Um Olhar do Paraíso
Tinha 14 anos quando fui assassinada (...) Isso foi antes de crianças perdidas estamparem as caixas de leite ou as manchetes dos noticiários. Foi na época que as pessoas pensavam que coisas assim não aconteciam.
Meu assassino podia viver o mesmo momento por muito tempo. Ele podia se alimentar de lembranças várias e várias vezes.
Mas havia uma coisa que o meu assassino não entendia. Ele não entendia o quanto um pai pode amar o seu filho.
Ninguém percebe quando partimos. Quero dizer, o momento em que realmente escolhemos partir. Na melhor das hipóteses você pode sentir um sussurro ou uma onda de sussurros ondulando subitamente.
As conexões, às vezes tênues, às vezes feitas com muito sacrifício. Mas, muitas vezes, magníficas, aconteceram depois que eu parti. Comecei a ver as coisas de uma maneira que me permitiu abraçar o mundo, sem eu estar nele.
Vi o horizonte azul entre o céu e a terra. O dia não se alterou… e a cada noite, sonho o mesmo sonho. O cheiro de flores silvestres… O grito que ninguém ouviu… O som do bater do meu coração… como um martelo contra o prego. E os ouço chamando, as vozes dos mortos. Eu queria segui-los até encontrar uma saída. Mas eu sempre retorno para a mesma porta.