Webert Gomes
O sofrimento pode ser comparado a um prato amargo, disposto à mesa do mundo. Rico em nutrientes, muito consumido, mas pouco saboroso.
Definitivamente, não sou deste mundo. Não sei de onde vim. Não sei pra onde vou. Só sei que um dia irei embora.
Já houve olhos que me encantaram. Mas no escuro não pude vê-los. Não ouvi nenhuma voz, pelo o que o silêncio quebrou o encanto.
Porque pensar me é como respirar. Posso respirar, mas não existir. Mas jamais poderei existir sem respirar.
Ser feliz é um ato puramente interior. Só acontece dentro de nós. E o que há fora não passa de um resto de nada.
As formigas desamparam-se sem o feromônio no trajeto, os humanos não se encontram no som da própria respiração.
Só posso ser o que já sou. O que não sou não faz referência a mim. Tão óbvio, mas tão pouco levado a sério.
Ao passo que silenciar-se é a estratégia dos fortes, o grito é para os desesperados. Há instantes em que grito. Só que ninguém ouve.
Sou tão inaudível quanto este meu silêncio insólito. Ouça-me por minhas palavras. A menos que seja surdo quanto ao que eu não digo. Pois me ouvir já nem se trata de uma tática auditiva. Passa-se a ser uma virtude, característica de quem me sente sem me ver, sem me ouvir.
Não acredito em todas as minhas verdades. Ainda que eu mesmo as diga, fico a uma certa distância de mim e de tudo o que falo.
Torno-me eu no instante em que me conheço um pouco mais. Talvez por isso é estranho me ser. Sou o que ainda nem conheço.
A poesia pode até manchar de sangue amarelo o quarto da Condessa que não existe. Que importa, pois? Tudo passa a existir, apenas por ter sonhado inventar.
Não temer é medida essencial para alçar vôo. Até os pássaros encaram a altura um dia pela primeira vez.
'Boa noite' é uma forma simplificada de dizer 'amo-te' antes que os olhos se fechem e reste só a incerteza da aurora.