Victor Carbone
"Eu queria um beijo de tirar o fôlego. De língua de gato. Cheio de acrobacias. Um beijo de cama. Eu queria ser o seu baile de chances. O seu último baile de chances. E ser um barco, abaixo de um céu ensolarado, movendo-se sob águas nunca vistas, levando você. Queria ser três crianças perto dos seus olhos ansiosos, satisfeitas, simplesmente por ouvir os ecos ensolarados do céu. E você dançaria neste baile, baby, todos nós dançaríamos, pois as memórias morrem. E as geadas do outono também, elas também morrem. Elas se transformam em Julho, um fantasma acordando os olhos das crianças ainda sonhando. Enquanto os dias vão se aproximando do córrego dourado da vida, mais um dia, que é mais um sonho".
Parece que as pessoas estão mudando. E eu também quero mudar. Mas ainda são sete horas. Minhas roupas envelhecem, precisam ser substituídas. Por outras que também envelhecerão, mas eu não quero ficar reclamando. Acho que a vida não deveria ser assim, mas é. A minha é. E a de um monte de gente também deve ser. Mas isso não me conforta. Aliás, nada me conforta. No máximo, me distrai. Cubro meus problemas com esmalte. Depois descasca. Escondo meus medos com holofotes acesos de estádio, escolho a dor. Problemas ignorados retornam afiados e te machucam. São facas disfarçadas de colheres. Durmo por causa deles. Mas eles deveriam me acordar. Acompanho o soldado inimigo em fuga. E compartilho com as mulheres da sua vida a esperança do seu retorno. Sua ausência parece ser ameaçadora. E deveria ser apenas compromisso e progresso. Não sei o que estou procurando na tevê. Não aceito a tragédia das fotos 3x4. Vejo que há uma diferença desconcertante entre o amor realmente percebido e o vividamente imaginado. Assim como uma pessoa por dentro e uma pessoa por fora. Ambas, ideias presentes na mente de Deus. Ambas a mesma pessoa. Cor de pele por fora, cor de chiclete por dentro. E o amor. Compartilhado até mesmo entre os egoístas. Discutido entre os calados. Sinto a sua presença através de imagens simbólicas, mas não o entendo. O amor. Que não pode ser penhorado. Mas que às vezes sinto recebê-lo a granel. Incidental e frequentemente. Como a repulsa e o preconceito. Coisas a serem desafiadas. Algo como o sorriso perdido de alguém que não encontra aquela única e última peça do quebra-cabeças e não consegue nunca ver a imagem completa. Falta apenas um tijolo do castelo. Ou um pedaço da orelha do Mickey. E mesmo assim, está feliz. Pois percebe que já não tem mais medo de barata. Nem de altura. Lugares fechados, solidão, intimidade. Resta apenas medo de si mesmo. Mas este é um medo com o qual a gente tem que conviver. Uma constante repetição de uma mesma experiência, seu mantra poderia ser “foda-se”. Mas é simplesmente “não acredito”.