Tiago Faustino
Há um ditado oriental bem antigo que diz que mesmo as maiores construções um dia saíram do nada, saíram da estaca zero. Tenha em mente: A primeira pedra é onde todas as outras se apoiam. E a partir do momento em que se começa, o resto vem no embalo.
Tenho muito a dizer
O que dizer quando se tem muito que dizer?
Os ortodoxos escolheriam começar do começo. Óbvio e nostálgico demais.
Os imediatistas procurariam: “Qual o fim disso tudo?”. Conclusivo e incerto demais.
Os monges budistas em excursão ao Alpes suíços diriam: “Se assim é. Assim seja e permaneça”. Passivo e retilíneo demais.
O Capitão Nascimento diria para as palavras entaladas: “Pede pra sair!”. Austero e hiperativo demais.
Aí fico a pensar, palavras foram feitas para satisfazer a elas mesmas em sua dureza ou em sua efêmera exatidão. Porém, quando nelas advém um vento de generosidade, optam por se fazer compartilhar, não elas mesmas, mas coisas silenciosas que soberbamente acham expressar. Mas quando isso ocorre, muitas vezes da mesma forma que o vento traz essa vida, essa leveza, elas se esvaem por não encontrar um retiro para repousar essa benevolência. E de onde vieram, voltam e adormecem. Não com um sono eterno, mas ficam a aguardar novamente esse vento que conscientemente as faz ter algum valor.