Victoria Rezende
Daquela alta montanha, já daria para ela pensar, quão grande eram as coincidências que encontrou em sua sina!
Pensou, que nada podia fazer, mesmo fazendo! Um átomo, que em um instante, passaria á ser sua redenção. Do branco do amor, do branco da serenidade transparente em seu aspecto físico.
Era um pingo de luz, que batia, na lâmina de seus defeitos, causando, cortes de aprendizado. Gritou tanto, que ficou rouca. E assim mesmo, com a voz fraca, continuou á seguir por uma estrada não mais sinuosa, que determinou pra ela.
(Não quero nada que seja opaco) Assim pensou, e assim se fez!
Deslizou as mãos pelo cabelo, sentindo os fios de uma maneira diferente. De liberdade. Lavou então seu rosto, e viu sua idade no espelho.
Não via mais seus inimigos imaginários com desdém! Era sã, e se buscava a conclusão infinita de tudo aquilo, caia em uma amplitude incalculável.
Descobriu que sua força animal, era assim como um de cavalo, e por amar tanto, era branco. Tão branco quanto seus sonhos em noites bem dormidas.
Uma faísca cai agora, e ela, conseguiu pegar!
Me divido em duas, da mesma matéria da criação. Algo oblíquo, que vai assumindo forma conforme o tempo. É a natureza da imaginação, transformado em uma persistência existencial.
È amar mais que passos lentos e cansados, é misturar-se com as borboletas, em uma metamorfose sem fim.
Não escrevo apenas isso, para me satisfazer inteiramente como humana.
Logo descubro, que deixando tudo acontecer, fico mais aliviada.
Porque estou nada mais que balbuciando frases. Por não conseguir chegar áquilo que exatamente espero.
Aprendo, que nada é meu, perco logo, minha possessividade. E adquiro um carinho próprio interior, com as minhas levezas e auto proteções.
Não posso viver de insegurança, de dúvida. É como se em um edifício de noventa andares, não existisse elevador. Ou então, é como elevar o coração mais do que você pode.
Eis a segurança do inabalável sentimento de estar. Compartilho da minha vida á uma outra. E isso é o suficiente, para deslanchar tantas boas emoções.
Victoria Rezende
Da escadaria movimentada do Vale do Anhagabu, ouço uma voz que canta, uma música vai sendo acompanhada por aquela garoa, que ali não caia, devido a proteção da ponte. Um canto leve, vivo, com uma fresta desconhecida para a felicidade. A cantora, tinha ao pé do ouvido um pequeno rádio portátil, suas vestes eram esmagadas pela vergonha de ali estar, e pelo orgulho, de ao menos um segundo, sentir a energia da felicidade, do prazer, do simples ato de cantar.
E cantando foi, que vi os meninos, com feridas pelo corpo. E o rosto escondendo a mais triste verdade de seus pais. E ali, tinham ainda duas assistentes sociais, levando esperança no pouco que tinha. Fazendo o céu abrir, procurando por algum sol, que pudesse brilhar na vida daqueles meninos.
Então, depois eu subo. São Paulo essa manhã estava realmente a terra da garoa. E debaixo dos guardas-chuvas estampados, escondiam-se as ciganas, todas ocupadas. A primeira, virava as cartas com as mãos, que ressecaram-se com o tempo. O tempo, aquele que ganha, pegando um pouco do outro. Desvendando a lei da matemática. Causando impressões respeitosas, passando-se como grandes sábias pagãs.
Do charlatismo, á passeata de vai e vem, que não para!
Em frente ao teatro municipal, havia um senhor que cantava o falecido. Eu e mais quatro, ali ouviamos. O por quê não sei. Mas ouvia.
E a garoa afina, ao ponto de ver o jornaleiro que conversa com a placa de empregos. Sim, com a placa! Porque ali, não havia um homem, ninguém o via. Era um homem invísivel. Mas o jornaleiro por sua vez, o conhecia. E a placa que conversava com a funcionário do café, que por sua vez, fazia-se despercebida, e logo, conversava com o jornaleiro. Um espiral de substantivo e pronome.
E o encanto encontro, no vale dos hippies. Que misturam as cores das penas de diversas asas, fazendo arte com as pedrarias, que penduram, e assim nasce brincos. Ah, tem também um instrumento, que dizem eles que é possível capturar o sonho.
(Deus me livre) capturar tudo aquilo que a mente produz na minha inatividade e descanso.
Resolvo ir de metrô, não deu certo. Pela incapacidade e incompetência de um senhor de idade, que ainda insiste em fazer algo que não gosta. Talvez, tenha feito isso a vida inteira. Espero que ele se abrigue em um conforto revigorante um dia.
Nada melhor que andar de ônibus em São Paulo. Eu sinceramente, gosto muito. Claro, quando não tem trânsito.
Consigo ver tanta coisa, que chego em casa, logo parto para as orações.
Os olhares das pessoas ás vezes são um tanto parecidos com os de vampiros. Vejo terrores, mas vejo alegrias, grandes e pequenas, e também aquelas escondidas.
São Paulo me encanta e me dá dor de barriga.
Victoria Rezende
Domingo é abraço apertado, è sorrir sem motivo, è brincar com os pés no chão. Domingo é macarrão ou talvez churrasco, é amigos e família tudo misturado.
Domingo è fim da solidão. Domingo tem gostinho de bolinho de chuva no fim da tarde. Tem esperança espalhada e muita emoção.
Domingo è correr na Praça, sem relógio, sem preocupação.
Domingo é massagem, è ar livre. È vida!!
Victoria Rezende