Tullian Tchividjian
O mundo freqüentemente percebe nossa ira – mas será que eles percebem nossa tristeza? Eles pensam que nós nos iramos simplesmente porque as coisas não estão do nosso jeito, mas eu receio que eles não percebam nosso descontentamento com os efeitos negativos e mortificantes do pecado. Nós falhamos ao expressar nossa ira de uma forma que diga “Você foi criado para muito mais que isso”. Eles assumem que nossa ira é apenas porque não conseguimos o que queremos. Não me surpreende o fato de pensarem tão pouco de nós.
Quando vemos a destruição e o sofrimento na vida das pessoas porque elas não estão em um relacionamento com Deus e vivem vidas cheias de pecado, isso deveria nos irar – uma ira que surge porque os amamos e nos entristece vê-los vivendo por algo tão destrutivo, sendo que Deus os criou para viver por algo bonito e plenamente satisfatório.
A ira egoísta não é uma ira entristecida e cheia de amor; isso é a ira centrada em Deus. Então, sua ira surge porque seu amor por Deus e pelos outros é radical? Quando mais pessoas virem nossa raiva contra aquilo que Deus odeia porque nosso amor por ele e pelas pessoas é real e profundo, talvez elas se abram um pouco mais para ouvir o que nós temos a dizer.
Eu não sei você, mas eu não quero brincar com a minha vida. Eu quero largar tudo em nome de Cristo. Eu não quero que minha espiritualidade tenha um quilometro de comprimento e um centímetro de profundidade. Eu quero ter a coragem de não me importar e ser fora de moda. Sinto-me envergonhado por aqueles momentos em que tenho medo de ser ridicularizado em nome de Cristo por que o mundo pode pensar que eu sou muito estranho. Eu quero seguir incansavelmente a Deus e a sua vontade, independentemente do que vão pensar de mim. Quero viver minha vida, como diriam os Puritanos, diante de “uma platéia Única”.
O trabalho da vida cristã, portanto, é pensar menos de mim mesmo e da minha performance e mais de Jesus e da performance dEle por mim. Ironicamente, quando nos focamos mais em nossa necessidade de melhorar, nós pioramos. Tornamo-nos neuróticos e egocêntricos. A preocupação com o meu esforço em detrimento do esforço de Deus me torna cada vez mais egoísta e morbidamente introspectivo.
Você poderia falar da seguinte forma: a santificação é o trabalho diário de voltar à realidade da nossa justificação – receber as palavras de Cristo “está consumado” em novas e mais profundas áreas de nosso ser diariamente, de encontro à nossa rebelião de falta de fé. É voltar à certeza da segurança do nosso perdão em Cristo e apertar o botão de reset mil vezes, todos os dias. Ou, como Martinho Lutero tão habilmente colocou em uma pregação sobre Romanos, “Progredir é sempre começar de novo”. Progresso espiritual real, em outras palavras, requer uma grande quantidade diária de recomeços.
O crescimento cristão, em outras palavras, não acontece primeiramente por uma melhora de comportamento, mas por uma melhora em acreditar – acreditar nos maiores, mais profundos e preciosos caminhos que Cristo já assegurou para nós pecadores.
Pregue isso para si mesmo todos os dias e você experimentará cada vez mais a gigantesca liberdade que Jesus pagou com tanto amor para te assegurar.
Cristãos necessitam do evangelho porque nossos corações estão sempre propensos a se desviarem; somos sempre tentados a fugir de Deus. É preciso o poder do evangelho para nos direcional de volta ao primeiro amor. Caminhar conscientemente em direção ao evangelho deve ser uma realidade e uma experiência diária para todos nós. Isso significa, como Jerry Bridges nos lembra, “pregar o evangelho para nós mesmos todos os dias”. Devemos permitir que Deus nos lembre todos os dias, através de sua Palavra, sobre a obra completa de Cristo em favor dos pecadores para continuarmos convencidos de que o evangelho é relevante.
O reconhecimento de que meu relacionamento diário com Deus é baseado nos méritos infinitos de Cristo, ao invés das minhas obras, é uma experiência muito libertadora e confortante.
A diferença entre viver para Deus e viver para qualquer outra coisa é que quando nós vivemos para qualquer outra coisa, o fazemos para sermos aceitos, mas quando vivemos para Deus, o fazemos porque já fomos aceitos. Verdadeira liberdade (a liberdade que apenas o evangelho garante) é viver para algo que já nos favoreceu ao invés de viver por algo em troca de favorecimento.
Apesar da lei de Deus ser boa (Romanos 7), só tem o poder de revelar o pecado e mostrar o padrão e imagem do requisito de integridade, não de remover o pecado. A lei nos mostra o que Deus ordena (o que, evidentemente, é bom), mas a lei não possui o poder para nos permitir fazer o que ela diz. Você poderia colocar isso deste modo: a lei guia, mas não dá. Em outras palavras, a lei mostra para nós como é uma vida santificada, mas não tem poder santificador. A lei não pode mudar um coração humano. É o evangelho (o que o Jesus fez) que pode nos dar o ânimo a obedecer de uma forma que honra a Deus. O poder para obedecer vem de ser movido e motivado pela obra completa de Jesus por nós. O combustível para fazer o bem vem daquilo que já foi feito. Portanto, enquanto a lei nos guia, só o evangelho pode nos dirigir.
Deus quer uma obediência contínua do coração. Como isso é possível? Obediência motivada pelo evangelho, de longo prazo, contínua, só pode vir da fé naquilo que Jesus já fez, não do medo do que nós temos que fazer. Parafraseando Ray Ortlund, qualquer obediência não fundamentada no evangelho ou motivada pelo evangelho é insustentável.
Eu sou um crente convicto nos três usos da lei (pedagógico, civil e didático). A lei nos remete a Cristo para justificação (o primeiro uso, que está correto), mas alguns também diriam que Cristo nos manda de volta para a lei para santificação (uma forma equivocada de entender o terceiro uso). Em outras palavras, há um engano comum na igreja que diz que enquanto a lei não pode justificar, ela pode nos santificar. Não é verdade. Em Romanos 7, Paulo está falando como um cristão justificado, salvo, regenerado e ele está dizendo: "A lei não tem o poder de me transformar. A lei guia mas não dá poder algum para fazer o que diz". Portanto, eu gostaria de prevenir as pessoas de concluir que o terceiro uso da lei insinua que ela tem poder para transformar. Dizer que a lei não tem nenhum poder para nos transformar, de forma alguma reduz seu papel contínuo na vida do cristão. E não minimiza em absoluto a importância do terceiro uso da lei. Nós só precisamos entender o papel preciso que ela exerce para nós hoje: a lei serve para nos tornar gratos por Jesus quando nós a quebramos e serve para nos mostrar como amar a Deus e aos outros.
Nós somos justificados somente pela graça, mediante a fé somente, na obra acabada de Cristo somente, e Deus nos santifica trazendo-nos constantemente de volta à realidade da nossa justificação.
Quanto mais Jesus é exaltado como sendo suficiente para nossa justificação e santificação, mais nós começamos a morrer para nós mesmos e viver para Deus.
O poder para obedecer vem de ser movido e motivado pela obra completa de Jesus por nós. O combustível para fazer o bem vem daquilo que já foi feito.
A diferença entre viver para Deus e viver para qualquer outra coisa é que quando nós vivemos para qualquer outra coisa, o fazemos para sermos aceitos, mas quando vivemos para Deus, o fazemos porque já fomos aceitos. Verdadeira liberdade (a liberdade que apenas o evangelho garante) é viver para algo que já nos favoreceu ao invés de viver por algo em troca de favorecimento.
A ironia da santificação baseada no Evangelho é que aqueles que acabam obedecendo mais são aqueles que cada vez mais percebem que sua posição perante Deus não é baseada em sua obediência, mas na de Cristo.
As pessoas que realmente acabam se saindo melhor são aquelas que entendem que seu relacionamento com Deus não depende de seu desempenho por Jesus, mas o desempenho de Jesus por nós.
O Evangelho nos liberta da pressão de gerar nossa própria importância e significado. Em Cristo, a nossa identidade e significado são seguras, o que nos libera para dar tudo o que temos, porque em Cristo temos tudo que precisamos.
Em nossos dias, espera-se que os pregadores sejam especialistas em "renovação moral cristã". Espera-se que eles ofereçam listas de "faça isto", em vez de anunciarem: "Está consumado". Espera-se que eles façam alguma outra coisa "mais do que" expor aos olhos de suas congregações a obra consumada de Cristo, pregando uma absolvição total baseada tão-somente na justiça completa de Outro. Evidentemente, a ironia é que a renovação moral não acontece mesmo quando os pregadores seguem essa pressão. Focalizar-me no como estou fazendo mais do que naquilo que Cristo fez é narcisismo cristão (um oximoro, se já ouvi um oximoro) – o veneno da auto-absorção que destrói o poder do evangelho em nossa vida. Martinho Lutero comentou que "o pecado que está por trás de todos os nossos pecados é a mentira da serpente de que não podemos confiar no amor e na graça de Cristo e de que temos de tomar as questões em nossas próprias mãos".
O progresso na obediência ocorre quando nossos corações percebem que o amor de Deus por nós não depende do nosso progresso na obediência.
Qualquer obediência não fundamentada ou motivada pelo Evangelho é insustentável. Não importa quão arduamente você tente, quão "radical" você se torne, qualquer mecanismo do qual você esteja dependendo para obter força para obedecer, que seja menor que o Evangelho, entrará em colapso no devido tempo.
A obediência de longo prazo, contínua e motivada pelo Evangelho, só pode surgir da fé no que Jesus já fez e não do medo daquilo que devemos fazer.
Acreditar em si mesmo o impede de acreditar em Deus. Confiar em si mesmo o impede de confiar em Deus.
Se não estamos convencidos de que Deus é o justificador e estamos justificados, vamos passar nossas vidas inteiras tentando apaziguar o medo do julgamento que todos nós sentimos tão profundamente.