Nuvens inquietas
sobre o lago
zen.
Inúltil. A gaiola
nunca aprisiona
as penas do canto.
Noite no jasmineiro.
Sobre o muro,
estrelas perfumadas.
Angelus. Dedos da brisa
nas teclas das folhas
adormecem os pássaros.
Ah! claro silêncio do campo,
marchetado de faiscantes
pigmentos de sons!
Branco instante
entre verde e azul:
garça ou pensamento.
Algo de dança
nas algas,
quase canção dos corais.
Jornal
sobre a mesa:
desjejum amargo.
Lavadeiras de beira-rio.
Nas águas, boiando,
cores e cantos.
Flauta,
cascata de pássaros
entornando cantos úmidos.
Caminha a folha
morta,
pálio sobre formigas.
Sino de bronze
neblina em prata
ouro preto.
Recanto úmido.
A pedra
e seu delicado capote verde.
Camisas alegres
gangorram agosto
no varal.
Sob o caramanchão
o céu,
noturna renda.
De púrpura, seu mergulho
no aquário. No coração,
o mais antigo azul.
No porta-retrato
um tempo respira,
morto.
Gaivota. Espuma instável.
Líquida turquesa: inunda os olhos
a marinha na parede.
Pássaros em silêncio.
Noturna chave
tranca o dia.
Manchas de tarde
na água. E um vôo branco
transborda a paisagem.
Um marcador japonês
no livro de hai-kais
? silencioso conluio.
Caravelas brancas
navegam no ar
o nunca chegar.
Recolhida em si mesma
a alma do figo
é flor em za-zen.
O grito do grilo
serra ao meio
a manhã.
Riacho de pedras
rua dos peixes
rastros de platina.