Vivi Black
Um homem de verdade ao plantar uma flor no coração de uma mulher. Ele poda, rega, limpa suas petala, e espera calmamente que ela floreça.
Daqui a algum tempo, para nos tornarmos robôs, faltará apenas trocar a pele por lata. De resto, já estamos bem parecidos.
Alguns fazem de tudo para tentar esconder os próprios defeitos. Porém, o pior defeito está em não aceitar-se como se é, verdadeiramente.
Não fosse para fazê-la encontar-se dentro de si,
por quê então elevou-a até o firmamento, fazendo-a conhecer o melhor, quando deveria ficar na pior?
Por quê a fez sentir-se pisar em nuvens, se logo depois tornou-se pra ela como tempestade, carregando tudo ao seu redor?
Desaguastes nela os mares do silêncio, com a inconstância de quem já não via a insensatez, nem a forma compartilhada. Forneceu apenas o teu querer, e em troca destes o caldo amargo do teu fardo pesado.
Penetrastes fundo na coerência. E horas mais tarde, num descaso fingido e parcialmente forçado, sugou-a como um canalha.
Ela desejava desaguar em ti os mares de amor sublime da qual não teve anteriormente a tua chegada.
É quase como uma frase não dita, exalando injurias e sofrimentos injustificáveis a olho nú. Tentando amenizar o próprio erro, nas tuas insinuosas intenções.
Não vale ter se não for pra ser. Pois o que realmente ela precisa, é ser feliz.
A música chega em meus ouvidos como um sopro de liberdade, como a onda que penetra a areia e depois volta para o mesmo lugar.
Me sinto parte de qualquer nota, qualquer dor, qualquer saudade, qualquer amor..
Ao abrir um livro me lanço por entre suas páginas, engulo os sonhos, os amores, todas as dores, os sabores. Viajo pelos lugares, pelas cidades, pelas paredes, pelos cantos, nos descasos, nos descansos..
Sinto gosto de lágrimas, de prazer, de uma dor que não é minha e que já não pertence a ninguém.
Mas ao fazer amor confundo tudo. Jogo as páginas nos cantos, engulo os sonhos. Te devoro pelos poros e por todos os lugares.. Te toco em qualquer nota, me lanço por entre suas pernas e engulo todos os teus desejos.
As vezes é preciso voltar.. E eu sempre volto.
Por onde andas que já não me encontro em ti ?
Por quê adormeceu nossos sonhos, deixando nossos desejos partirem como quem foge do nada?
Volta para o refúgio dos nossos pensamentos..
Quero estar ai dentro como abelha no mel
Quero tua lua, teu céu, e a fragãncia do inicio
Quero o olhar que foi meu, e a boca que era minha.
Onde ela está?
Quero te reencontrar ..
Pois um dia tu fostes, inesquecível.
Quando você espera de mais dos outros, você se decepciona. Porém, quando se doa sem esperar nada em troca. A vida te surpreende.
Não seja você em pessoa, a realização do sonho de consumo de alguém. Depois que você preencher o ego deste alguém, ainda assim ele continuará com o mesmo vazio na alma.
"E certamente não escolherá você a preencher este vazio".
Árvore da vida
Lembro-me de quando ainda recebia comida no bico, só ficava ali, esperando.
Quando sentia fome era só chamar. E voz pra isso não me faltava. Gritava aos quatro ventos até conseguir o que queria. Logo era atendida.
O calor das asas dela aqueciam meu inverno e me trazia paz.
"Lembro-me de como eram altas as árvores, dos perigos que me rodeavam e das vezes em que quase cai"
Certo dia olhei para o lado e só avistei minhas próprias asas, ela havia partido, porém, sem ensinar-me a voar.
Não sei o que aconteceu, só sei que não a vi mais. Nenhuma resposta.
A muito tempo brotava em mim uma vontade louca de desbravar o mundo, voar cada vez mais alto, indo a lugares jamais descobertos. Observava os outros voarem, quando caiam alguém os juntava e os acolhia. "Perfeito como deveria ser"
Assim, sozinha. Aprendi a voar.
Joguei-me ao orizonte sem medo, descobri muitos segredos antes escondidos, passei fome. Lutei contra a morte, contra a dor, virei cinzas, renasci.
Busquei no inconsciente minha pluralidade. Tive raiva. Amei. Estraguei. Concertei. Sobrevivi.
Em pouco tempo já era respeitada pelo bando. Talvéz pelo meu desempenho e superação.
...
Comia apenas as boas frutas. As podres eu nem mexia.
...
Pousava apenas em arvores seguras, avistava as raposas lá de cima..
...
Os gaviões tentavam me devorar, mas eu tinha boa percepção e escapava com agilidade. Nunca os provoquei, apenas me mantive distante deles.
...
Passei anos voltando no mesmo lugar, aprendendo, reciclando. Nunca a esqueci.
Até que em um inverno quaquer ela voltou, tão diferente da ultima vez...
Haviam cicatrizes em suas asas e seu semblante era sofrido.
Abri as minhas, relembrando alguma coisa do passado, o amor. Porém sem entender aquela doação. Ela, em troca, quis oferecer-me seu tudo, mas eu já tinha.
Quis me mostrar o mundo, mas eu já conhecia.
Ao perceber que nada adiantava, por fim, tentou cortar minhas asas. "Não sou pássaro". Respondi. Logo depois, vooei tão alto, até sumir por entre as nuvens.
Sempre que volto a vejo no mesmo lugar.
..
..
..
A sua sinceridade só fará inimigos, quando ela mexer com aquilo que o outro inconscientemente, esconde dentro si.