Valber Barreto de Queiroz
VALORES
A criança brincando na rua,
sem medo da ignorância do motorista alcoolizado.
O ancião sentado à porta da casa,
sendo cumprimentado com um sorriso pelo moço educado.
O filho já adulto senta no colo do pai,
olha em seus olhos e diz, “eu te amo meu pai”.
O pai que desmarca compromissos,
porque tem compromissos do filho a serem compartilhados.
O cidadão que se sente seguro com a presença do policial,
seu real anseio é estar protegido do malfeitor.
Utopia!
A criança está presa nos quintais, dentro de ambiente de games,
ou sendo atropelada pela frieza do mundo virtual.
O ancião não vê ternura na moça que se despe,
para conquistar os valores do mundo contemporâneo.
O filho adulto é auto-suficiente,
olho no olho, declarações e colo só para mina da vez.
O filho precisa entender o ativismo do pai,
Afinal quem comprará seu computador, para ele se divertir na net?
O policial é refém do arsenal inimigo,
Na prática, revólveres são menos eficazes que mísseis, metralhadoras e granadas.
PARADOXO
Não entendo:
Por quê existe a fome,
se o que não quero vai para o lixo?
Por quê existe a guerra,
se também há o argumento?
Por quê existe desinformação,
se vivemos a globalização?
Por quê a frieza de coração,
se há o calor do amor?
Por quê alguns no ócio,
e outros com sobrecarga?
Só sei que:
Há mentira,
porque a verdade custa caro.
Há inveja,
porque a conquista exige esforço.
Há conflito,
porque Deus me fez único.
Há morte,
para que eu possa descansar.
O CONTO E O PRANTO
No conto pode haver rimas,
no pranto às vezes coincidência.
O conto tem limites,
no pranto eu ando ao infinito.
No canto sinto a alma,
no pranto ela agoniza.
O conto é eufórico,
o pranto melancólico.
A ribalta do conto é em palco iluminado,
a do pranto é um vale nublado.
O conto elucida perspectivas,
o pranto é cego.
No conto posso mudar o final,
o desfecho do pranto é imutável.
No conto escolho os personagens,
o pranto não importa se estou pronto.
Do conto posso esquecer detalhes,
dias de pranto são memoráveis.
Um conto pode não ter valor,
todo pranto fortalece vencedores.
REINÍCIO
Sabe quando fica escuro?
e não se consegue andar?
Tudo é grande obstáculo.
a visão é o tatear.
Há porém disposição
mas não se enxerga a estrada.
O sentimento é de incerteza
e aí para a caminhada.
Sabe quando fica claro?
e não se consegue andar?
Você olha o caminho
a vontade é de voltar.
Não se tem perspectiva
o caminho é comprido.
O cansaço é evidente
e aí vem o gemido.
Mas no escuro Deus é luz
é quem mostra a direção.
Te dá toda confiança.
e você não para não.
Por mais difícil que seja
nada pode abalar.
Cabeça erguida, olhos atentos
temos muito a conquistar.
RESGATE
Olhei para o céu e não vi estrelas,
A lua disse que haviam cansado de tão pouca luz,
Que não fazia sentido serem tantas, porém tão afastadas,
Que só eram vistas à noite,
Subi além das densas nuvens do meu cansaço,
Só para lhes dizer que:
A pouca luz, é para que possamos vê-las com os olhos bem abertos,
Não estavam afastadas, e sim, dispostas de forma que tomassem todo o imenso céu,
E que só valentes resistem ao poder sombrio da noite.
Tomaram suas posições, dispostas a descansar apenas quando o sol chegar.
RICO, POBRE LOUCO
Pobre louco que precisa de muito,
muito luxo, iguarias
feliz mesmo, poucos dias.
Pobre louco que perde a noite,
por pensar que está perdendo
suas posses, vai morrendo.
Pobre louco, porém cego,
ao que tem fome desconhece,
sua alma empobrece.
Pobre louco desabrigado,
apoteose sua mansão,
residindo em solidão.
Pobre louco sem valor,
de que adianta tantos mil?
E um coração vazio?
SOB PRESSÃO
Difícil pensar no alvo,
no foco, na nascente da resposta.
Em meio ao alvoroço de idéias distorcidas,
do emaranhado de possibilidades improváveis,
no epicentro da negatividade.
Difícil se equipar de material bélico
capaz de dilacerar os fatos,
estilhaçar o telhado de vidro
construído sobre o amontoado de emoções.
No entanto e num instante,
em meio à ebulição de idéias, a luz.
Coloca-se a tampa, cria-se mais pressão,
que cozinha o feijão,
que movimenta a locomotiva,
que move o gerador,
que me dá velocidade,
que me faz vencedor.
TEMPO
Tempo pra tudo,
Tempo de plantar e tempo de colher.
Tempo de esperar e tempo de agir.
De correr sem cessar, de tão somente caminhar.
Tempo de se aquecer e de tranquilamente se resfriar.
De corrigir e de beijar.
Tempo de pular e de deitar.
Tempo de gritar e bravejar.
De calar e acalmar.
Não se deve ter tempo;
De odiar, de desistir
De matar, de julgar.
Porém um tempo, é sempre tempo
De amar, de afagar
De lutar, de acreditar
De sempre crer.
Os efeitos colaterais do remédio para sanar uma grande dor, podem ser tão destrutivos quanto o mal que a causa.