Vinicius Rodrigues
Quando eu pensei que estava tudo acabado...
Percebi que só estava começando, e eu teria que enfrentar aquilo e levar a vida adiante.
Ás vezes acontecem coisas na vida da gente que nos machucam e nos ensinam a viver. Por isso se algo ou alguém te humilhou ou te machucou, faça como o Sol: 'Apenas espere o dia seguinte para brilhar mais uma vez'.
A amargura de um sorriso falso me levou a decadência. Bastou um olhar e me vi preso nesse espelho que já foi banhado em lágrimas... Malditos olhos. Consigo ver tudo que fiz. Queria gritar, gritei, por dentro. Queria chorar, chorei, por dentro. Queria morrer, morri por dentro. A única coisa que eu não queria era ver em seus olhos todos os horrores que me assombram.
Já passou da hora de colocar tudo que me lembra você na caixa do esquecimento e enfia-lá no fundo obscuro do guarda-roupas até ter coragem de jogar fora…
As coisas mais simples da vida são, de fato, as mais bonitas. As mais extraordinárias, as mais desejadas.
Um beijo, um abraço, uma gentileza. Saudade, vontade. Lembrança.
O irônico é que em tudo nessa vida existe uma complexidade infinita.
Em um beijo, existem duas mentes extremamente complexas, e, por vezes, bagunçadas, atraídas uma pela outra, dentro de corpos que se unem com os lábios.
No ronronar de um gato existe um cenário, um contexto, no qual o animal se sente confortável para fazê-lo.
Para existir uma saudade também é preciso existir a angústia de um tempo ruim, assim, valorizamos o tempo bom e a consequência é saudade.
Que demos valor as coisas simples da vida mas sem sermos ignorantes a sua absurda complexidade.
Sobre as linhas invisíveis que tecem a roupa de nossos destinos;
Roupas tortas, trapos rasgados. Feios.
Costurados um dia por mãos tão habilidosas com a agulha, capazes de juntar aleatoriedade em forma, em moda.
Vestimos um ao outro com as almas e usamos nossos sonhos acessórios.
Até que, no final, nós cansarmos de nos usar, para aderir a uma nova tendência, mudarmos de estilo. Doarmos. Entregar aquilo que um dia nos serviu tão perfeitamente para outro usar (ou jogar fora).
Queria lhe vestir por muito mais tempo.
Quando eu pensei que estava tudo acabado...
Percebi que só estava começando, e eu teria que enfrentar aquilo e levar a vida adiante.
O que eu deixei de perceber foi que a vida adiante é cheia de surpresas. E a única coisa que acabou, foi uma fase.
noite negra;
a lua me trazia amor, conexão.
marcado em minha pele, como você em minha mente.
depois me trouxe tristeza, melancolia.
marcado em minha pele, como você em minha dor.
hoje não me trouxe nada.
marcado em minha pele, como você em meu passado.
minha lua foi embora assim como você.
paradoxo do simples;
as coisas mais simples da vida
são, de fato, as mais bonitas,
as extraordinárias, as mais desejadas:
um beijo, um abraço, uma gentileza,
saudade, vontade, lembrança.
e na ironia do cotidiano,
em cada ato, uma complexidade infinita:
um beijo, onde dançam duas mentes,
extremamente complexas e às vezes bagunçadas,
atraídas, unidas pelos lábios.
num suave abraço,
um universo se revela:
o conforto que cria a música,
um cenário onde tudo se encaixa.
e a saudade?
ela exige a angústia de um tempo ruim,
para que possamos valorizar
o brilho dos momentos bons,
e assim, sua ausência ecoa em nós.
que possamos dar valor
às coisas simples da vida,
sem ignorar sua absurda complexidade,
pois é nela que reside a beleza,
na dança sutil entre o simples e o profundo.
erros;
bastou um olhar e me vi preso
neste espelho ocular que banhei em lágrimas.
malditos olhos.
em frações de segundo, vi tudo que fiz.
a única coisa que não queria
era ver, em seus olhos, a minha imagem.
um sorriso amarelo, uma despedida,
mergulhado em remorso,
um lembrete de que eu erro.
queria gritar; gritei, por dentro.
queria chorar; chorei, por dentro.
queria morrer.
morri, por dentro.
para nunca mais nascer de novo.
ódio;
quero brigar.
te nocautear com um abraço,
te cobrir de porradas de amor,
quebrar tuas costelas com cócegas,
rasgar tua pele com carinhos,
te asfixiar com um beijo,
te matar de afeto.
eu te odeio.
reticências;
algum dia, em um supermercado,
vamos nos encontrar,
eu escolhendo um vinho,
e você, frutas.
comentaremos sobre a vida,
sobre como tudo mudou com o tempo,
como éramos imaturos,
e as chances que perdemos.
te olharei com um olhar triste
e um sorriso meia-boca,
feliz em saber que você está bem,
mas direi que preciso ir,
enquanto olho para baixo,
para o meu carrinho.
personificaremos reticências,
eternas reticências.
pra sempre...
...
ensinamentos do céu;
algumas coisas na vida
nos machucam,
mas ensinam a viver.
se algo ou alguém
te feriu, observe o céu.
de dia, veja que o sol
brilha de novo
a cada amanhecer.
de noite, a lua,
apesar de suas fases,
sempre cresce.
armazenando lembranças;
passou-se o momento
de colocar tudo que me lembra você
na caixa de sapatos do esquecimento
e enfia-lá no fundinho escuro
do meu guarda-roupas.
só por tempo suficiente
para eu esquecer
essas memórias.
quando decidir organizar
as minhas coisas,
abrirei a caixa,
reviver cada fragmento,
cada riso, cada dor.
decidir se te dou
ou se te jogo fora,
pois você não pode morar
aí pra sempre.
talvez, um dia, eu consiga
libertar essas lembranças
e deixar que o espaço
se encha de novas histórias.
(re)nascimento;
os erros que cometi,
as pessoas que machuquei
por que?
ser uma boa pessoa pra uns
quebra outros?
poderemos viver em paz?
aguentaremos o peso?
de sermos mal vistos?
incompreendidos?
seguir um novo caminho,
andar numa nova estrada.
significa deixar a estrada
que você conhece tão bem
pra trás.
matar o seu antigo eu,
e nascer de novo.
esse eu meu enterrado,
pisava em cacos de vidro,
caminhava em círculos,
afundava em velhas culpas.
enquanto meu novo eu
rasga seu fétido casulo
na esperança de ter asas
e que essas asas carreguem
o peso de quem já fui
enterrando o que fui,
vejo minha própria lápide,
os amigos que perdi,
jamais virão me visitar.
caminhos quebrados;
acho até que perdi
o meu caminho,
eu conheço essas árvores,
esse caminho de vidro,
que se estilhaça
sob meus pés cansados
pensei que caminharia
para frente,
mas me encontro
andando em círculos.
não quero voltar,
repito ciclos
sonho alto,
fico no chão.
onde estão as asas
que me prometeram
quando eu era
criança?
procurei em sonhos
mas encontrei em correntes
nas sombras de quem sou.
onde foi minha liberdade?
se estou preso
em mim.
trauma;
o que passou
deixou noites em claro
ódio, raiva —
como isso faria alguém mais forte?
não, só me deixou pior
sentimentos que não escolhi
fermentando em mim,
hoje me assombram
como maus presságios
o que me fez mais forte
foi me arrastar para longe,
rastejar até o último pingo de felicidade
que me restou
e esse mesmo pingo
todos julgam como erro,
como maldade —
como me fortalecer
se estou cercado por traições?
bifurcações
ao seu lado, trilhei essa estrada,
repleta de curvas e incertezas.
andamos de mãos dadas,
sem pressa, sem medo.
mas no fim, a trilha se parte,
abre-se em dois destinos,
duas direções, dois mundos:
um de pedra, outro de grama.
soltamos as mãos sem despedida,
e seguimos, sozinhos,
rumo ao desconhecido.
talvez, um dia, os caminhos se cruzem.
ou talvez se afastem para sempre.
resta-me apenas seguir—
passo após passo,
sem saber o que virá.
metamorfoses;
com você, eu que nunca soube fazer poema,
tornei-me poesia.
eu que nunca fui de viajar,
virei a estrada.
eu que nunca fui de sorrir,
virei palhaço.
eu que nunca fui de me apegar,
virei amor.
mas...
eu que nunca fui de chorar,
virei um rio.
eu que nunca fui de sentir saudades,
virei lembrança.
eu que nunca…
me encontrei,
virei você.
e agora,
eu que nunca fui de me calar,
virei silêncio.