Xuxa Meneghel
O que vi da vida
Eu vi o que poucas pessoas puderam ver.
Eu senti o que poucas pessoas puderam sentir.
Eu vivi o que pouquíssimas pessoas puderam viver.
Eu vivi o amor verdadeiro.
Eu acho que poucas pessoas viram ou viveram isso.
E as outras coisas que vi e que eu não gostei, parece que eu vi um filme, parece que eu não vivi.
Então, eu deixo só as coisas boas que eu vivi e que foram muitas.
Minha mãe disse que quis deixar registrado, ao me chamar somente de Xuxa, que eu sou única. Tenho certeza de que, ao me chamar assim, ao lutar pelo tal nome único, ela traçou, também, um destino único para mim.
Nós, vítimas, não queremos falar sobre o assunto. Acho que aprendemos que “sempre existe um culpado”. E eu me sentia culpada. Sentia culpa simplesmente por existir.
Perdi as contas das vezes que chorei, muitas delas na frente do espelho, pois, quando me olhava, só conseguia enxergar os defeitos que os outros apontavam – que, na verdade, não eram defeitos.
Eu faço parte do imaginário, da memória afetiva, do momento mágico das pessoas. Para muita gente eu ainda sou aquela que descia da nave de chuquinhas, a intocável, a quase E.T. Rugas não combinam com isso. Deve ser horrível me ver despencando como um ser normal.