um estereótipo falido. Entende que presença nem sempre significa liberdade. E entende também que amor não é algo angariado contratualmente. Ninguém é livre parcialmente. A parcialidade aqui pode colocar o “ter” na frente do “ser”, e eu anseio profundamente que a minha menina seja tudo que ela sempre sonhou. Então resolvi colocar a liberdade na frente do amor, e por mais que este espaço me consuma, meu consolo é muito maior ao ver o quanto ela está crescendo linda, inteligente e responsável.
Hoje no dia do seu aniversário, afirmo que minha saudade virou orgulho e que meu coração (assim como a porta da minha casa), estão escancarados para a essência e o amor da minha eterna Manuella.
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O que é sucesso para você?
Sucesso é subir no topo de uma montanha e apreciar o que ainda resta do que Deus nos reservou, abrir um sorriso largo e refletir sobre as pontes que construímos, as pessoas que beneficiamos, e sobre o direito de ir e vir sem culpabilidade consciente.
Ter a certeza de que o mar não vai nos engolir, pois alcançamos o ponto mais alto que poderíamos chegar com as armas que temos: nossa evolução, seguida de uma persistência que concilia resiliência e propósito.
A bagagem acumulada e dividida até a nossa partida vem da nossa persistência: tanto nas vezes que ganhamos e aprendemos, como nas vezes que perdemos e também aprendemos. Em todas as ocasiões, APRENDEMOS, e este aprendizado não precisa ir conosco para o túmulo.
Este acúmulo de experiências positivas e negativas vai nos tirar - em parte - do ciclo virtuoso de tentativa e erro. Tentaremos e erraremos cada vez menos, e aí nos questionaremos muito:
Por que melhoramos à medida que envelhecemos?
Por que demoramos anos para entender que as glórias e as infâmias não são eternas?
A resposta para todas as perguntas é: CICLO!
Se a vida é um ciclo, ora estaremos por cima, ora por baixo, e a sabedoria vai permitir que este círculo virtuoso traga mais glórias que infâmias.
Se partirmos do pressuposto que a vida começa aos 50, eu por exemplo, tenho pouco menos de 1 ano para acumular toda a bagagem que puder. Assim, pretendo glorificar minha reta final com aquele último gás de persistência, resiliência e propósito.
Por que farei isso? Para que minha paz silenciosa se torne o barulho das guerras que constroem ao invés de destruir.
Sempre fica a sensação de que deveria ter tentado mais, de que deveria ter dado mais uma chance. Mas como tudo na vida, isso também vai passar.