Susanna Almeida
“Quanto tempo levou,
para que houvesse tempo,
de o tempo ter nos trazido
o que somente o tempo traz?
Uma vida!
Um esperar impaciente!
Um desejo, de um repente…
Que de repente,aconteça!
Pouco tempo foi preciso,
para que o tempo trouxesse
o que não aconteceu,
o que nem chegou a ser…
O que faltou e nem soubemos
Como foi ou teria sido… (?)
Quem dera!
Mas que ingrato é esse tempo!
Que dita as ordens, cruel!
Que faz de nós, um refém.
Da espera…
Resta-me a liberdade de poder ser
Agora, apenas eu
Com meus anseios,
meus receios…
minha des-temperança,
Minhas calmarias
Em seus raros momentos
Minhas inquietudes
Meus pensamentos…
Meus - muitos - defeitos
E minhas - poucas - virtudes
Resta-me a liberdade
de poder dizer não, quando quiser dizer sim
Poder dizer sim se me aprouver, ou não
Não importando o quanto custe a reação
depois da ação…”
Finados
"Não procurem por nós nos campos-santos, aonde nem chegamos a estar. Lá, só foram largados os despojos que nos serviram de invólucros, por um tempo predeterminado, do primeiro ao último respirar... Procurem-nos em suas lembranças; É lá que queremos estar, até que tu mesmo, de ti não te lembres mais...'
"Indagou a flor ao poeta
Por quem choras tresloucado amigo
Não há de ser por mim despetalada,
Aqui ao chão, jogada
A virar esterco e pó...
Por mim não há de ser...
Já nem existo, perdi meu viço
Quando me arrancaram...
Deixando-me à mercê
Dos muitos transeuntes
Que passaram!
Pisoteando minh'alma de flor...
Pois flor tem alma, sabias?
Alma perfumada eu diria...
Cheirosa!
Como a rosa em botão!
Então me digas por quem choras?
Seria pela lua, risonha lá no céu?
Brilhante, como o ouro,
Como a prata?
Assim me matas,
Digas-me por quem choras...?
Vem minhas pétalas juntar,
Faze-me inteira num repente,
Para novamente te encantar..."
Minha relutância em sair da cama, vai muito além da vadiagem.
Meu desânimo vai muito além da preguiça.
Minha vontade de sumir vai muito além do debandar
Minha vontade de morrer vai muito além da covardia.
A minha alma grita, mas ninguém ouve almas, sequer as vê...
'Res-Guardados'
Reorganizando a vida,
a começar pelas gavetas reviradas,
de histórias embaralhadas,
não contadas,
lá, jogadas,
como arquivo não mais usado, por ora (...)
Já, com as portas distorcidas, que nem fecham,
extravasado, meu armário...
Não por roupas, que nem sobram,
pois me basta o necessário
que me cubra! Mas por sentimentos,
igualmente, lá esquecidos,
escondidos!
De modo a serem protegidos
da falta de amor lá fora...!
Ah, seu beijo!
Seu beijo é suave,
como Dente-de-Leão,
ao tocar o chão,
quando pára o vento...
Ah, seu beijo!
Seu beijo não tem pressa...
Detém-se no instante;
e despreza o tempo!
'Pétala'
A última pétala, hoje, murchou...
sem me avisar caiu...
foi lhe saindo o viço,
foi perdendo a sua cor...
e perdeu-se o branco,
e perdeu-se o rubro,
e perdeu-se o verde... Secou!
Murchando a flor,
perdeu-se a vida, então!
Também murchou, ressentida!
Aqui, perdida...
Eu..., o buquê,
mas não pela falta das flores...
E sim, por estar sem você!
Se, ficou em mim
algum encanto
dos cantos das cantigas
e contos das fadas
Se, ficou em mim
uma fiapo da esperança
da criança que eu fui,
então, eu posso esticar
meus braços e alcançar
o céu...
brincar as brincadeiras
das ruas...
das cirandas,
das estrelas
que com os dedos,
apontava!
Se, ficou em mim,
ainda está comigo
essa força inocente,
veemente,
então, eu posso esticar
meus braços e agarrar
a luz da lua...
E iluminar meu carrossel...
Que sentimento é esse,
que me tira a calma,
e me desnuda a alma?
Revelando-me o meu lado mais bonito,
o meu lado vulnerável de manteiga derretida?!
Não sou mais, forte!
Não sou mais nada!
Tenho a inquietação do bater das asas de mil borboletas!
Ah! Borboletas!
Pudesse eu, roubar-lhes as asas
eu voaria ao encontro do meu bem...
Mas, não posso;
a contragosto, espero um sinal...
O seu sinal que não vem...
Sobre o silêncio...
Minha poesia vai dormir agora.
Ou silenciar com teu silêncio,
Aquele que teimas
Em "usar sabiamente"
E que me faz mal...
Silêncio sepulcral;
O meu sepulcro!
É lá que repousarei agora,
E por ora,
Minha poesia
Repousará...
Criança, ainda,
Já, com tanta bagagem!
Para fazer a viagem,
fostes deixado na estrada.
Seus pensamentos pueris,
não lhe acompanham os pés,
obrigados a crescerem com os revés
da vida...!
E ganhar o chão,
e o pão,
e a lida,
seja como for...
Obrigado fostes, a pisar firme, embora, errante,
hesitante,
ao primeiro tropeção!
Criança crescida!
Que cessem teus medos, tuas lágrimas,
tua dor...
E nunca teus sonhos;
E nunca o amor!
Não sou bailarina,
mas a vida me ensinou
a dançar
e a abusar dos ritmos.
Nem sempre conforme a música,
Apenas sigo dançando... [ao revés]
Dançando, vou atrás dos meus sonhos
a cada passo que dou;
a cada sopro de vida...
Que me anima os pés...
A quintessência,
o uno,
a menor partícula, eu ainda busco...
Pode ser que a encontre – ou não,
na pétala que não se abriu,
ou abriu e não ficou um só dia,
nem houve tempo,
porque assim estava escrito,
e caiu ao chão...
Por um átomo, um instante,
um clarão;
uma sentença!
Que eu não tenha compreendido...
E deixei passar...
A quintessência, eu ainda procuro...
Estaria ela, na incons-ciência
das coisas que guardo em minha despensa,
no escuro...?!
Só seremos grandes quando juntarmos nossas forças, só seremos mais, quando não tornarmos o outro menos. Têm-se um objetivo, tanto melhor será, podermos contar com cada um que estiver seguindo na mesma direção...
Faça porque acredita. Convença, atraia pelo respeito, mas sem crer que a sua verdade seja a única. Cada ser traz em seu cerne sua versão da verdade capaz de mudar o mundo.
Por que você não me esperou?
Que pressa você tem;
teve...
Que pressa os dezoito traz...
Trouxe...
Que pressa intempestiva,
de final dos tempos,
de quem tem medo de perder o trem
para o futuro das coisas...!
Que pressa de meteoro que risca o céu...
e desenha ali, todas os sonhos de um só dia...
Como se nada mais restasse;
E resta,
e há;
e houve...
'...mas não posso deixar de observar o quanto pode ser benéfica essa nossa discrepância... Ela representa o espaço entre caminhar e voar... Quando houver alguma pedra um tanto mais pontiaguda a ferir os pés - nossos pés - eu te arrastarei para aquela antiga e desejada dança por entre as estrelas e, você por sua vez, ao me ver empreender algum voo mais perigoso, me puxará pelas minhas penas e, às duras penas [...] me trará de volta e me atará com correias aos seus pés...'
A liberdade mais desejada, não é a física. Porque se nos encerrarem no pior dos cárceres, ainda assim, não estaremos ali, se não desejarmos ali estar...
Com frequência, manter os pés no chão me assusta... Nada há de errado em querer voar um pouco e observar o mundo de lá, das estrelas!
A sua presença etérea,
ainda que por um átomo de tempo,
foi como colher todas as estrelas do céu,
multiplicadas e repartidas em mil pedaços!
A partir do momento em que percebi que, quem impedia os meus passos era o meu próprio caminhar, desfez-se o emaranhado tecido pela minha mente, e meus pés caminharam livremente pisando o orvalho logo cedo ao nascer do sol...