Tânia Quaresma
Sou minha. Sou inteiramente minha. O meu lugar sou eu. Eu não pertenço. A minha pele é onde habito, as minhas veias são o que me percorrem, o meu batimento é o que sinto, a minha respiração é minha história, o que penso é o que sou.
Sabe quanto tempo fazia que meus dedos não procuravam palavras pra decifrar alguma coisa que eu realmente estava sentindo? Você tem idéia? Eu me acostumei tanto a escrever o sentimento alheio, garoto. Que desaprendi a sentir os meus.
Se algum dia eu decidir, de uma vez, me jogar nesse mar negro que é o seu olhar, garoto, eu não volto.
Verdade seja dita: amor, só é amor com convivência e não simplesmente porque quer e deu vontade. Engana-se quem pensa que amor surge em um dia ensolarado, às três da tarde. Amor não se leva ao microondas, não basta três minutos, não é instantâneo.
Ser o centro requer muita responsabilidade, não sei ao certo se me mantenho firme ou se me sinto infinitamente frágil ao descobrir isso, não gosto que as pessoas esperem nada de mim, prefiro que tudo seja o que for sendo, entende?
Acho que a vida acaba por pregar tantas peças na gente, para nos sentirmos com a obrigação de mudá-la.
Eu procuro uma alma cafeinada, que me arranque desses sonhos mais bobos e ilusórios e me faça ver que tudo o que acontece instantaneamente é absurdamente mais atraente pra mim.
Eu temo demonstrar amor, apesar de necessário de vez em quando. É esse "de vez em quando" que me assassina. Tenho em minha cabeça a imagem de que as pessoas só batalham por aquilo difícil de se conseguir. Mas quem disse que também não se desiste fácil daquilo que se mostra impossível?