Waldo Gomes
EM DESESPERANÇA
E quando você descobre que está só ...
quando o momento do sonho futuro passou,
quando viu que seu futuro não chegará.
Sente seu peito amargar num grito de vento ...
vê a escada descer sempre, não vê os degraus,
não vê o fim, só o inútil descambar até um fim.
O que adianta tanta dor...
pra que serve tanto buscar se nada encontrou,
e agora você percebe que nem andou errado, cambaleou somente.
Mas o tempo passou, não há mais tempo...
o amor que você magoou lá distante está cortando agora,
sua família e você não são mais, seu riso é falso.
E quando você descobre que está só ...
....................... Mais um.
Era um sopro:
o toque no seu cabelo,
o lábio na sua pele,
o sonho na noite.
As palavras que ouvia,
as promessas não ditas,
a tensão do encontro,
o silêncio do abraço.
A lágrima na suspeita,
a gota da dor imaginada,
o manto do suspiro e
o aconchego da nossa chuva.
Foi sopro,
foi brisa,
agora passou,
não vingou ventania...
adeus !
Escrever...
Em gestação a lágrima se peroliza,
remoendo-se em si.
Assim a palavra me angustia,
ansiosa por se formar e sair.
Sabemos que não está pronta,
ainda falta um tanto de vida.
Mas quem a pode dominar ?
Portanto, aos pedaços e escura
ei-la nascida contente consigo.
Eis-me atônito buscando o brilho
que ainda não há ou sequer haverá!
Incompleta...
- Ainda gota -
Quantas gotas debaixo da ponte...
onde a água passou há tanto e ainda passa ?
Quantas vidas até ser de novo água ?
Muitas vezes não quis ser gota, nem me via assim...
preferia ser a madeira, o concreto da ponte,
suportar e não ser suportado...
mas de nada adianta esse meu querer...
Sempre o mesmo e triste trajeto.
Porque não me busca essa corrente abaixo de mim ?
Não aguento mais esperar preso nessa corrente.
À senhora,
Quero pedir seu perdão...
não amei o tanto que podia,
não me dediquei um minuto a mais
da obrigação.
Gritei contigo, às vezes alto, outras calado...
não entendi sua vida.
Rasguei seu ventre mais de uma vez,
fiz sangrar outras tantas...
E não ouvi uma só maldição,
sempre encontrei sorrisos à tarde,
que derrubei todos ao chão.
Desejei outras casas, outros lares,
Ri-me da sua dificuldade,
do seu jeito humilhado...Joguei-te na face minha instrução.
Mas recebia elogios de orgulho por minhas conquistas
que na verdade, eram tuas, fruto de suas mãos.
Desejei-te ausente diversas vezes,
eras-me pedra e preocupação...
até que um dia, ainda satisfeita com teu produto,
foi-se e na última hora quase, pediu-me desculpas na solidão.
Durante muito tempo ainda, continuei sem entender e a odiar-te,
sem motivos claros, sem suspeitas de crime...
E então, como um caminho de pedras no meio da mata,
voltei em meus passos contra ti, cada ato, cada olhar...
fiz-me em tiras de sangue...
Tudo o que tu fez foi me amar, mais que tudo o mais,
eu não era digno desse amor:
Mãe, me perdoa, por favor !
Doença
Não foi nada não, um jeito de mal dormir,
passa logo, até que passou mesmo...
passou a não existir !
Cinismo.
Não amo ou sou amado, não são amadas nem amam...
mesmo assim vivo de amores esquinais...
gorgeantes, multicores, úteis e plurais.
Entre esses momentos haverá um dia um fim ?
Não o creio, seria quase extinguir o frio...
aparar a queda ou encher o cálice em mim.
Mas se acontecer e essa alma me encontrar,
por favor fuja rápido e não pense nisso mais...
Eu a sufocarei se ficar, querendo em você... todas as demais.