ticha02
Quanto tempo mais vamos continuar longe um do outro a negar e a reprimir os desejos que sentimos um pelo outro? Quantos mais sinais precisamos nós da vida para tomarmos, de uma vez, a decisão que ela e nós queremos? Começo a acreditar que ela não vai descansar enquanto não nos juntar. A cada dia que passa falta-me mais o teu corpo nas minhas mãos. E eu nem sequer sei o que é tê-lo por completo nas minhas mãos. É ainda mais inexplicável a falta que sinto por ser de algo que nunca tive. O desejo, a atração e os sonhos em comum unem-nos pela distância de dois olhares silenciosos que imploram um pelo outro. Estamos separados pelo medo do desconhecido, pela dúvida do que deve ser ou não, pela paradoxal insegurança que todas as nossas certezas nos provocam. Queremo-nos tanto e há tanto tempo, que já nem sabemos qual momento certo é mais acertado. Temos medo de não acertar no momento. E isso é o que ainda nos vai segurando. Vamos deixando que o destino vá fazendo o seu trabalho e que o que tiver de ser seja bom e nosso amigo. E se o momento certo estiver apenas à distância de uma decisão de um de nós? E se o destino não passar de um mito e tudo o que nos separar for, afinal, um simples passo na direção um do outro que apenas ainda não decidimos dar? Se fosse mesmo para ser se calhar já devia ter sido. Mas e se fosse para não ser, será que ainda éramos o que somos um para o outro? Parece que estamos à espera da vida e o mais certo é ela estar também à nossa espera. Quando assim é, nada acontece e tudo não passa de um engano que o tempo não perdoa. Eu não vou forçar rigorosamente nada. Não te vou pedir nem convencer de nada. Vou simplesmente deixar acontecer, mas antes disso vou fazer por acontecer. Temos sempre estado na expectativa um do outro, na esperança de que o outro saiba qual a melhor altura para o que quer que seja, mas para mim não dá mais. Se de facto não queres nada comigo, então não te aproximes. Mantém a distância e nada acontecerá entre nós. Mas se te aproximares de mim, eu vou interpretar isso como um sim. Não me vou segurar nem conter e vou fazer de tudo para ficar contigo. Se te aproximares de mim, estarás a dizer-me que queres, que também queres tanto como eu, tudo o que possa acontecer entre nós. E eu vou fazer-te querer ainda mais. Não preciso que me digas uma única palavra, nem esperes que eu te diga alguma coisa. Mas se te aproximares, acredita, não te vou deixar mais fugir. Que se lixe se é o que a vida quer ou não ou se é ou não o que estava destinado. Tudo o que nos irá comandar são os nossos desejos. Nada mais. E acredito profundamente que eles sabem muito melhor o que fazer connosco do que qualquer uma das nossas razões que até agora nada fizeram. Se realmente me quiseres ao teu lado, nos teus braços, na tua vida e na tua cama, vais ter de arriscar comigo e confiar em mim. Vais ter de perceber que nos poderemos magoar, mas que valerá a pena. Se realmente me quiseres, vais ter de estar preparado para caminhar no limiar daquilo que é proibido e errado. No entanto, não acredito, também, que exista outra maneira de viver. Existem muitas outras formas de vida, mas só esta nos garante que viveremos. Não sou mais nem menos que qualquer outra mulher com quem te cruzaste na vida, mas sou diferente. E isso basta-me para fazer de ti um homem realizado. Temo que tudo o que possa acontecer depois de agora dependerá apenas da tua coragem para ficar… ou ir embora. Já passámos, há muito, aquela fase de incerteza acerca do que cada um quer. Já sabemos que queremos o mesmo. Só falta saber se faremos também o mesmo para levar até ao fim o que nos trouxe até aqui.