URDA ALICE KLÜEGER
Quando eu era pequena, havia aquela estrela no céu, assim, de tardinha, sozinha e luminosa, e aprendi cedo que se tratava da Estrela Vésper, ou da Estrela d´Alva, e desse nome eu gostava mais, pois tinha até uma música homenageando aquele astro mágico, que vinha antes da noite, e que diziam que, de manhãzinha cedo, quando todas as outras estrelas iam embora, ela continuava lá, firme, como nenhuma outra.
(Ao lado da estrela d´alva, 2017)
Todos nós, brasileiros, sentimos uma grande fascinação pela Europa, e eu achei que passar um mês em Paris seria a coisa mais maravilhosa da minha vida. Só que, depois que estava uns quatro ou cinco dias em Paris, tudo o que eu pensava era “O que é que eu estou fazendo aqui? Por que é que não fui para a Bahia?”
(Um homem chamado Jorge Amado, 2012).
... como queria eu poder perguntar tantas coisas àquelas rochas! O quanto poderiam elas me contar, que me escapa a este olhar limitado com que as olho!
(Russland I, 2007)
Quanto tempo irá passar, agora, até que possamos estar de novo sob uma árvore assim, armazenando novamente as lembranças que ficarão para a vida?
(Árvore de amoras, 2014).
Não há como, num dia como este, em que a manhã já vem pejada de sensações indescritíveis das coisas mais intensas já vividas desde as mais antigas lembranças, decerto tangidas pelos mistérios deste clima de outono em pleno começo de janeiro, não há como, repito, não sentar e escrever a respeito.
(Ar polar, 2013)
É um dia para ver e sentir a plenitude da vida, não apenas a que já passou, mas decerto a que ainda virá, dia de girândola de ânsias, alegrias e sofrimentos, e fica até difícil escolher algum desses momentos ou imagens que perpassam por meu corpo e meu espírito e que me enchem de perturbação e de profundidade, como fica uma fruta cheia de sumo no auge do verão.
(Ar polar, 2013).
...e o mundo está tão mágico que eu posso entender algumas coisas, como a de que há diversos sentidos para se viver, e quando são sentidos de amor, todos se somam.
(Ar polar, 2013)
O mundo é feito de todas as etnias, de todas as gentes, temos a obrigação de aceitar isso.
(Cruzeiros do Sul, 1991)
O amor pode até ficar quieto, dormitando indefinidamente como as sementes dormem no inverno, mas como as sementes que gerarão outras e outras, ele sempre irá se reproduzir e somar – jamais morre.
(Ar Polar, 2013)
Sonho em um mundo melhor, sonho de fazer com que alguma coisa, algum ser, alguma população, algum estado de coisas melhorasse neste ou em algum planeta, uma vez que pode haver um planeta ou um universo dentro de cada ser e cada ser tem de estar e/ou viver sobre um planeta.
(Tese de Doutoramento, 2014)
Ter ido de surpresa em surpresa ao descobrir a degradação que pode haver no ser humano que, movido pelo Capital, conspurca os mais lindos sonhos que a humanidade já viveu ou vive sobre a conservação da vida sobre o planeta Terra, também leva à degradação dos sonhos a respeito de quem os possui.
(Tese de Doutoramento, 2014)
Ah! Menino, agora pulaste do meu coração para o meu colo – o que é que eu faço contigo?
(O menino de Porto Alegre, 2009).
Se o amor morrer é porque amor não era, mas uma semente fanada, que não teria a graça da reprodução.
(Ar Polar, 2013)
... tem-se a experiência da convivência com muitíssimas pessoas e/ou grupos de pessoas que, diante das exigências do Capital, resistem com muita força às suas exigências, o que faz com que sintamos esperança em que já não poderia haver. Talvez ainda seja possível salvar a Vida.
(Tese, 2014)
Os tempos mudaram, as pessoas mudaram, a sociedade mudou. Eu, pessoalmente, acho que tudo mudou para melhor - vivemos, desde lá, grandes mudanças, a partir da filosofia que veio com o movimento hippie. Acho que hoje somos menos preconceituosos, menos hipócritas, menos preocupados com a opinião dos vizinhos.
(Roupa de missa, 1998)
A ternura ficou grande demais dentro do peito, e então o semeador chorou de tanta beleza!
(O semeador e a semente, 2016)
Trovoadas são assim: nascem, crescem, passam e se vão, e houve um momento em que aquela também se foi, e apenas uns respingos e uns troares ainda vinham da sua cauda fustigante que se afastava, mas não perdi um momento sequer da sua passagem e ida.
(Russland 4: O ninho das trovoadas, 2016)
Permanecemos ali a vê-la ir passando sobre nós, ir-se indo para longe, para lá distante, onde havia a cidade, sacudindo seu imenso corpo com grande rumorejo, muitos relâmpagos, arfar de ventos e abundância de chuva.
(Russland 4: O ninho das trovoadas, 2016)