Vanessa Lora
No mundo dos adultos é tudo tão sério, fechado, cinza, quadrado. Não tem espaço para dar risadas, risadas altas, sonoras, daquelas que reverberam pelo ambiente.
No mundo dos adultos todos estão com pressa, cansados, estressados e amargos. Parece que tomaram uma dose de vinagre e um soco no estomago, logo pela manhã.
No mundo dos adultos nada pode ter cor, ou sabor. Você deve se impor, brigar, fazer cara de mau. Já pensou alguém sendo alegre no mundo dos adultos? Não pode, não senhor.
Eu não sei se gosto do mundo dos adultos, na verdade não gosto nem um pouco.
Será que todos os mundos dos adultos são assim? Existe um mundo colorido onde os adultos são felizes sem precisar falar mal de alguém ou desmerecer o outro para conseguir dar risada? As pessoas estão doentes? Porque o mundo dos adultos precisa ser tão sério? Eu terei que me tornar amarga assim para fazer parte do mundo dos adultos? Será que estou me tornando esse tipo de pessoa?
Me sinto um alienígena cuja nave caiu em uma terra desconhecida, longe muito longe de sua galáxia, assustado e observando o comportamento dessas pessoas tão adultas e crescidas que não toleram ridas, que não gostam de cores, que prezam pelo silêncio, seriedade, estresse e tristeza. Todos carrancudos como se o tempo deles fosse o mais valioso de todos, como se a felicidade do outro machucasse, como se não fosse permitido ser feliz. O alienígena observa, enxerga, vê e absorve, uma sorte de ensinamentos de como não ser.
O tempo é engraçado, às vezes brinca às vezes debocha, as vezes não
existe. Aquela fluidez imaginária e inimaginável que se desloca entre o que foi, o que é e aquilo que será. Ontem é hoje que é amanhã, reunidos em um único momento inconstante onde os feixes de luz reflete nossa existência. É tudo, o que não é mais e um dia ainda será. Aquela sede humana e insaciável de vida, bebemos tanto que esquecemos de respirar. A final apenas o agora existe, o ontem já existiu e se foi, amanhã o hoje será o ontem e tudo terá ido. Apenas memórias confusas, borradas e inacabadas serão capazes de trazer um feixe de luz passado para as mentes futuras. O tempo é bonito e assustador, como uma onça se esgueirando por entre a mata, analisando a sua presa, pronta para dar o bote. Não pode se esconder, ou fugir, ela vai pegar o que ela quer mesmo que você corra com toda a capacidade que teu corpo permita, a única certeza na vida é a morde. A única certeza no tempo é que ele corre e escorre. Opa, peguei! A não… já foi…
Criamos a ilusão de controle do tempo, com relógios que contabilizam o passar das horas para não perdermos nem um segundo, com jornadas cada vez mais exaustivas, trabalhando por horas a fio, nos envolvendo em diferentes tipos de atividades para que tenhamos a ficta percepção de controle e aproveitamento do tempo, somos humanos…
Apesar de tantos anos de evolução, há algo que ainda não aprendemos, nós não controlamos o tempo, ele nos controla.
Tenho 30 minutos para terminar esta atividade;
Tenho que chegar na escola do meu filho em 20 minutos para a reunião;
Preciso pagar esta conta, mas tenho apenas uma hora de almoço, eu como ou vou no banco? Talvez eu possa fazer um lanche rápido no caminho…
Estamos sempre buscando formas de otimizar o tempo, de fazer mais, nos envolver mais, produzir mais pois talvez assim sejamos capazes de sentir que estamos vivos…
Mas quando tudo para, mesmo sem parar, naquela fração de segundo que você percebe que tudo foi tão bem calculado e o tempo foi tão bem dividido em minutos, com tamanha precisão para que tudo fosse feito e o tempo fase controlado você percebe que, fez o oposto…
Refém do relógio.
Tic,
Tac,
Tic.
E a pilha acabou.