Silvanna Oliveira
Porque nós não devemos desistir de viver, se compreendermos que a vida não desistirá de nós, mesmo quando insistimos em ignorá-la despercebidamente.
Decido por fim, prosseguir em paz, passando por cima de dúvidas corriqueiras e adorando uma liberdade infinita. Cheia de borboletas que possuem querer, voando num céu que não tem volta.
Perco-me com minhas asas incessantes.
Tua falta não me alcança mais, e a tarefa de me amar continua na firmeza do concreto, na certeza do sol, no amanhecer de todo dia. Você não me dói, você não me nada. As coisas estão indiferentes, estão diferentes, acredite... não queira me causar, ou causar em mim o que já não é mais uma causa, mas uma consequência. A ferida fechou-se e a dor estacionou em algum lugar do espaço. Pode deitar e me expirar. O ar pesado já se esvaiu há tempos.
Bons ventos pra você.
Saudade é coisa de gente, é coisa inata, mania de ser humano. É caminhar pro futuro, estando no presente e sentindo um passado. É a ponte que une dois lugares: o antes e o depois, que é o agora e equilibrar-se sobre ela. O agora é a saudade de amanhã. E o amanhã, a saudade despida do hoje.
Descruzando as pernas e clareando a maquiagem, apenas desisto do assento para prosseguir em pé. Mudarei o significado de paciência pra continuar em vez de esperar - desesperadamente.
Eu me sinto como um poço de sensibilidade, fruta madura, cheia de amores ainda verdes. Sorri na minha cama ao pensar nos milhares de começos que a vida me deu, mas as continuações que ela não me pemitiu. Ou eu não me permiti. Ou não foi permitido por alguma coisa menor ou maior que eu. Sorrio porque adoro esses contos de estrada: curvas incansáveis, palavras retilínias, ações tangentes. Distraí-me olhando as horas e esqueci meus olhos no nada. Depois veio você.
Adormeci de olhos abertos.