Tamara Klink
Sempre será mais fácil desistir antes da partida. A tentação será por vezes incontrolável.
Desistir é renunciar à chance de partir. À chance de descobrir que a vida pode ser muito diferente do que ela parece ser. Que nosso peito pode aguentar mais trancos, que nossas mãos podem ser mais precisas, que nossa garganta pode projetar mais vozes, que nossos olhos podem ver mais cores do que pensávamos ser possível.
É preciso ir longe, pelo menos uma vez na vida, para descobrir o prazer de estar de volta. Para separar o supérfluo do essencial, saber quem são as pessoas que nos fazem falta. É preciso completar a travessia para descobrir que o sentido de toda viagem está no ponto de partida.
Nossa casa é o único lugar que nunca partirá de nós. E o melhor lugar de onde partir de novo.
Se eu cheguei inteira, não foi por ter coragem, mas por nunca ter deixado de ter medo.
Coragem foi seguir em frente, mesmo quando a razão trazia novos motivos para desistir.
Os textos estão condenados a serem incompletos, tentativas de descrever um mundo que não cabe numa língua.
Não foi preciso ter coragem para chegar aqui. Foi preciso acreditar, caminhar, arriscar, renunciar, aprender, me arrepender, insistir e tentar de novo, de outro jeito.