Sebastião Jacinto dos Santos
No jardim secreto
da vida, estou sempre a refazer
a lenta mania de existência!
Lágrimas, misturadas a sonhos retos,
capazes de furarem a alma,
nesta estranha ciência do ser!
Minha alma segue fraturada
pelas heranças do tempo!
Palavras Demolidas
Estas palavras demolidas
Por canhões e balas perdidas,
Lançaram-se a escorrer pelos
Rios da gramática.
Escorre como água,
Sangra a lavar meu corpo,
Proferindo palavras de ordem
Em meus poros, em pequenas
Gotas de vapor enodoam pouco a
Pouco, a minha alma esmolambada,
Perdida em substantivos abstratos:
Uma guerra sangrenta do pensar!
Estas palavras demolidas
Vão ser reerguidas: letra a letra,
Ajudando-me a brincar de dizer o
Nunca dito, de inventariar a sorte do falar,
De negligenciar a morte do pensar...
A CRIAÇÃO
Teu sorriso embebido no papel,
Escorrendo sobre uma tinta salutar
O vermelho que contorna os teus lábios
Te faz viver, te faz dançar!
Assim a vida vai brotando lentamente
E o pincel se torna a mão do criador
O ventre virginal da tela é fecundado
Com o respingado da fresca tinta!
O sêmen tinturado se fecunda
E os dias das vigílias são constantes
O artesão da criação a trabalhar
Para dar cabo ao ressurgir do universo
Os dias da labuta multiplicam-se
Os traços, as curvas, os círculos são traçados,
Os arrependimentos encobertos
E esse deus criador se move em esperança!
Nasce um mundo encoberto pelas tintas
Parido pelas mãos de um pintor!