Azar
Não acredita na sorte nem de espaço para o azar, quem trabalha alcança os ideais sem questionar os dias melhores.
<Trevo de quatro folhas>
Plantei minha alma num vaso de escuridão,
regando as dores mais inquietantes do meu silêncio.
Sofri calado por vidas karmicas inteiras,
a solidão roubou-me tudo, até a tristeza.
Regava meus lamentos três ou quatro vezes por semana,
num esquema de água fresca na nuca quando o mundo parecia querer cair,
sol quente nas costas quando não sabia aonde ir
e muita conversa ao pé dos ouvidos dos meus trevos da sorte
sempre que eles estavam tristes.
Plantei minha sorte em um vaso raso de terra preta muito fértil
e de brotos dores muito prósperos.
Sequei, chorei, quase parti, mas não morri de inanição.
Reergui-me e, resiliente, hoje floresço trevo de quatro folhas.
Tá reclamando da minha roupa
Tá reclamando do meu beijo
Cheio de água na boca
Tá morrendo de desejo
Eu sei que o meu corpo te incomoda
Sinto muito, o azar é seu
Abre o olho, eu tô na moda
E quem manda em mim sou eu
A vida
De todos os caminhos possíveis
escolhi andar por este que sigo agora...
...mesmo cheio de pedregulhos e surpresas
mesmo sinuoso e repleto de incertezas
esse foi o caminho que escolhi trilhar.
Escolhi meu norte a partir do descaminho
a princípio escolhi caminhar só, só eu, sozinho
e agora vem você... cheia de desvios e atalhos
cheia de planos, cheia de teorias e possibilidades
cheia de ideias práticas, confrontando minhas teorias absurdas
questionando-me e ao meu vazio.
De todos os caminhos possíveis, em um leque de tantos outros
tinha que seguir logo por esse?
Ser esse tsunami que és?
E ser versada em tantas possibilidades?
Tinha que seguir a minha sina, como se sua fosse?
Viver o meu Karma, como se seu fosse?
Carregar a minha cruz, ainda tão pesada
como quem carrega a própria cruz?
Transformar-se em elemento indissociável às minhas escolhas
e tão indispensável como o próprio caminhar?
E agora, toma para si também a rédea da situação, me domina
como se tivesse a minha autorização
como se tivesse uma procuração assinada em meu nome
- e ainda em branco - te autorizando a fazer o que bem entender.
Me conduz feito mais um da sua manada pessoal
mais um dos tantos outros desgarrados de seu rebanho
faz o que queres comigo, e já até me faz sentir que gosto do que vejo
que gosto de no que você me transformou.
Quem escreve tenta se convencer do que sempre escreveu.
Quem chora tenta se convencer que nunca sorriu.
Assim como quem sorri se convence de que nunca chorou.
Você é apenas o sentimento que te inspira...
Assim, quem respira, jamais tem medo de se afogar;
Quem tem sorte, não tem medo do azar;
Quem ama, vive o medo de sofrer.
Quem nunca se apaixona sofre, antes, o medo de viver.
Assim tu és apenas o sentimento que te inspiras...