Bairro
Dinheiro é mansão no bairro errado, que começa a desmoronar após dez anos. Poder é o velho edifício de pedra, que se mantém de pé por séculos. Não respeito quem não sabe distinguir os dois.
(Série House of Cards)
Me perguntaram para que um ateu comemora o Natal. Ora, pelo mesmo motivo dos cristãos... Para comer, beber e ficar batendo papo depois da meia noite.
De repente, estou só. Dentro do parque, dentro do bairro, dentro da cidade, dentro do estado, dentro do país, dentro do continente, dentro do hemisfério, do planeta, do sistema solar, da galáxia — dentro do universo, eu estou só. De repente. Com a mesma intensidade estou em mim. Dentro de mim e ao mesmo tempo de outras coisas, numa sequência infinita que poderia me fazer sentir grão de areia. Mas estar dentro de mim é muito vasto.
Devemos expandir o círculo do nosso amor até que ele englobe o nosso bairro, se desdobre para a cidade, o estado e assim sucessivamente até o objetivo do nosso amor incluir todo o universo.
o desespero de amar alguém que não te faz bem é tão grande que chega a sufocar.
o peito pesa, afunda, arranha.
te amei com todo o meu ser enquanto jogava toda a minha essência no lixo só pra servir no molde que você montou pra mim.
cansei.
cansei de tentar ser quem não sou para agradar alguém que não se importa.
por que essa necessidade de mudar alguém se todos somos diferentes?
não consigo acreditar que habitei tanto tempo na sua atmosfera tóxica.
se eu te dissesse que não penso em você todos os dias,
eu mentiria.
se eu te dissesse que vai ser assim pra sempre,
eu mentiria também.
[...] passei o dia andando pelo bairro. Cheguei a pegar meu velho trenó e meu velho cachecol. Há algo de confortável nisso para mim.
Subi a colina onde costumava usar o trenó. Havia muitas crianças ali. Eu fiquei vendo elas voarem. Dar saltos e apostar corridas. E pensei que todas aquelas crianças um dia iam crescer. E todas aquelas crianças iam fazer as coisas que nós fazemos. E todos eles beijarão alguém um dia. Mas agora andar de trenó era o bastante. Acho que seria ótimo se bastasse um trenó, mas não é assim.
Dois loucos no bairro
Um passa os dias
chutando postes para ver se acendem
O outro as noites
apagando palavras
contra um papel branco
Todo bairro tem um louco
que o bairro trata bem
só falta mais um pouco
pra eu ser tratado também
A FOFOQUEIRA (Crônica de Humor)
Durante três dias, Raquel, a fofoqueira do bairro, observou a vizinha Valéria que morava na casa antiga, na frente da sua. Rua sem saída. Os vizinhos comentavam que Valéria havia enlouquecido.
Fazia três anos que perdera o marido e um ano da morte da mãe. Valéria passou muito tempo de luto e tristeza. Dois meses atrás, havia se aventurado numa viagem turística ao Nordeste, junto com uma prima. Voltou de bom humor, mas nos últimos dias falava sozinha, gesticulava, ria... Teria alguma visita?
Nesta tarde de sábado, Valéria ria muito.
- Ela enlouqueceu!.. - gritou Raquel. - Venha, querido, venha e olhe... O marido relutou um pouco, mas como a esposa continuava: Venha... venha... ele deixou o jornal e levantou-se, com dificuldade, da poltrona onde estava esparramado. Aproximou-se da janela. Olhe lá, olhe, João, parece que está falando com alguém.. mas Valéria está sozinha desde que a mãe morreu. Falarei com ela. Talvez precise de um médico... de um psiquiatra... de terapia...
Raquel pegou o telefone: - Olá,Valéria? Você está bem?
- Feliz com meu noivo nordestino – respondeu rindo Valéria.
Raquel, curiosa, continuou a espiar pela janela. Querido, venha, venha ver... venha, por favor... O marido novamente deixa o jornal de lado e se aproxima a passos vagarosos até a janela.
- Olhe, disse a mulher... Valéria fala e ri... sozinha....
- Sozinha, não! Com seu noivo imaginário, ironiza o marido. Volta a sentar-se na poltrona e pega o jornal.
- Eu vou falar com ela – enfatiza Raquel.
Minutos depois, Raquel aperta com força a campainha. A porta se abre.
– Este é Armando, meu noivo... - grita Valéria da cozinha. Só nesse momento Raquel repara no anão de pijama azul, na ponta dos pés, segurando-se na maçaneta da porta. Sorridente, o anão a convida a entrar. Raquel fica paralisada ao lado da porta.
Armando insiste. - Sente-se, vizinha, pode pegar um pedaço de bolo. Eu mesmo fiz...
- Aqui está o chá mate!... – disse contente Valéria.
Coloca a chaleira na mesa, agacha-se e abraça o anão. Ele, sempre sorridente, dá um beijão na boca da namorada. Depois sobe na escadinha que está ao lado da mesa e serve um pedaço de bolo para dona Raquel.
Raquel, sem palavras, senta-se na cadeira e pega o pratinho com o bolo, acanhada, não sabe o que dizer. Os três ficam em silêncio.
Raquel, tentando ser agradável pergunta: - É bolo de laranja?
No dia seguinte, Raquel falava com Adelaide, a velhinha do sobradinho amarelo, quando vê passar, Valéria, de mãos dadas com Armando. Os dois, sorridentes, cumprimentam e continuam seu passeio.
Sem poder conter-se, Raquel murmura para Adelaide: Como ela pode sair com um homem tão pequeno?
A velhinha, muito jocosa, emenda: Segundo ouvi dizer, Armando é pequeno só de estatura, dona Raquel, só de estatura...
Você já teve o privilégio de faltar energia elétrica em seu bairro, em uma noite estrelada de lua cheia? É lindo! O único problema mesmo é um possível ataque de um lobisomem. Mas, tirando isso...
Nada como caminhar de volta pra casa de manhã. Vendo seu bairro acordar. Se sentindo especial como os mendigos. Chapado. Feliz e ignorante.
Quando você se aprisiona em algo que aconteceu no seu passado, pode mudar de carro, de bairro, de cidade e até de país, continuará carregando dentro de si as questões mal resolvidas. Arrastar correntes, carregar fantasmas, viver preso no contexto de um tempo que já mudou só faz com que você se confunda o tempo inteiro. Às vezes é melhor enfrentar e reconhecer que é preciso deixar o que passou para trás e abrir espaço para que novas nuances venham colorir seus dias, do que ficar tentando mudar do lado de fora o que não se é capaz de mudar do lado de dentro.
O passado pode ser uma das piores prisões.
De noite, o estampido seco dos tiros
o grito de desespero
os corpos dos jovens caídos no chão.
De manhã, o silêncio profundo
o medo
a apreensão.
Vocês viram algo?
Ninguém viu nada não moço!
Ninguém viu nada não.
Fragmento do poema:
"O grito que ecoa da quebrada"
[...]Liberta a tua mente e segue, vai em frente
vai ver quem é a gente que você olha atravessado
quando para no semáforo e ergue o vidro apressado
observa com cuidado quem é o pretinho que tu olhas desconfiado
e aperta o passo quando ele passa ao seu lado
com a barriga vazia, com os sentidos embaralhados - de tanta fome.
Enxerga o estilo dele e entende de uma vez por todas...
Que esse é o estilo que faz sucesso por lá.
Descobre a palavra de ordem dos (marginalizados)
que você marginaliza ao julgar
e grita alto aos quatro ventos quando descobrires
da sua varanda ou de seu terraço milionário invocado.
O grito que ecoa da periferia é...
Mais respeito, por favor!
Pois já estamos cansados.
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