Sarah Bulhões
Ambos nos perdemos, uns dos outros, mas só você aceitou. Eu permaneci sozinha, na oportunidade de passar todos os dias na mesmice, fitando uma folha de papel em branco, sem razões para escrever. O cigarro ao lado do papel acabou deixando minha voz um tanto áspera, assim como o toque de minhas mãos. Troquei-te pelo álcool, pelo menos é um vício prazeroso. Apesar dos esquecimentos, há lembranças, apesar das perdas, houve procura, apesar de você, ainda existe eu.
Eu não sou toda errada, tampouco imperfeita. Não me venha fazer eu me sentir culpada, ora certa, ora aquela que um dia te fez chorar. Posso não ser suficiente pra você, contudo, acho que você que não foi o bastante para mim. Só me poupe de exclamações e interrogações onde hoje, não há nada menos do que um ponto final.
Sou o que costumávamos ser,
Talvez, o que dizíamos ser,
Ora, apaixonados, ora dilacerados.
Só faça cessar, porque tu sabes que cansamos.
Sou o que nós sentíamos,
A consequência de ambos.
Dois corações, um amor,
Tantos amores paralelos.
Sou o que sonhávamos ser,
Domingos e uma cama bagunçada.
Sonhos tão realizáveis,
Esperanças jogadas à traça.
Cartas lidas, relidas e amassadas.
Eu as queimaria,
Contudo, nada me alimenta tão bem
Quanto tamanha nostalgia.
A folha é branca e passo a passo,
A preencho com palavras.
Sem rumo, um tanto vazias,
Me basta ocupar qualquer espaço.
Tudo se dissipa.
Nada se retorna,
O silêncio inquietante soa a minha’alma
Sou poeta logo que escureço,
Quando devagar, pesa o fardo.
Dor de amar, que sem sinônimos
Mantenho num resguardo.
Temo tal continuidade,
Que me causa tamanha insanidade
Se dependo do sossego,
Permaneço imune, nesse mesmo aconchego.