Tainá Wolff Bomtempo
Intensa. Oito ou oitenta. Quase nenhum equilíbrio. Às vezes, eu me canso de ser eu. Às vezes, eu me aceito exatamente como sou.
Um dia todo mundo já foi criança e teve medo de arrancar um dente de leite. E esse dente ficava lá, mexendo, machucando, mas o medo da dor em tirar o que já doía parecia ser ainda maior. Na vida muitas coisas são assim. Uma farpa no dedo, o receio de uma cirurgia, um siso que não para de doer (mas que você toma um antiinflamatório e, pronto! O desconforto aparentemente desapareceu!). Acontece às vezes comigo, acontece às vezes com você. Priorizamos relações tóxicas ao invés do nosso bem estar, desejamos parceiros muitas vezes destoantes das nossas necessidades, nos diminuímos para caber no mundo do outro. Desde amizades a relacionamentos, idealizamos pessoas, construímos situações imaginárias, romantizamos nosso sofrimento. Temos mania de cultivar nossas pequenas e grandes dores, sejam elas físicas, emocionais, espirituais. Somos apegados com a dor, com o sentimentalismo, com aquilo que nos faz mal, quando podemos simplesmente nos libertar. Nos foi ensinado desde sempre, através de filmes e histórias, que o amor resolve tudo, que príncipes encantados existem, que há um pote de ouro lá no final do arco-íris somente para quem se esforça. Somos tão cobrados socialmente, temos uma autocrítica tão enraizada, que idealizar pessoas e situações se torna extremamente fácil. Mas ninguém nos conta que idealizar pessoas é torcer lá no fundo para que elas te idealizem também. Afinal, por que simplesmente não podemos aceitar as pessoas como elas são e querermos ser apenas nós mesmos aos olhos do próximo? É tão mais incrível lidar com o que cada um é de verdade. Com seus defeitos, suas qualidades, erros e acertos. Aceitar que ninguém é perfeito, e que você também não é. Aliás, não devíamos nem querer que alguém nos olhasse assim. Não somos santos e nem pecadores, somos apenas humanos. É preciso amor próprio para ser quem se é, e é preciso amor próprio para se libertar. É preciso amor próprio para tirar aquela farpa do dedo quando se é criança, porque dali já entendemos que tudo bem, vai doer, mas é tirando o que nos machuca que começamos o nosso próprio processo de cura. Coragem é se deixar curar, é resiliência, entrega, aceitação, e acima de tudo, força. É assim, dando nosso primeiro passo, jogando fora o que não mais nos serve, e priorizando a nossa saúde mental, que compreendemos que dentro de nós já existe um pote de ouro pronto para ser descoberto a cada etapa do nosso autoconhecimento.