Tsuchiya Paulo
Diga me, como tu ousa invadir meus sentimentos com teus gemidos e anseios? Segura te teu corpo contra o linho branco desse lençol enquanto toco tua alma com meus lábios.
SANTUÁRIO
Durma sobre os meus pés essa noite, pequena criança.
Teu santuário esta caído, nem portas e nem janelas restaram em meio as ruínas. Destroços machucaram seus calcanhares até aqui, vejo a dor em tuas lágrimas caídas, mas elas um dia secarão. O santuário estava frágil demais para se cometer erros e não aguentou tuas atitudes, chore, chore até não aguentar mais. E então assumirá teus erros diante de ti mesmo.
Venha criança, deixe que minhas asas negras te proteja de seu próprio caos.
Deixei escapar meu ultimo suspiro quando cheguei ao fundo mar, e não senti medo e nem frio, senti apenas a vontade de permanecer ali e fugir do caos que se encontra na terra.
Canção que se tornou silencio na sala,
feito visita indesejada.
Um silencio de abraço frio e tristonho
que se fez parasita da pouca vida que me resta,
e mesmo assim me torno prisioneiro
de um abraço que não quero soltar
Fragmentado está, fragmentado sempre foi, cada parte com a sua história, cada parte se desmembrou por um motivo. Motivos que não sei explicar, e como explicar um sentimento frágil? Que quando toca só sangra e dói?
Senti tuas asas essa noite. Tua plumagem áspera não me deixou dormir, teu abraço frio e seco me deixou melancólico. Pedi que fosse embora, mas só colocou seu dedo ossudo e gélido na minha boca em forma de silencio. Será que vira todas as noites agora? Eis que me resta é sua companhia até o fim dos dias
Além do Fio
Estou morrendo, não tenho mais ar o suficiente, meus pulmões estão fracos e minha laringe seca.
Lábios roxos só pronunciam seu nome, como uma maldição antiga.
Estou perdendo uma parte minha, um eu que existia somente ao seu lado.
Fecundou a minha pele antes de me deixar, aí de mim.
Sementes de mentiras e ironias, germinando a planta cresceu e se espalhou.
Sua partida fez os grãos morrerem junto com meus sentimentos.
Sem espaço preciso expelir esses talos que tanto coça meus músculos, preciso estancar essa dor.
A flor da pele me rasgo na tentativa de me livrar dos ramos.
Frustração.
Teus talos estão muito fundos em mim, enraizados até a alma.
Prefiro a dor do corte que a dor em ter você dentro de mim.
Escondi de mim mesmo tuas sementes, que morreram e germinaram.
Gerando frutos amargos que agora me resta come-los na esperança de sobreviver.
AMÉLIA
O mundo girou mais uma vez, senti a minha pele queimar, mas não era calor, senti todos os meus ossos trincar e quebrar como se fossem feitos de graveto de uma árvore velha que não suportou o inverno rígido.
E como um meteoro uma dor tomava meu peito e resgava todo meu interior, sentindo meu sangue percorrer por onde não devia. Acho que estou morrendo, e estou deixando você aqui sozinho e sem resposta. Perdoe-me de não ter aceito os seus carinhos, os seus olhares, os seus toques, mas não posso mais permanecer em sua presença meu amado.
Adeus
Essa noite não consegui dormir.
Fiquei imaginando seu abraço, seu sorriso, seu calor.
E que falta eu senti de sentir seu corpo sobre o meu nessa manhã, a luz do sol atravessava a janela, mas seus olhos não estava ali, seus dedos não estavam acariciando minha pele.
E foi então que me senti sozinho.
Não sei se vou aguentar mais uma noite fria assim, sei que não o verei de novo, pois no lugar em que se encontra a minha alma não atravessa, só após o além da morte posso encontrá-lo.