Yrto Mourão
Nos pararelos
Por todas as linhas
Paralelos estamos
Do trem que não chega
Ao celular que chama
Da pipa que empina
À vida que prossegue
Do destino, do porvir
Da palma da mão
Que em outra descansa
Do contorno facial
Que remoça, envelhece
Minhas linhas tão suas
Retas, tortas, sinuosas
Ao seu lado traço
Uma vida toda em duas
Seus rabiscos, meus riscos
Entrelinhas o que somos
Por desejos sublinhados
Desígnos alinhavados
Talvez viremos distância
Talvez circulos viciosos
Ou triângulos amorosos
Por agora nos pararelos
Dos universos nos encontramos
Brindando com fantasmas
Com fantasmas eu faço um brinde
Aos meus carmas, no banco dos réus
Aos pássaros raros que caminham
Suas asas caindo dos céus
Consegui alcançar as estrelas
E em minhas mãos apaguei fartos brilhos
Neste breu, sob a chuva das almas
Choro seco ao descer os meus cílios
Quanto aos pássaros, vultos de sonhos
Ainda cantam subindo nas árvores
Mas seu canto não quebra o feitiço
Entalhado nos frigidos mármores
Por vocês, meus fantasmas de hoje
Que por ontem assombram o amanhã
Cato as penas das asas caídas
Numa cela de esperanças vãs
"De que nos serve ter asas
Se não as podemos bater?
Uns com medo das alturas
Outros com alturas de medo
E tem aqueles que odeiam voar
Somos anjos que não sabem ser
Somos humanos que não sabem crer
Somos pequenos que não sabem crescer
E ainda assim, possuímos asas
Imensas asas que não conseguimos ver."