Ted Chiang
Os sacerdotes fizeram uma oração a Javé; deram graças por terem recebido a permissão de ver tanto, e imploraram perdão por seu desejo de ver mais.
E aqui estou eu, com pessoas, pessoas por toda parte, e ainda assim não tendo com quem interagir. Sou apenas uma fração do que um indivíduo completo com minha inteligência poderia ser.
Ela, como muitos, sempre pensara que o significado da matemática não era derivado do universo, mas, em vez disso, impunha algum sentido ao universo.
É um conceito equivocado pensar que, durante a evolução, os humanos sacrificaram a habilidade física em troca da inteligência: comandar o corpo é uma atividade mental.
A existência do livre-arbítrio vai resultar em nossa incapacidade de ver o futuro. E sabíamos da existência do livre-arbítrio porque tínhamos experiência direta com ele. A vontade era parte intrínseca da consciência.
Era mesmo? E se a experiência de conhecer o futuro mudasse uma pessoa? E se evocasse um sentido de urgência, um sentido de obrigação de agir do modo que sabia que agiria?
O universo físico era uma língua com uma gramática perfeitamente ambígua. Todo fenômeno físico era uma expressão que podia ser analisada de duas maneiras completamente diferentes, uma causal e a outra teleológica, ambas válidas, nenhuma delas desqualificada, não importava a quantidade de contexto disponível.
Sempre disseram às meninas que o valor delas está ligado à sua aparência; suas realizações são sempre ampliadas se elas são bonitas, e diminuídas se não são. Pior ainda: algumas garotas recebem a mensagem de que podem passar pela vida se valendo apenas da aparência, e aí elas nunca desenvolvem a mente.
Ser bonito é fundamentalmente uma qualidade passiva; mesmo quando você trabalha por isso, está trabalhando para ser passivo.
Devemos sempre nos lembrar de que as tecnologias que tornaram os meta-humanos viáveis foram originalmente inventadas por humanos, e eles não eram mais inteligentes que nós.
Viver com você vai ser como mirar em um alvo em movimento; você sempre vai estar além das minhas expectativas.
Os indivíduos, tragicamente, são como marionetes, animados de modo independente, mas ligados a uma teia que escolhem não ver; eles poderiam resistir, se quisessem, mas pouquíssimos o fazem.
Ele achava a perspectiva de prosseguir com sua vida, tentando amar a Deus, cada vez mais enlouquecedora. Podia tentar por décadas e não conseguir. Talvez nem tivesse esse tempo; como lhe tinha sido lembrado com tanta frequência ultimamente, aparições serviam como um alerta para preparar sua alma, porque a morte podia chegar a qualquer instante. Ele podia morrer amanhã, e não havia chance de se tornar devoto em um futuro próximo pelos meios convencionais.