Sérgio Sant'Anna
A pulsão que me leva a continuar a escrever é que a escrita é o meu ofício e sempre descubro coisas novas nele. Não gosto da mesmice.
É oportuno dizer que ao escrever não me preocupo explicitamente em inovar. Uso a forma que o texto pede.
A música desperta fantasias sobre as quais se pode escrever, inclusive fantasias amorosas, ainda que de um amor platônico, da alma.
Aliás, me incomoda até, e muito, que a literatura seja tema da literatura, que o protagonista de uma obra seja o escritor, levando a maior parte do tempo uma vida tão solitária e mortificante, escrevendo a duras penas um livro sempre na iminência do fracasso, num processo contínuo de autoflagelação.
Podemos afirmar, então, que se tratava de uma loucura inautêntica, desejada, como se a vida fosse um teatro onde as pessoas pudessem arvorar-se um papel e representá-lo enquanto lhes desse vontade.
Parece-me, às vezes, que você possui uma tendência, como um pássaro de longo alcance, a refugiar-se em territórios distantes, inacessíveis.