Sousa Carvalho
Poesia
Não sei se quero ser Deus
nesta terra morta,
onde Rimbaud
ganhou vida de artista
contemplado.
morrer não é ser louco.
ser-se Deus, talvez, sim.
Deus que é antigo
inveja nos poetas
a arte de fazer poesia,
essa perpétua sabedoria
que Camões soubera,
de forma justa dividir
para os seus descendentes.
artista, arte, poesia, poeta
não passam de invenções
humano, para os fazer crer,
que ninguém vive só,
com a vida que leva
presa como um fardo.
conheço o desejo de amor;
os anjos de josé régio
canto-o vivamente,
ridicularizando-o a ideia
de eternidade.
Cemitério
Olho o tempo, escuto o riso
que a tua boca
desmonta em felicidade.
a vida te eleva, levando
como o vento em dias alegres
carregando folhas de outono.
exprimo em poemas
a arte de fazer poeisia,
de repente trono-me Drummond,
de repente ganho a mortalidade,
sinto-me poeta. a morte
rizonha caminha
olhando com olhar súbito;
tem um encontro marcado
comigo num futro próximo.
a noite que se arrasta
no espaço livre
beija-me o corpo
como se tratasse de um morto
a desejar o enterro...
é pequeno o meu mundo
e, cabe num poema
e num cemitério.
nacionalidade
Qualquer homem que se acha grego diante da sua sabedoria,
Não pode querer ser um Deus romano.
Conversa
Alvorada? Qual? Tu, mulher?
minha morte? minha perdição?
não posso tomar por ti,
os teus cuidados
que não vejo esperança,
só para te garantir
a ideia de eternidade.
lamento. me perdoa
a sinceridade.
vim ao mundo para conhecer
o amor, mas parece que nele
também foi enganado e traído.
nada mais faço, senão enleiar
aquela convicção de vida
simples que os imortais
sonham sempre. é triste,
sabes mulher.
nasci sei que contente...
e o mais simples dos seres.
conheci amor sim, não nego.
conheci amor sim, não nego.
tanto que conheci drummond,
ducasse, rimbaud, pessoa.
conheci amor sim, não nego
Desgraça
quem diante de vos, senhora,
quem ó minha casta dama,
poderá sustentar a vossa fama
por resto da vida sem a sua aurora?
se ao amar-vos assim, é triste e morte,
antes só morte, dama singular
que solidão. porque essa arte de danar,
só tem engenho presistente.
mas o amor, só o amor,
que em meu nascimento,
vi com olhos de ver,
foi tão real, senhora sem pudor,
que dele ainda guardo contentamento...
maldito sejas tu, triste ser.