Tássio Reis
Futuro
Amor, hoje é para você
Não se escondas no futuro
Tenho medo de te perder
Separados por um muro
Muito pode acontecer
É a realidade, eu aturo
Preso, não há o que fazer
Mas eu juro
Um dia te ver
Aquela noite pura
Terá de nascer...
Poesia e vida
A poesia escorre
Como água na cachoeira
Voa, cai e morre
Os olhos vêem a torre
Se esquecem da poeira
Uma perna corre
Na vida corriqueira
Perto da lareira
Escrevo um porre
Comovido por cegueira
Vida
Há palavras que me agradam
Mas você não liga muito para isso
Os dias vão falecendo
E consigo levam sentimentos
Antes seu amor me bastava
Hoje não encontro amor algum
Restou o ódio do mundo
E o entretenimento barato
Necessidades
A pétala desgarrada da rosa
Fraca para continuar residindo alí
Ela foi vagando pelo vento
Longe das origens
Perdido, sem destino
Apenas sendo levado
Vendo onde tudo acabará
Como viveria sem um caule
Como viveria sem outras pétalas
Como viveria sem as visitas do beija-flor
Vingança
Como assim não és uma flor
Ainda ontem ví tuas pétalas
E me ferí com teus espinhos
E ainda te dei o meu amor
Não há mais um jardim
Tudo está infectado
Tenhas medo de mim
Já peguei o meu machado
Implore por tua vida
Coisa mentirosa
Serás tempero de comida
Há de ser saborosa
Fim da Esperança
Lembranças de um dia ensolarado
O sol passava pelas copas das árvores
Assombrações de um fantasma do passado
Agora me encontro no fundo de um poço
Olhando ao pouco sol que entra desviado
Minha sombra está envolta de mim
E este anjo morto ao meu lado
A gelada água comessa a subir
Meu destino está selado
Tampam o poço lá de cima
Percebo ser condenado
O Rei
O Rei contente
Estava contentado
Com toda fortuna
Incalculável de ouro
Mas tanto não bastava
O Rei queria todo ouro
Causando guerras
Matando, destruindo
Eis que surgiu
Alguém maior
E o tombou
E o robou
Mas o Rei viveu
E fugira com a Rainha
Quando Alguém se vingou
Tirando da rainha a vida
O Rei agora viu
Que o ouro o cegara
E em pranto
Se matou
Você
Só quero que me engane
Mesmo que não me ame
Só quero que não me esqueça
Mesmo que eu mereça
Só quero que venhas comigo
Mesmo que não te dê abrigo
Só quero que não cesse a alegria
Mesmo que a morte me leve um dia
Por que todo resto é tolice
Já nosso amor é pura ledice
Solidão pós amor
Desde que tu me deixaste, meu coração bate
E cada batida é como se fosse uma badalada
E cada badalada faz meu corpo tremer de dor
Cada lágrima ainda fervente de dor
A mesma dor que carrego em meu coração
Mancha meu rosto
E infecta tudo que toca com tristeza
Tu roubaste meu coração
Espalhaste pedaços por aí
Mas eu não quero resgatá-lo
A fim de sofrer mais ainda
Engano meu
Você só usou meu corpo
Feriu meus sentimentos
E depois foi embora
Como já fez antes
Essa minha esperança
Anda me enganando
Como se eu fosse criança
Sem mais doçes na manga
Olho
Eu olho aos teus olhos
Não para me confessar
Mas para saber aonde olhas
Não olhas ao nada
E nem a alguém
Olhos que parecem pensar
Olhos que merecem chorar
Olho aos teus olhos
Mas estes não correspondem
E isto é mais doloroso
Que te encarar
Ou encarar tua ausência
Fração de inspiração
Raio do passarinho arisco
Ecoa profundo, completo
Trovão na escuridão
Meu sentido o captura
Semente no pensamento
Vaga-lumes na penumbra
Imaginados com ternura
O cursor intermitente
Na tela do eletrônico
Palpita umas palavras
Me guia ao inexistente
Regando letras na tela
Versos desabrocham
Flores para o beija-flor
Que brevemente cativo estivera
Ventinho
Eu vejo
O tímido vento que segreda sua admiração
Pelas pálidas flores de laranjeira
Que se soltam e flutuam até o chão
Trocando carícias com o vento
Eu imagino
Leves flocos de neve que marcam a estação
Viajando pelos caminhos secretos do vento
Pelas curvas tempestivas de seu turbilhão
Até pousarem como um tapete de marfim
Eu lembro
Do vento desenhando ondas no mar de verão
Descabelando palhas dos pendulantes coqueiros
Esculpindo em nuvens as tempestades que virão
Vento nômade que cativou os que ficaram
Me seduz
O uivo do vento que parece uma canção
Seus cheiros que contam histórias escondidas
Serei sereno ao receber a concessão
Irei morar no vento com suas magias
E eu cheguei de manhã no estacionamento e meus olhos procuravam beber das mesmas flores de ontem, mas hoje elas estavam murchas e sem graça, eram apenas mato pelo batente da parede. Que triste é um milagre de cores e fantasias se tornar indigno de atenção, aliás indignado estava eu, como podem durar tão pouco? Ouvi alguns passarinhos cantando em mim:
"O mais belo rosto do mundo está construindo em cada minuto sua velhice miserável, seu irresistível, e cada vez mais próximo fim." Cecilia Meireles
"... dura tempo o bastante pra se tornar inesquecível." Chorão
Bom, elas eram belas e discretas (como eu gosto), invisíveis pelos cantos construindo suas cores, suas flores. Desabrocham como um raio de sol que beija o orvalho da manhã, e suas cores faiscavam como estalinhos de São João. Meus olhos eram obviamente as fogueiras que queimavam de admiração. Mas tudo se acabara, ainda olhei mais três vezes para ter certeza que meus sentidos não me enganavam, por saudade e por esperança. Segredei-lhes baixinho - Quando irão florir de novo? - Eu, as borboletas e os passarinhos temos olhos ansiosos para fazer festa.
Olhei outra vez e percebi que as flores estavam na verdade fechadas (desdesabrochadas?), talvez para se esconderem dos amantes mais ferozes que seriam capazes de arrancar flores e jurar amor eterno, (pois a lua e as estrelas não podem roubar, é cosmicamente proibido!)
Com o passar da manhã, o sol expulsava o que restou do frio da noite e as flores se abriam, tão devagar quanto as nuvens que se arrastavam no céu, cada pétala parecia recém pintada. Não vi qualquer espinho esbelto e pronto para apunhalar, mas não a toquei, o ato de tocar nas flores pertence às borboletas que também desabrocham, são flores voadoras.
sobre depressão
Nada se vê com esses olhos apáticos
Enterrados na cova rasa das pálpebras
Cobrindo ocas catacumbas profundas
Onde ficam todos sentimentos mortos
Preenchidos pelo sussurro silencioso
Ecoando compulsivamente no vazio
Imagens de suicídios não vividos
Mariflor
De teus olhos voam borboletas
E plantinhas crescem em tua mão
O que imitas? O que interpretas?
Branquinha como um dente-de-leão
Seria Mariana essa flor discreta?
Levada pelo vento em qualquer estação
Cujo destino é colorir os versos do poeta
Uma canção
Uma musiqueta
Sobre a flor, o vento e a explosão
Como mil faíscas de um cometa
Júlia possui uma beleza exótica
Mas seu projeto apenas começou
Será Succubus em fantasia gótica
Quem saberá quantas almas ja devorou
Reunindo seus discípulos de sete vidas
Sonolentos e ferozes membros do culto
Miau Ozzy é ceifador de almas perdidas
Vulto, treva noturna, o oculto
O miau quer a cabeça do Batman Morcegão
Busca merecer o legado de seu nome
Caça morceguinhos atrás de informação
Quem suspeita da ceita da Júlia logo some
Seria tudo isso fruto da minha imaginação?
Ou mais um grupo secreto de renome