Thais La Porta
Ah! Quanta hipocrisia nos cerca o dia-a-dia
Que traz da noite a indiferença da tarde vazia
Os choros calados saltando das janelas dos prédios
Centralizadamente iguais
Os fios dos telefones asfixiam corações
Atrofiados e doentes
A alegria torna-se a alergia de muitos
O corre-corre, o grande propulsor da vida
Que cotidianamente mente
Que foge de si, de dó e até de ré
Anda em círculos e triângulos
Viciosos, tendenciosos demais para perguntar
Qualquer informação aqui é atentado
E aqui ninguém quer atenção
A tensão aqui é por dinheiro
Foge-se das férias e se reza pela hora extra
A hora extra da morte é a extrema unção
Se quem fica parado é poste
Quem se mexe é cachorro
Quem será que leva sua própria sacolinha?
Pula choro, pula!
Antes morrer sozinho do que habitar olhos que não vêem o mundo
O coração morreu de tédio num domingo
Só porque segunda era feriado.
A aceitação é uma fabulosa prece
Ela liberta o mais ínfimo ser de suas amarras
Tornando-o supremo no rol de suas limitações
Se fosse possível aprisionar o conhecimento
E ele não se esvaísse em soltas nuvens
Seus devaneios pessoais seriam como pequenos mestres
Enclausurando a sua totalidade através das existências plurais
Mas é possível aprisionar-se em si mesmo
E perder-se do seu eu mais liberto
Correndo por caminhos mentais alheios
Sacrificando o que teus corpos vêm adquirindo há séculos
Se ouça, se respeite
Nada pode ser tão correto quanto a própria verdade
Não apodreça sua pureza por instintos de pertencimento
De encaixe
Solte-se no universo
E verás que tu és teu soberano
Que nenhum opressor pode exercer seus domínios
Seja você, aceite-se.