Taís F. Sacchi
Não acredite naquilo que insiste
naquilo que deseja, que almeja
não tenha esperança, não espere
a colheita do mundo é inerte
Não sacia, nunca alcança
'Não' é palavra de herança
se alimente, sobreviva
o fim logo chegará
nada invista
Chegou o homem no mundo
e o mundo não é mais mundo
você é só nada
perdido ao meio de outro nada
Hoje eu me vesti de preto
Tirei o sorriso do rosto
Deixei mil lágrimas caírem em meu corpo
Contraí as mãos e rezei
'que os céus ouçam minhas preces'
'meus pedidos sem êxitos'
'minhas súplicas e desejos'
As mãos pequenas que não seguram moedas
O corpo sem fluxo, sem malícia
A boca que deseja o seio da mãe e nada mais
Criança linda 'lamento'
O que fazes aqui
nesse buraco de tormento?
Seus olhos voltados para as nuvens
O sol e o universo
Mal sabes que na verdade tudo é o inverso
Sem magia
Crescerá louca e preza em uma esquizofrenia
E será eternamente feliz se for fria
Transborde, respire, beba da água
MATE
a sede
Encontre seu interior
Deseje, almeje
Não pare, repasse
Se livra, se joga
Não pense, repense
A PLENITUDE É O HORIZONTE DO SER
E A MAIOR MALDIÇÃO DA HUMANIDADE É CRESCER
Ser ou não ser? Eis a questão.
Sofro num instante de mágoa e desespero
Na minha garganta tem um punho inteiro
E nem nos prazeres me vejo lisonjeiro
Caí na armadilha da vida
Me arrancaram pedaços nessas idas e vindas
Rasgos dos teus seios afiados
Amordaçados entre meus cacos
Te vi ligeiro
Passar dentre o devaneio
Cortar seus pés
Grito ao mundo inteiro
Suplico, te visto
És meu aviso, meu livre arbítrio
Escolhas que nos condenam
Sou culpada pela Repressão
E vivo num Regime Militar
Com regras e castigos
açoites e corações maciços
De pedra, de gesso
Todos com um único desejo:
SEJA ETERNAMENTE INFELIZ²