V.C.
Eu acho que vi o demônio.
Eu acho que vi o demônio essa manha.
Olhei meu reflexo no espelho e ouvi o ``tic-tac´´ do relógio.
Suspirei cansada e me arrastei até a cozinha. Fingi um sorriso e disse bom dia a minha mãe.
Ela sorriu e me disse bom dia também.
Engoli o café da manha. Preferiria estar morta do que comer. Não, a comida não estava ruim. Eu só não queria comer.
Levantei e fui até meu quarto. Me joguei na cama e cobri meu corpo todo, até a cabeça, com o cobertor. Comecei a chorar baixinho esperando o tempo passar.
Eu acho que vi o demônio essa tarde.
Sentada na cadeira de madeira em silencio. Apenas ouço pessoas cheias de angustia e falsidades. Vazias de amor. Vazias de pensamentos. De sentimentos. Vazias de almas.
O que eu posso falar? Eu também sou vazia de alma...
Suspiro e deito a cabeça sobre a mesa. Ouço cochichos e volto a pensar. Apenas observo o tempo passar.
Eu acho que vi o demônio essa noite.
Voltei cansada de um dia chato e repetitivo.
Passei sorrindo por minha mãe e fui direto para meu quarto.
(Ela não suspeita. Ela não sabe. Ela não acredita.)
Eu acho que vi o demônio.
Porta aberta. Porta fechada. Porta aberta. Porta fechada.
Corda na mão. Pé descalço na grama.
Corda no galho da árvore. Pés sobre o chão. Balançando como o vento. Uma velocidade calma como uma brisa. Eu não vi o demônio. Eu sou ele.
V.C.
Fim.
Pensei em você
Pensei em você quando acordei. Senti falta de ouvir a porta do seu quarto batendo e ouvindo a porta do banheiro se fechando. A falta do cheiro de seu café sem açúcar fez falta quando levantei da cama. Nem quero entrar em detalhes sobre nossas conversas aleatórias sobre Japão, historia ou filmes que você assistiu.
Pensei em você na hora do almoço. Quando minha mãe fez macarrão confesso que senti falta do seu, mesmo que sem sal, faz falta. Nossas brincadeiras sobre quem vai comer mais ou aquela roubadinha simples na carne moída do outro. Era divertido. Não posso nem citar quando ela fazia batatas fritas. Não valia...você gostava muito, mas sempre deixava mais pra mim.
Pensei em você quando me arrumei e entrei no carro para ir a escola. Você não me disse ´boa aula´ e, quando abri a porta do seu quarto, o senhor não estava lá. Senti falta do seu abraço. Mas confesso que doeu mais ainda quando o sinal da escola bateu, revelando que já era hora de ir pra casa.
Pensei em você quando estava voltando para casa. No carro, comentei com minha mãe que não queria voltar para casa, pois, você não estaria lá me esperando para perguntar se meu dia foi bom. Ou não estaria no quarto assistindo, eu não poderia nem dizer que acabei chegando e que meu dia foi uma merda por que briguei com alguém e odeio pessoas, ou que meu dia foi bom e tirei nota máxima em matemática.
Pensei em você quando fui dormir. Dizia que tinha terminado alguns trabalhos e estava assistindo Netflix. Ia ficar acordado até de madrugada, pois, no dia seguinte podia dormir até mais tarde, mesmo que sempre acordasse antes da sete da manha.
Pensei em você em quanto estava dormindo. Sonhei com você enquanto estava deitada e me lembrei quando mandava eu guardar a roupa e a louça, ou quando contava a sua lembrança de que me carregava no colo quando eu era menor.
Chorei ao lembrar de tudo isso.
Pensei em você ao escrever esse texto e ao fazer esse vídeo. Perdi uma visualização, pois, o senhor sempre assistia meus vídeos.
Sei que não pode mais me ouvir, mas eu te amo. E a falta que o senhor esta fazendo é muito grande. Ainda não acredito que o senhor partiu. Ainda não acredito que fiquei sozinha sem mais algo importante. Mas acredito que o senhor esta em um lugar melhor. (-V C ).