Tarcylla Oliveira
Perdoe-me o insulto, mas você é uma tremenda cadela. Tudo bem que ficou grudada a mim por um bom tempo depois que ele se foi. E a maior parte do tempo foi a única companheira, mas por que isso? Por que voltar agora? Depois que tudo está em seu devido lugar e os caminhos separados você vem e “Cabum” destrói tudo que esses meses aqui sozinha conseguiram me dar em progresso. Será que é verdade mesmo que você nunca irá embora? Sempre indo e voltando para dizer que não irá me deixar?
—Maldita saudade.
Não. O amor e felicidade a dois não pode ser isto. Não é como nos filmes ou como a vovó dizia ao lembrar seus romances. Ele não tem fotos minhas, não escreve cartas ou conta aos amigos a mulher que tira seu sono. Ele não me olha com ternura de quem está apaixonado, não sente ciúmes ou tenta fazer alguma surpresa. Por mais que tenha desejo e muitas risadas nunca será capaz de apagar a dorzinha no coração de dizer que o amo, ouvir o silencio responder e sua expressão não se alterar.
— O mundo desconexo de Alice.
Escrever me transforma. Ainda não sei quem é aquela pessoa séria de pensamentos turvos ou algumas vezes ideias bem estruturadas. Aquela pessoa que me observa em meus textos de forma madura. Tem uma xícara de café ao seu lado ou muitas vezes um cigarro e um Blues no toca discos a muito já ultrapassado, mas não para ela. Porque de certa forma essa outra parte vive em outra época e ao mesmo tempo tem os mesmos gostos musicais e vícios. Ainda não sei onde se esconde ou quando virá a tona, mas sei que é apenas uma parte de mim. Aquela que poucos se arriscam a conhecer.
— Amadurecer tênue.
A televisão sangra sujando o carpete e lágrimas rolam pelo rosto. Era para ser uma noite comum, o cansaço me levou a ligar a tv e estirar-me pelo sofá puído. Arrependo-me amargamente do ato. O noticiário retrata a história de um pequeno anjo morto por mãos covardes e pelo fogo. Uma pequena vida que mal começou. Os minutos que se seguem mostram fotos da menina, seus familiares desolados e o vídeo de como tudo aconteceu. Minha garganta fecha e meus soluços ecoam pela casa vazia ao ver o ônibus em chamas e a pequena cambaleando com seu corpo sendo consumido pelo fogo e chego a perguntar onde está a ajuda, quando um homem corre até ela e abraça seu corpo ao tentar desesperadamente apagar as chamas. Mal sabia seu anjo da guarda que também fora atingido pela gasolina no momento do ataque dos seres sem coração minutos antes. O anjo luta pela vida, A mãe luta pela vida e também terá que lutar pela sanidade. A pobre mulher não sabe que sua pequena menina que sonhava em ser princesa hoje tem um castelo no céu.
Não resistiu,
Eu não resisti,
E o mundo não resistirá
Se isso ainda continuar.
— Era apenas uma garotinha
E se o mundo não fosse acabar um dia? Perceba que na verdade ele está a acabar a cada segundo que vai escorrendo entre seus dedos. O mundo acaba o tempo todo ao nosso redor. A vida acaba.
Incrível não? Essa coisa de zerar e recomeçar ao virar o ano. Digo, não era para parecer assim como mágica. “Puf, zero horas dia primeiro só agora posso recomeçar minha vida” Isso está tão cravado na nossa cabeça que até hoje não conheci alguém que escapa desse sentimento de renovação. E de certa forma ainda não sei se isso é bom.
O tempo nunca irá mudar quem é você. Pode camuflar, mas uma hora a caixa que guarda seu antigo eu racha e você vai gotejando atrás de sua liberdade. O tempo chama e pela fina linha meu ser goteja.
Pinga
Pinga
Meu interior é vermelho
e o tempo não irá cicatrizar.
Essa é a história de uma dor que até então não tinha nome. Começou, se não me falha a memória bem fraquinha. Aparecia nos dias frios e tempestuosos, mas partia ao primeiro raio de sol. Logo foi ficando e deixando alguns pertences para aliviar o peso da bagagem. Quando ouvia seu nome ou encontrava algum indício, de que um dia você por aqui esteve ela enlouquecia e me abraçava forte com medo de eu manda-la partir. Até que um tempo atrás pensava tanto em ti, que acabei deixando que fizesse morada e constante companhia. Os dias estão frios mesmo com o sol a pino, mas não sinto mais nada além do que me permite. Hoje perguntei seu nome enquanto dividíamos em silêncio o café. Ela hesitou e eu insisti em saber. Com um encolher de ombros e uma voz melancólica disse:
— Sou você com o nome Saudade.
Podes encher o copo? Já que me acompanha. Quero poder zombar de que nem só estou de fato só. Você me observa no espelho acordar e deita ao meu lado no fim do dia. Solidão eu tenho pena de ti, uma vez que não é compreendida e por tantos temida. Mesmo sendo a única que sempre fica.
Menino do olhar bonito,
Por que me encantas?
Menino do sorriso bonito,
Faço-te sorrir?
Menino da voz tão doce,
Conte-me seu nome?
Menino do andar tão belo,
Mostre-me o caminho?
Menino que invade meus sonhos,
Sabes amar?
Olha independente de quem irá ficar do seu lado ou não você não pode asfixiar a sua verdade. É como cultivar um câncer de estimação. Uma hora vai destruir você.
E se o amanhã não for nada do que nós planejamos, se as promessas forem levadas pelo vento e nosso mundo se desenrole totalmente ao contrário dos nossos sonhos. Irei lutar contra o mundo para te ter novamente.
Quero contar um pouco de nós, quero lembrar os bons momentos, quero sorrir e chorar ao contar para os nossos filhos como você me conquistou e como me fez feliz. Quero que eles aprendam a amar, mas não em excesso para que não sofram, também irei ensiná-los a perdoar, pois rancor não nos leva para frente. Quero que eles aprendam que magoar a pessoa que ama é se magoar também e que eles saibam dar valor a coisas simples, pois essa é a formula da felicidade.
Amo-te e não nego. Amo o som da sua voz chamando meu nome, amo o tom rouco que ela assume quando fazemos amor, amo o seu cheiro que se prende aos lençóis. Amo acordar e te ver dormir tranqüilo com um vestígio de sorriso nos lábios. Amo cada parte de ti.
Gosto de música alta. Gosto de sentir gotas de chuva na ponta da língua e imaginar como seria se fosse neve, gosto de coisas simples, pois é na simplicidade das coisas que descobrimos pouco a pouco o caminho para ser feliz.
Às vezes me pergunto por que sofro tanto, por que me importo demais ou por que fico paranoica com algumas coisas, mas outras vezes penso que se tudo fosse tão fácil eu nunca teria aprendido os valores que tenho hoje.
Acredito no amor a primeira vista, acredito que sonhos podem se realizar, acredito que quando se ama de verdade os obstáculos são apenas motivos para continuar. Também acredito que sempre se pode mudar. Só não acredito que alguém possa te amar mais que eu.
Ando dormindo ultimamente no seu lado da cama. Talvez porque sentir minha falta seja mais suportável que a sua.
Algumas gotas escorrem pelo vidro gélido. Meu rosto encostado na fria janela está dormente.
Aguardo.
Os passageiros tomam seus lugares, dentro de alguns minutos iremos partir ao seio de Minas.
Oito horas para pensar em você e acariciar meu pequeno menino ainda confortável e dormindo em meu ventre. Oito horas e a cada minuto fugindo para mais distante de ti. Enquanto a serra e suas curvas tornam tudo mais frio volto a pensar. Apenas dois meses para você vir ao mundo. Como eu queria te manter seguro e lhe proteger do mal mundano, mas não temos escolhas virá ao mundo chorando assim como eu choro por ter de partir.
Guarda-chuvas se esbarram na estação e eu deixo o cabelo ensopar
Algumas pessoas precisam fingir que o tempo triste não as incomoda
Benedita, talvez este seja o nome da senhora de olhar oco e cansado.
Riem as crianças pisando em poças enquanto seus pais estão ao telefone
Isso sem perceber que trabalham demais para notar os pequenos
E quando se dão conta fugiram de seu alcance e desbravam o mundo
Lembranças são o que resta para Benedita, as crianças e seus pais.
Eu preciso de você
Mesmo magoada e algumas vezes tentando ao máximo segurar aquela lágrima que ameaça dar as caras quando diz coisas que são como cacos de vidro para meus pés descalços. Você sabe que dói e que não sou tão boa em esconder quando me fere, mas acredita que sou forte e que tenho que ouvir a verdade. Estou ficando calejada. Já é preciso mais esforço para me arrancar lágrimas. Esse amor machuca eu sei, sempre soube e mesmo assim pulei em queda livre para o infinito em seus olhos.
Eu nem sei por onde começar…tanto tempo que meus dedos não tocam a melodia ruidosa do teclado ao digitar e apagar até que saia algo pra ti, que mereça tua leitura. Algo que consiga dizer o que sinto quando te observo quando não está olhando e como já memorizei seu cheiro. Por sinal estou usando aquela sua camisa como pijama esta noite. Eu prometo parar de escrever sobre você e navegar na definição da cor dos seus olhos e como ficam tão lindos em qualquer sinal de claridade ou sobre a sua forma de me fazer rir quando estou irritada. Como diz que sou linda emburrada e que sei que faz isso de propósito. Meu amor eu prometo parar de escrever sobre você e começar a gritar sobre nós.
— Deliriar & Lavidapasse.
Escrever e chorar, velho caderno que absorve minhas lágrimas assim como ele se alimentou de minhas juras de amor. Pequenas letras que uma imensidão de dor guardam e me ajudam a suportar. Soluços que o travesseiro abafa por meus pais não poder acordar. Vontade de gritar chorar até perder a voz. por que dói, dói muito amor. sussurando seu nome disse adeus e eu te amo para o vento e que ele leve até você.
— Sua febre no calor de minhas lágrimas.