WilliamLima
Fúnebres Recordações
A frieza tomou tamanha soberania sob meu coração
Que não me lembro como é viver sem ela
Não me lembro qual a cor da vida
E dos pássaros, esqueci o canto
Das rosas, me lembro apenas de espinhos
Dos sabores, lembro-me do fel
Das águas, lembro-me da fúria
Das alturas, lembro-me da queda
Do amor guardo somente ilusão
De minha juventude restou o egoísmo
De minha sabedoria só há insanidade
De meus feitos destacam-se as falhas
Do sentimentos só restou-me rancor
Dos parentes sobrou-me a solidão
Dos amigos sobrevive a embriaguez
Dos meus filhos, primogênita é a loucura
Da vida aguardo ansiosamente a morte
Da luz desejo somente escuridão
Apesar de vivo, morto estou
Esperando o último suspiro
Assasinato
Posso sentir ela me mordendo
Mastigando com seus dentes afiados
Sentindo meu gosto amargo
Engolindo me aos bucados
Posso sentir ela me esmagando
Pressionando-me lentamente
Aos poucos me devastando
Com seu olhar inclemente
Posso senti-la me olhando
Com seus olhos arrasadores
E seu riso pelo meu abandono
E meus incessáveis tremores
Vejo seu dedo acusador
Em minha direção
Causando me o pudor
E auto repressão
Senti suas mãos sufocarem
Minha fé e razão
Senti seus punhos acertarem-me
Em cheio de antemão
Por ela fui assassinado
Imperiosa e cheia de maldade
Fui friamente esfaqueado
Por nossa podre sociedade
Janela
Uma nuvem cinza surgiu em minha janela
Cinza de dor e sofrimento
Trazendo memórias de um tempo
Em que a vida não era tão bela
Uma fria gota de chuva respingou em minha janela
Esfriando, cessando as batidas do meu coração
Atenuando minha respiração
Agravando minha agridoce mazela*
Será que a tempestade irá passar?
Será que o tempo irá se abrir
Ou irá apenas me iludir
Não irei a ele me apegar
Como se não bastasse o temporal
O frio vem me visitar
E eu pelo calor a desejar
Padeço de forma imparcial
Um raio de sol bateu em minha janela
Porém tarde de mais era
Em vão foi minha espera
Quebrada está a janela
*mazela: chaga, ferida, doença