Thiago Henrique Barnabé Corrêa
A CORTINA DA VIDA (2019)
A vida é palco para aqueles que se permitem,
pois experiência de vida não é determinada por cronologia,
nem se dá pela sobreposição de anos vividos.
Uma pessoa experiente é aquela que se faz e refaz
no intemperismo dos problemas.
Que os usa, não como obstáculo ou habitação,
mas como oportunidade de transformação.
Que se constrói e reconstrói
na superação do seu agora efêmero,
e reconhece que viver é movimento, é arte, é inovação.
TRATAMENTO (2020)
Esta vida de isolamento
nem sempre é um tormento
as vezes é um alento
não só ao virulento
mas também é o momento
de darmos ao pensamento
a chance de mudar.
É com este mandamento
que buscamos saneamento
para este sofrimento
que com muito discernimento
iremos superar.
MENESTREL DA MADRUGADA (03:50) - 07 nov., 2021.
Na angústia crônica e imperativa de uma madrugada pandêmica, eis que já a declaro minha companhia. Ainda que eu a despreze, a ansiedade com ela gerada é como um abraço envolvente que seduz e acaricia.
O silêncio sussurra em meus ouvidos, que me gela a espinha. Tomado pelo chamado da reflexão, decido então sentar à frente do computador.
Começo a navegar por um mar revolto de palavras e ideias, e em poucos minutos, com a vista turva, já não vejo mais o cais.
Conforme escreve o filósofo francês, Edgar Morin, “a chegada do imprevisto era previsível”. Sabíamos que o momento ímpar, de singularidade, aconteceria, mas encará-lo nos coloca no jogo da seleção natural. Descrever tal momento é uma epopeia, pois entre os acontecimentos grandiosos da nossa vida ordinária, nós somos os próprios heróis.
O tempo não para. E ele é selvagem!
No vagar de uma possível escrita, pausas reflexivas dão voz às batidas do pequeno relógio num cômodo ao lado. Penso em como viver se tornou desafiador. E, com isso, espero que as próximas gerações saibam reconhecer e interpretar os sinais de um novo tempo que requer renovo.
Ao vasculhar o baú dos sentidos, qual(is) é(são) a(as) âncora(s) que nos mantém firmes neste plano transitório?
Viver dói. Mas viver feliz, aí sim dói mais.
Penso, ainda, que nossos jovens precisam ser fortes, pois lidar com a liberdade de ser diante de um mundo em deterioração é muito mais sufocante que viver em tempos de pandemias sociais.
A máscara que utilizamos, de fato não nos define. Elas escondem táticas de sobrevivência e artimanhas arbitrárias. Talvez isso faça parte dos atributos daqueles que prosperarão.
Já com o cantar dos pássaros (05:22), o sol tímido começa a riscar os céus, trazendo luz não só para os campos e para a cidade, mas também para os meus pensamentos. É um presságio de esperançar, de que as trevas vão passar, e mesmo na incompatibilidade com o alumiar, ambos têm seu espaço e seu momento em nossas vidas.
A GERAÇÃO DO DESABRAÇO (2021)
Como já dizia a melodia,
o melhor lugar do mundo é dentro de um abraço.
Triste é saber que num futuro próximo
sentiremos o rastro de sua ausência
e a amargura da recorrência.
Feliz é a geração de outrora,
que terá em sua memória
a lembrança das sensações.
Um abraço é muito mais do que um afago,
é experiência que se faz num único trago
com alto poder de remissão.
PROFISSÃO DE FÉ (2022)
Como um poeta parnasiano,
Faço das palavras a minha forja
Que no ardor de suas formas,
Faz o meu jarro florescer.
Meus versos têm malícia,
Pois meu corpo é um artista
Que com pena, pincel ou tinta,
Serve o seu pensar.
Sou amante de Cervantes,
Narrativa é meu romance
Que na aurora cintilante
Seduz o meu falar.
Da prosa tenho estima,
Escrever dispensa rima
Que com métrica estilista
Veste o meu andar.
EU SOU O VERBO (2022)
O mais bizarro da vida é que você vive...
vive...
vive...
vive...
e descobre que lá na frente
tudo que você aprendeu ou acumulou
morre com você.
Então, qual lição tirar da vida?
Qual o sentido de pintar essa tela em branco
e escrever vivências entre linhas do acaso?
Talvez, o sentido da vida esteja na capacidade que temos de senti-la.
A questão - não é considerar a vida uma banalidade,
pois o que está em jogo não é a quantidade de experiências, mas,
a qualidade delas.
O que justifica narrar a vida se ela é finita?
Ao narrá-la, experimentamos e semeamos a única porção nossa capaz
de ser parte do infinito: a palavra.
SOU E-VENTO (2024)
Não sou poeta versado nas letras,
sou um alquimista que graceja com as palavras.
Sou gente que se encanta por gente,
que cartografa miudezas, cotidianos e narrativas
Aprendi a literaturizar a ciência e namorar a vida,
a sentir os e-ventos que ecoam o devir
e levam pra longe a esperança de um novo porvir.