Zuenir Ventura
A inveja é um vírus que se caracteriza pela ausência de sintomas aparentes. O ódio espuma. A preguiça se derrama. A gula engorda. A avareza acumula. A luxúria se oferece. O orgulho brilha. Só a inveja se esconde.
Costuma-se exaltar a cabeça como fonte da razão e denunciar o coração como sede da insensatez, como músculo incapaz de ter autocrítica e de ser original. Que seja assim. E daí? Nada pior do que uma idéia feita, mas nada melhor do que um sentimento usado. A cabeça pode gostar de novidade, mas o coração adora repetir o já provado. Se as idéias vivem da originalidade os sentimentos gostam da redundância. Não é por acaso que o prazer procura repetição!
Jornalismo e literatura são irmãos gêmeos que nasceram muito diferentes e que hoje são mais parecidos do que nunca.
Curiosamente, só na metade é que a década de 80 resolveu mostrar que tinha algo de novo a oferecer: estávamos caindo na democracia. E nada mais dava trabalho do que ser plural e aceitar o outro - não o igual ou o semelhante, mas o oposto. A primeira lição do ano era, portanto, a de que a democracia não é consenso, mas dissenso. Em termos de opinião, todos só são iguais perante a ditadura. Na democracia, tudo é diferença. (Minhas Histórias dos Outros, São Paulo: Planeta, 2005, p. 140)
A inveja não é você querer o que o outro tem (isso é a cobiça), mas querer que ele não tenha, é essa a grande tragédia do invejoso.
Se a inveja produz tanta perda de autoestima, então o melhor remédio é a alter estima, a estima do outro, o amor, o afeto, a amizade. O amor a você mesmo e aos outros. É o que cura a inveja.
A pessoa deixa de realizar o seu potencial, consumida que fica pela inveja. E quase sempre a razão da inveja é imaginária, porque, como a inveja traz esse sentimento de inferioridade, você se sente o pior dos seres, o mais desprotegido, o mais carente de qualidade.