Theo Lanusa

Encontrados 3 pensamentos de Theo Lanusa

MEDO

Ando apressadamente
Ligeiramente...
Rapidamente...
Ouço vozes...
Sussurros, murmúrios...
Altos, baixos...
Roucos, suaves, estridentes, maledicentes...
Risonhos, melancólicos...
Tristes, alegres...
Esperançosos, lamentosos...
Queixosos...
Caluniosos...
Como um caleidoscópio de sons.
Elas se emaranham na minha mente.
Sufocam meu tímpano.
E gritam no meu ouvido.
Ressoam, retumbam, propagam, reverbera por todo meu ser.
Me sufocam, me agridem, aterrorizam.
Apresso o passo...Tento fugir...
Estou cercada, cercada por uma imensa e sufocante multidão...
Mas estou só, sozinha...
Isolada numa ilha cercada por multidões.
Olho cada pessoa desta multidão...
São tantos rostos...
Desconhecidos...Conhecidos...
Mas estou só...
Completamente só... Sozinha.
Me abraço...Me aqueço...Me sinto
Sinto a dor...
Ela vem forte...
Em imensas ondas...
Devastando meu ser...
Me perco nesta insana música destes vozerios.
Me maltrato, me resguardo, me domino, me aquieto.
Olho pros lados, cercada, cercada e acorrentada pelos meus medos.
Temores que me aprisiona.
Aflições que me algema.
Sozinha, sozinha e prisioneira.
Sinto um grito angustiante e apavorante emanar de dentro do meu ser.
Minha alma grita e emiti sua libertação.
Deixo a fera que existe em mim...
Se soltar...
Dominar, invadir...
Me liberto...
Liberto do medo, da angústia, das aflições.
Agora ando sem medo.

Theo Lanusa

Pedaços da minha alma.

Amanheceu, escuto no frescor da manhã o doce canto dos pássaros, o sol brilha radiante lá fora, o dia esta calmo...Escuto a voz de uma criança, paz, o dia esta em paz...
Mas...Meu coração não é atingindo por este serenar gostoso desta manhã luminosa, não consigo deixar que a luminosidade e o frescor deste dia penetre a densa neblina escura que aprisiona minha alma...A criança canta, ouço um canto suave e desafinado...Mas ele não me toca, sinto mansamente quentes lágrimas escorrendo, descendo livremente pela minha face, estou em guerra, numa batalha ferrenha entre a claridade e a escuridão, ouço os sons das espadas digladiando dentro de mim...
Meu coração foi mortalmente atingido, massacrado, dilacerado, retalhado, estou em agonia e nesta agonia um filme sobre minha vida se passa diante dos meus olhos, tento me erguer, não consigo, braços e pernas não mais me obedecem, meus olhos vão perdendo o brilho da vida, sofro, padeço nesta agonia terrena da desilusão.
Ouço o canto da morte entoando em cada recôndito do meu ser...Me entrego, sinto um frio violento penetrando meu corpo, meu espírito guerreiro me deixa.
Estou só, sozinha como nunca estive...Cercada por multidões...Mas só, sozinha, solitária na minha dor.
Entro em desepero e me entrego por inteira nos braços da agonia, deixo...permito que ela me domine, me complete, me cerque, me tome...vire minha dona.
Olho pros lados e vejo minha alma aniquilada por completo.
Olhos vidrados, embaçados reviram o lugar onde me encontro, sinto dor uma imensa e intensa dor, quanto sofrimento, estou no pó, busco um sentido pra tudo isso, olho pro alto e pergunto a Deus:
- Por que amar doe? O que eu lhe fiz? Por que?
Não escuto respostas.
Grito, grito alto... nada... Ninguém responde, ouço o eco dos meus gritos como risos de zombaria, zombando, gargalhando da minha dor.
A solidão zomba, o sofrimento ri, o lamento grasceja, ouço todos juntos tripudiando de mim.
Vômito, arquejo, tento expelir de qualquer jeito este veneno de dentro de mim, ele não sai e continua a transitar livremente por todo meu ser.
A dor aumenta de intensidade, já não suporto mais, dói, dói tudo, dói muito, entro em convulsões, perco a lucidez, me perco...
O choro vem forte, violento...
Me entrego e me arrasto pro canto escuro da minha alma.
Não mais tento lutar.
Será que existe remédio pra este tipo de dor.
Paro...Tento escutar algum som.
Acabou... Tudo acabou...
Meu coração parou...
Olho pros lados já não vejo mais minha alma... Até ela fugiu de mim.
Estou só, completamente só, imersa na solidão.
Na solidão de um coração descrente, despedaçado, estraçalhado, retalhado pela dor.
Ah! Coração o que lhe fiz?
Porque foste tão traiçoeiro e me fizeste acreditar no amor...Agora olhe só como você ficou.
Cadê sua pulsação? Cadê sua cor vermelha? Vermelha da paixão, da vida, da emoção...
Me traiste coração, me enganaste me atando a outro coração com tantas promessas vazias, tantas palavras bonitas, acrisolando minha alma num mundo cheio de cor. E agora? Olhe bem pra mim... Só escuridão, olhe pra ti... Acabado, destruído pela dor...pelo amor, pela ilusão e desilusão.
E nesta confusão, neste guerrear de espadas descubro que até minha alma foi arrancada de mim. Coração aos retalhos com a alma aos pedaços.
O que será de mim?

Theo Lanusa

Lembranças...

Hoje acordei me olhei no espelho e questionei:
Quem és tu?
Onde você está?
Onde vive?
O que queres?
Abaixei meu olhar, me olhei, visualizei, analisei e questionei.
Que casca é esta? Onde arrumei este casulo que me esconde do mundo...entristeci...olhei minhas mãos ensanguentadas, quentes lágrimas rolam na minha face...olho meu tórax cadê meu coração? Um buraco...um buraco imenso...uma ferida...uma chaga profunda onde um dia existia a máquina mais potente do mundo...um coração, tento me erguer minhas pernas não obedecem ao comando da minha mente...choro, um choro denso, forte, copioso...olho minhas pernas estão laceradas, dilaceradas, envergadas pelo peso da solidão, solidão que embaça meus olhos, nubla meus sentidos e me faz questionar...qual o sentido da vida?
Procuro me aquietar e as lembranças flui, como um trem descarrilhado, célere, minha vida passa aceleradamente diante de mim, doces lembranças do som da criança que sempre fui, vejo um vislumbre da mocinha cheia de sonhos e sorridente, me recordo da jovem senhora com crianças no colo sempre a sorrir, me volto e olho o roto do arroto que me tornei, vejo retalhos de todas elas nestes restos diante de mim, me olho, me recupero, me regenero e descubro que estou pronta para partir...
Sinto novamente meu pranto escorrendo manso na despedida deste casulo que me serviu, me despeço da carne e com uma última olhada me dispo dela e dou meu último suspiro antes de partir...parto sem medo, sem receio, sem temor...pois meu corpo fica, mas as lembranças levarei comigo pra sempre, sempre, infinitamente, eternamente na hora de ir.

Theo Lanusa