Sávio Oliveira Lopes
SALVE-ME
Não há razão para fugir,
Se do amor,
A melhor liberdade,
É a prisão de o sentir.
Quando a felicidade
Requer um ato de coragem,
O risco,
Ao lado da esperança,
É bonito.
Em cada gesto e palavra,
Tudo o que você faz é belo;
Estive perdido
E vi em você o caminho certo.
A vida nos tem sido cruel;
Poderemos enfrentá-la sozinhos?
O receio de um novo mal
Faz todo recomeço carregar consigo
Um medo natural.
Salve-me dessa espera delongada,
O silêncio nos faz frio na alma;
Na decisão dos seus passos,
Condoe-se com os calos
Que em meus joelhos por ti faço.
SORTE NA VIDA
A sorte se apressa quando passa
E não espera decisão demorada;
As oportunidades perdidas
Um dia nos lançam na cara
Que tivemos a nossa chance
E não fizemos nada.
ESCOLHAS
Às vezes,
Surgem pessoas na nossa vida que,
Mesmo sem bem conhecê-las,
O coração já sente que são especiais.
Às vezes,
Conhecemos outras que
Nos tocam de alguma maneira,
Mas, a velha intuição, diz:
“Não dá certo. Besteira.”
Qual escolha será bem feita
Se, no ofício do amor,
A experiência é útil e,
Por vezes, traiçoeira?
Entre o risco e a segurança,
Decida por felicidade.
Ela pode estar em uma ou outra parte.
Lira das tradições
Em vinte anos de vida,
Olhando minha felicidade aprisionada
Em convicções abstratas,
Que se sustentavam em colunas de medo,
Tentava eu entender as tradições
Que havia herdado.
Desprezei o pragmatismo,
E, o esquecimento do passado,
Me fazia repetir os erros,
Hospedando-se em mim
Lembranças sem aprendizado.
Tenho agora todo o meu prazer buscado.
A consciência, por inteira,
Se remonta à ideia
Da privação de imortalidade.
A felicidade sem sofrimento é frágil edificada
E, se eu deixar a inquietação, perco a poesia.
A biologia que aprendi na escola
Levou-me à previsão
Das mudanças fenotípicas que viriam;
Recuso tê-las e elas vem sem titubear.
Apertei num abraço
O sentimento da Indesejada
E soltei a vida que havia em mim.
Livros, músicas e cidades
Que não apreciarei:
O tempo é uma especialização
Selecionada de escolhas.
Eu sei o que a minha amiga pensa de mim:
O mal da primeira impressão é que,
Quando boa,
Vincula o preocupado a viver
Das expectativas dos impressionados.
Uma tempestade
Ameaça o meu navio.
Sávio Oliveira Lopes
Ontem, hoje, amanhã
Cogitei viver o hoje,
Intensamente,
Alheio as inquietações
Do ontem e do amanhã.
Se me prendo ao passado,
Tenho melancolia,
E, se me amarro ao futuro,
Vem-me ansiedade.
Mas como acharei a reflexão
Sem a experiência pretérita
E a esperança vindoura?
Perdendo a inquietação,
Deixo ir a almejada maturidade,
Que leva consigo a poesia.
Para cada hora,
Realmente vivida,
Passo incontáveis momentos
Na doce entrega de meditá-la.
Escolhas nascem em lembranças
E a razão do meu presente
Se justifica nos planos porvir.
Não devo,
Por conseguinte,
Viver um só tempo.
O equilíbrio do
Ontem, hoje e amanhã
Me fará Ser Inteiro.
Sávio Oliveira Lopes
MORRI
Talvez eu chegue aos 90,
Mas morri aos 27.
Já tinha morrido aos 19
E também aos 24.
Não sei se ressuscito mais.
Até agora,
Tenho 28 anos.
Estou aqui me perguntando
Quais as outras mentiras
Terei descoberto sobre o amor
Quando já tiver nos 30.
Pessoas são temporárias,
Sempre à procura da menor dor
Ou do maior prazer;
Sempre fugindo
Ou tentando se encontrar.
E é por essa imprevisibilidade
Que você é abandonado,
Ou às vezes achado.
E quando finalmente entendes isso,
Aceitando dos corações a transitoriedade,
Nenhum encontro ou desencontro
Te afeta tão fortemente
A ponto de lhe parar a vida.
Ninguém é inteiramente feliz
Ou inteiramente triste.
A vida é uma combinação aleatória
De um gosto amargo e doce.
Sobrevive bem quem é natural
Em cada dose: contido na alegria
E resiliente na infelicidade que não espera.
Às vezes, é longa a cura
Até o estágio de não sentir mais nada,
E não mais recair ao se encontrar
Em um lugar de onde já se partiu.
Amei, por isso chorei.
Aprendi. Cresci.
E dor talvez melhor me tenha sido do que
A sorte de nunca ter chorado,
E a tragédia de nunca ter amado.