SDerzy
Foi assim em um piscar de olhos. De repente, eu pude ouvir uma voz bem no fundo do meu inconsciente, e ao fechar os olhos ele estava lá.
Existe amor, existe vida, existe algo tão inebriante como um absinto e tão fugaz quanto o vento. Algo mais profundo entorpece meu corpo e se intromete em minha existência, mas logo tudo ficou calmo como outrora. Isso é inexplicável. Eu apenas sinto.
Como se a luz surgisse e esclarecesse toda e qualquer dúvida que me consumisse, finalmente pude interpretar os sinais. Eu o amo. E já não restam mais dúvidas sobre isso.
Eu já te esperava antes mesmo de te conhecer, e quando conheci inconscientemente tive a certeza de que seria você.
Sempre foi você, porque quando eu te provei descobri que nunca estive saciada, na verdade estava faminta.
O que eu sinto vai muito além de qualquer coisa que já experimentei entes, eu te vivo e te respiro.
Sempre que o vejo sorrir inconscientemente acabo sorrindo também. Não sei se a causa desse frio na barriga vem da maneira que os dedos dele brincam com meu cabelo quando me deito em seu peito, ou se é pela forma que a gargalhada dele explode em uma fração de segundos sempre me pegando desprevenida. Eu só sei que todos os detalhes dele são o caminho sem volta pra minha perdição. Já nem consigo mais prestar atenção no filme.
Aquele calorzinho no peito que eu sentia antes já não era mais uma mera faísca, e sim um incêndio inteiro, se alastrando pelo meu corpo cada vez mais e mais, me mostrando que já não tenho mais controle algum sobre isso.
É quando meu nariz percorre a pele de seu pescoço que posso sentir o perfume solar e quente que emana de seus poros. Um perfume que nenhuma perfumaria conseguiria reproduzir, um cheiro único e particularmente dele.
É tudo como a mais harmoniosa sintonia. O encontro de dois corações pulsando na mesma frequência tão próximos um do outro. Seus braços são como uma redoma; uma cúpula de vidro que me protege e me mantém segura. Quando ele me envolve finalmente me sinto em casa.
É tão irreal que eu tinha medo de que isso fosse um sonho, que minha mente estivesse me pregando uma peça. Tinha medo de acordar e de repente ele já não estar mais aqui, e sobretudo tinha medo de não poder fazer nada a respeito.
É preciso ter cuidado para não me perder no abismo dos olhos flechados em minha direção que me observam silenciosamente, na pintinha em seu nariz, nos cílios longos e espessos, nos dedos calejados que passeiam em mim, no cabelo macio e charmosamente bagunçado pela manhã, no beijo mentolado, na voz suave e melódica que soa em meus ouvidos causando um estranho calor no meu estômago, o tom que reverbera pela minha pele e faz com que todos os pelos do meu corpo se ericem em resposta.
E mesmo tomando todo cuidado do mundo, é impossível não se perder em Victor Hugo.
É singular a forma que me faço dele, a forma como sempre fui inteiramente dele sem nem precisar nomear. O sentimento que invade é pacífico, calmo e paciente. Rapidamente se embrenhando em minha pele e ossos, invadindo todo o meu ser sutilmente e sem hora pra ir embora.
Não planejei, não calculei, tampouco previ que seria assim, mas me invadiu e inundou a mente, corpo e alma. Me colocando em um lugar que não me esforço pra caber.
Eu podia sentir todos os detalhes de sua anatomia sobre a minha, o peso do seu corpo pressionado ao meu causava uma sensação indescritível e boa demais para simplesmente ser ignorada. Ele sabe que eu estou completamente a mercê de si.
Palavras não são suficientes para descrever o quanto estou fatalmente apaixonada. Sua boca acetinada sela a calmaria que me acomete o peito, como ele me rendia fácil, era surreal.
Vaguei durante muito tempo em busca de algo que sequer tinha forma, cor, textura ou cheiro. Por muito tentei preencher um vazio crescente no peito, por muito me frustei ao me sentir cada vez mais desguarnecida.
Vagarosamente a figura foi tomando forma, a pele parecia absorver a luz, reluzindo de volta o tom quente de uma alma cheia de histórias ainda não contadas. Meus dedos percorrem caminhos distintos ansiando por sentir cada vez mais a suavidade acetinada de sua tez. Os olhos profundos revelam o que a boca não é capaz de pronunciar, e é quando me enlaça em teus braços que sinto o cheiro familiar que se agarra à minha pele e roupas, o cheiro que parava o tempo e evocava memórias, sussurrando em meu ouvido que sim, te encontrei.