Saulo Nascimentto

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⁠Fragmento II - O canto do fim

Estrelas descem e atiçam a chama violeta.
Cães da virulenta coletividade conduzem os que anseiam, imprudentemente, o devir dos insaciáveis.
Assim, os infortúnios que favorecem os excluídos, são as bem-aventuranças da individualidade desperta.
Saulo Nascimentto

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⁠Fragmento I - Ankou

Um vulto indistinto, entre outros vultos distantes.
Não houve um tempo em que ele era, não houve sequer um instante.
Os outros deixam para trás seus sonhos, desejos e deveres, seus inconstantes.
Ele, porém, em seu sadismo divino, ínsito na própria penumbra,
flutua, do nascimento ao desaparecimento, protegido no seio da imortalidade.
Saulo Nascimentto

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⁠Há quem... I

Há quem sacie suas vísceras na lamúria e seus trovões na Babel.

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⁠III - Caso pergunte

Perguntei, contudo, resposta alguma obtive, exceto do silêncio, antes o barulho.
Esquadrinhei a fundo, porém, o chão ainda dava aos pés.
Já não é do tempo o remorso ou da fagulha o fogo.
Não é lenha que esbraseia, nem é pó que cinzenta lassidão.
Não é ferro que ferruja ao ato, nem cinzel que fumega coisa fugidia.
Antes que percebas devota-te em ser, pois o homem, o homem faz perguntas que não quer saber.
Saulo Nascimentto

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⁠Fragmento V - Cogitativo autotélico

E, nesse ponto, a impressão do entendimento de origem instila que, a manifestação da intenção intuitiva e a dedução de causa observável, a partir da simultaneidade da experiência, predicado de conhece e não conhece algo, libram arquétipos prematuros que paliam razão inadequada.
Saulo Nascimentto

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Fragmento VI - Violência simbólica

Peço-te, mostra-me como ter-te em liberdade.
Dou-te a boca, e não me chamas pelo nome.
Tiro-te o chão, logo começas a gritar.
E se teu grito é liberdade, por quem clamais?
Cala o teu brado, pois não há quem desperte.
Já não adianta reconhecer tais desequilíbrios.
De ato para si e ficção para o outro.
Tal a tirania do teu beijo e a ironia da tua face.

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⁠VIII - Caso Democracia

Ainda que por ti tenha tamanho afeto, fui néscio ao constar em parte teu.
Sofri o que minhas lágrimas a ti contaram, a dor e o porquê mensura-se, pois dos homens fui cativo em ordem humana, sendo assim, amiúde pejoso vício e ignávia fantasia.
Todavia, uma brisa leste sustou-me tal censura, posto que não houve nenhuma razão para o feito. Desta feita, estou a par de que uma só é a verdade.
Portanto, torna-me um em teus braços vulgares e desperta o que de mim suportas.

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⁠IX – Caso Democracia II

Dá-lhe paz moribunda à dama marginal, sê-lhe bom filho e devota-lhe sentimento virtuoso.
Provai, e vede que no dia de tua necessidade te será por penúria e agravo.
E tu, criatura do sentimento, conhecerás o rebento de tuas chagas, o biltre de vida artificial, o qual sem nome, nem rosto, figura o senso.

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⁠XIII - Caso Ontem II

Peguei-me pensando no ontem como quem junta retalhos, agora, o ontem, é apenas uma lembrança fragmentada a ser discutida.
Para mim tais lembranças são como um sonho, tendo em si mesmo sua própria condição de realidade, porquanto, diante da perspectiva do tempo, a diferença do ontem para o hoje é a reminiscência do instante no processo de transição da realidade temporal à realidade atemporal.
Trata-se de um rudimento surrealístico do tempo que transgride a verdade sensível e condicional do momento.

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⁠IV - Caso lúcido

Dar-se que passiva consciência acomode lucidez duvidosa ou que razão aparente seja reflexo primitivo.
Ora, motivo algum tiveram os homens, cônscios quanto ao ato, juraram inocência, não há que estranhar tamanha rapina, é que nascido o homem dificilmente sobrevive o ser.

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⁠Efluir

Fosse tristeza só minha, choraria, mas é de meu corpo, das juntas a alma, mais que o sangue.
Fosse sangue só meu, morreria, mas é da vida, pobre vida, esvai-se em sangue, agora, também em lágrimas.

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⁠Fragmento VIII - Violência simbólica II

É em tal precipício de pulsões que o fortuito cumpre o hábito.
A brisa torturante varre o antídoto da inópia, assim,
não pode experimentá-lo nem morte, muito menos vida.
Não há armas nessa peleja; nem tampouco ato que livre.
Parcas águas não podem saciar o homem sem domínio de si,
obstinado a beber daquilo que lhe é comum.

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⁠⁠Fragmento VII - Algea

Uma vez que a tristeza é violentada em sua sutileza, nem mesmo Hélio, em sua rogativa, pode amainar seus ventos, de sorte que, barafustar é seu penúltimo ato antes da atimia.
Aquilo que o homem desconhece de si, intui do outro, sendo tal conhecimento, desrespeitoso e inclemente.
Asseguro-te, diante da tristeza, o aninhar de um abraço possui mais poder transformatório que a faculdade de entender o abstrato de outrem.

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⁠A meia lua

Um lugar tão longe.
Ao ser, um vazio.
Uma lua ao distante.
Um distante tão sombrio.
Foi da lua tal o brilho
Que do ser, um lugar
Um vazio tão distante
Foi-se longe ao luar.

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⁠Caudal das lágrimas

É diante de todo este conforto que o homem chora, contudo, desfazendo-me do que é colo, apego-me ao que é sonho, pois sonhar já não é tão simples.
Porque se sangro, sangro de meu corpo, daquilo que me é carne, por aquilo que tão pouco sei.
Assim, para debelar tão puro ódio, tarda-se a oração, pois tal delírio me induz a realidade.

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⁠O caminho

Sei lá!
Vai lá que sei?!
Se é lá que vais,
então é lá que eis!

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⁠Alfétena II - Fuga

É a verdade que devoro ou talvez o tempo, quem dirá?
Sou uma prisão da qual não posso escapar!
E, caso fosse possível, para mar ou além?
Em um mundo de tão pouco, há de considerar-se a pena.

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⁠Lealdade de uma decisão

Parece que o amor traz consigo muitas alegrias, e somos nós quem nos encarregamos do sofrimento. Toda condição para amar é uma estrada para sofrer. Se rejeita, machuca e maltrata o amor, até mesmo pelo desafio de conhecer o limite do outro, entretanto, poucos aceitam o desafio de amar com o equilíbrio de quem deseja o bem, estando ou não em uma relação. Há quem entre na nossa vida sem trazer nada, mas ao sair acaba levando muito; e há quem venha para nos devolver aquilo que não tirou, sem esperar recompensa ou gratidão. Eu acredito, há muito tempo, que o amor não é um sentimento, mas uma prática que, como tal, necessita de encorajamento e disciplina, em síntese; da lealdade de uma decisão.

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⁠Alfétena I - O sol da liberdade

O sol que não é livre não pode fazer libertos, principalmente, quando se trata dos necessitados.
Assim, a figura de poder, por questões, que não pode evitar, está subjugada ao poder, e, por conseguinte, é análoga à liberdade.
O poder do fogo é o dano.
O da água é a cura.
O disfarce do desejo é o amor,
O da figura de poder é a liberdade.
A liberdade, devido à sua natureza de propriedade, contrapõe-se ao domínio, mas não ao poder.
Qual pai, ao gerar um filho, o delega permanentemente a outros, ainda que estes lhe sejam hierarquicamente subordinados?
A liberdade chora.
Há muito deseja filhos.
Filhos para alimentar,
Para ensinar, repreender.

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⁠O homem sente por sentir vontade

E quem me dera um dia ver-me diferente, encontrando sentido além das razões por trás da mente, sendo coração que pulsa apressadamente, apenas por saber que é verdade. E se é verdade, dou-te tudo o que encontrar no caminho do meu eu; do apego à solidão, que habita nessa imensa vastidão desconhecida, à medida dosada da paixão.

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⁠Máscaras do apresentável

Há sempre uma oportunidade, um convite à observância do nosso homem interior, pois se o deixarmos ao tempo, o tempo o tornará estranho até mesmo para nós.
Quem não molda seu interior acaba se acostumando às máscaras do apresentável, passando a viver em uma constante emulação do subjetivo, ou seja, uma intimidade oportunista e concomitantemente contraditória.

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⁠Algo de mim

Quisera eu...
Ser mar, ser jardim, mundo afora ou em mim.
Tenho em mim tão pouco.
Se parto, em vão; se fico, a sós.

Quisera eu...
Ser assim, ao menos em mim:
mar... jardim...
Pois se fico, em vão; se parto, a sós.

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⁠Morna tristeza

Quisera eu livrar-me da morna tristeza, que chamejasse, pouca ou alguma verdade.
Há fogo, contudo, aceso na chama do desapontamento, assim, como carne e sangue.

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⁠Novo amanhecer

O arrependimento não nos permite voltar a um momento desejado para realizar-mos uma mudança almejada, contudo, o ato de arrepender-se nos liberta do loop punitivo da consciência diante daquilo que é absurdo até mesmo para nós. Acredito que essa é a força de um novo amanhecer; o prazer de vivermos um novo dia em nosso mundo interior e, assim, sermos transformados pela renovação da nossa própria consciência. Um novo dia não é garantia de mudança, tampouco o arrependimento, porém ambos são ferramentas para tal, diferentemente do remorso, que nada pode fazer, exceto reviver a dor em um ciclo de culpa.

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⁠Fragmento III – Quimérica desigualdade

Há certa semelhança entre a igualdade oferecida pela lei, a proposta pelo racismo e a que é esperada pela sociedade. Talvez a percepção oferecida pela lógica substantiva, da ética valorativa, não contemple o propósito da reciprocidade em uma relação social.
Assim, a desigualdade é mais um reflexo quimérico e sistemático, refletido por qualquer modelo de coletividade, gerando toda forma atrofiada de ética, moral civilizatória e percepção sensorial do mundo externo, destoante de qualquer equilíbrio.

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