Santos Vasconcelos
Soneto sobre um sentimento profundo
Sou assim...
Uma lágrima que escorre
Um sorriso que alegra
Uma mão que protege
Uma palavra que machuca
Um olhar que se apaga
Sou como o vento que leva a respiração
E traz um sentimento bom
Sou como um abraço que produz saudade
E carrega o silêncio eternamente
Eu sou metade, metade de alguém
Que se encosta nos braços da dor
Pois a outra metade, pouco a pouco lhe entrego
Para que assim tu me faças a perfeição que não sou
Soneto sobre Oração
Venda-se o olhar do Santo
Sepulcro do Cristão
Indulgência que amargo é o pranto
Através de pecaminosa palavra de Oração
Transcende-se a voz do Cardeal
Perante a lei do céu Supremo
Filho bastardo de mero mortal
Que saliva Onírico veneno
Vedes o manto que Sagrado estampa
A boca do Bastardo que profana
O Pai Nosso de alguém
Vedes o Homem que absorve fé em pandemia
Receptáculo dos versos da Ave Maria
Amém
Paróquia
Inestimável opúsculo dos Céus
Incrédulo Chacal das liras
Puro e maquiavélico
Paladar de fera e visão de Quimera
Cabal e trucido
Na imensidão que assola o olhar do Santo Filho do Homem
Astuto que consome à veia
Em Oração que tísico é o coração
Minutos antes da mão que peia
Em plena Morféia de interna reclusão
Coração:
Nascido
Crescido
Conhecido
Martirizado
Amado
Cansado
Sofrido
Odiado
Transformado
Partido
Compreendido
Repreendido
Retalhado
Caído
Erguido
Cosido
Abraçado
Prometido
Casado...
Nascido
Menina Da Garoa
Senta-se na chuva a menina da garoa
Que carrega um guarda-chuva que de nada te serve
Procura pequenina um abrigo solitário
Onde o medo te conhece
Abrigando teus olhos amedrontados
Menininha sem coragem que nem o amor lhe perdoa
Que carrega um coração que a inocência aquece
Desabrocha pequenina um sentimento apagado
Quanto à vida, que lhe espere
Com seu brilho ofuscado
Amar V.t:
Amor significa expressar, compreender, amparar, estremecer
Mas não chorar as lágrimas de outro alguém
Deixe que ele as chore
Para que assim tu possas enxugá-las
Brasilidade
Pendurei um pomar nas várzeas do meu sertão
Não uxicuruá ou paxiúba
Minha caatinga, meu vau
Que de raiz à raiz molha a laranjeira
Aqui não há tucunaré ou guanumbi
Só semente da terra que seca em meus pés descalçados
Nem o moço tupi me perdoa
Que terra seca, que olhos pálidos
Oxalá! Dita o negro surrado
“Não te preocupe, fí de Deus, terra há de se tornar teu berço!Oxalá!”.
Pois sim
Lá está um fruto graúdo do meu pomar
Felicidade do meu Brasil!
Um Poema Desesperado
No horizonte se vai o camisa dez treinar o trabalho duro de viver
Onde?
Enquanto o camisa zero de nossas ruas acorda o mais cedinho
Tão cedinho
Esquecendo-se do penteado dos cabelos, do café bem requintado
Não lhe cabe a exuberância do olhar
O olhar é ora triste ora vago
Que não desfaz a satisfação de mais um dia de vida
É singelo... Quem lhe diga não valer nada
Mas quem lembra por nossa farda ora laranja ora maltrapilha?
Quem?
Vale mais lembrar por nossa farda elegante, sincronizada?
Vale?
Digo eu e quem quiser que se opunha
Valha mais o maltrapilho “poeta” de nossa gente que o galante “poeta” por si só.
Quatro maneiras de pedir perdão à uma mulher.
1º. Compre-a, jóias, parafernálias,
Diga as falácias mais belas
Segure suas mãos e lhe prometa a ternura da vida
Prometa uma promessa inesquecível
Perdão, é uma palavra inexistente quanto a isso
2º. Compre- a flores e uma caixa de chocolate
Ofereça-a um jantar selado à luz de velas
Diga as palavras mais singelas
Recordadas de um dicionário
Suavemente peça-lhe perdão
3º. Flores morrem rápido assim como chocolate derrete
Crie a dúvida de que se ela te amar
Perdoará-te
4º. Deixe-a que ouça em um abraço apertado, seu perdão.
Reticências
Como poeta escrevo um pequeno verso
Como criança escrevo em uma folha meu nome
Dou risada, encontro felicidade
Da meninice passada
Hoje... Como poeta escrevo um pequeno verso
Como menino eu conto mentiras
Dou risada, encontro felicidade
Nas lembranças passadas
Ontem... Como poeta escrevi um pequeno verso
Como poeta eu abro o coração
Dias sim, dias não
Sou uma caixa de surpresas
Desvenda-me então...
Soneto Sobre Amor
Sentei-me a uma cadeira ao lado
Transbordando outra cadeira vazia
Não fechei os olhos por medo de sentir-me triste
Em cada relógio em que as horas não passam
De minha boca gelada esvaem-se suspiros desanimados
Em momentos em que o frio cristaliza-me interiormente
Interiormente sou inóspito
Que nem a dor atreve-se a se aprofundar
E horas se vão, horas não vêem
E profundamente paralisam-se
Em um segundo...
Enfim... e quando me levanto da cama
Permaneço estagnado em uma lágrima
Perguntando-me... O que é amor?
Doce Amor Descontente
Ganha-se coragem, perde-se certeza
Conquistas, se para algo te serves à liberdade
Para que em meras palavras encontre sutileza
Em alguém que se conforma
Em agonizar por infame beleza
Se é tão pequeno esse amor
Porque não serve amar falsamente?
Pois de pouco amor que o coração sente dor
E de muita dor esse amor é descontente
Parafasia Indefinível
Quando as moscas entram na sala
As luzes se apagam
Os versos não rimam
As letras embaralham-se através dos dedos que soluçam o medo
Não há tempo no presente
O futuro que se estagnou no passado
É imediato à fome, ao lixo, ao humano
Distante da verdade
Essa verdade mundana e inconsciente.
Sobre o Tempo
Paralisados os olhos
Vejo o medo por trás das córneas
Medo de perder cada momento
Pois cada momento são apenas horas
As horas são o refúgio
Que se constrói a cada minuto
Dizem que o tempo é coisa de louco
Mas coisas de louco é amar por um segundo
Os segundos são os atos
Que nos prendem ao mundo
Em especial ao esquecimento
De que talvez há um grande significado
Nas palavras de um mudo
Ninguém vê, observa, procura
A paz extinta, antes em crise
Que vida egocêntrica!
Que o tempo ainda não muda.
Sobre as Letras
P o e t i c a m e n t e
p o e s i a
s e
f a z
l e t r a s
c a n e t a s
e x c l a m a ç ã o
d e d o s
d a m ã o
s o b r i a m e n
t r i s - t e
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p a z
e s c r e v o
- t e
p o e m a
Em Um Jardim de Flores Azuis
Em um jardim de flores azuis
Passeavam caracóis amarelos
Borboletas voavam o céu anil
Coloridas com pintinhas de caramelo
Em um jardim de flores azuis
As rosas alegres cantavam a vida
Joaninhas brancas e pretas
E um jovem pássaro de asas coloridas
Em um jardim de flores azuis
O inverno ocupava a noite e o verão o dia
A neve hibernava e a manhã trazia o sol
As flores bocejavam e um pequeno esquilo sorria
E no jardim de flores azuis
A tristeza era feita de alcaçuz
Enfim, nessa terra houvera paz
Em um jardim de flores azuis.
Mundo, este poema
I
Não me atrevo a falar sobre as pessoas
Nem sobre os trajes humanos, desenvolvidos
Filhos da faminta industrialização
Fetos de insetos, merdívoros, repugnantes
O homem venera a destruição
Guerra, fome produz inocência
Inocência produz o novo produto
Consumido pelos merdívoros
Em cada hemisfério suas fumaças sobem
Cavando o buraco onde se põem os ovos
Impregna-se
Porém a lentidão dos olhos não vê
É fugaz, essa evolução merdívora
Pena...
Pena tem-se de um copo d’água
Metamorfoseado em vinho
Produtos alcoólatras
Que desperdiçam o fruto pela decadência
II
Nas antigas alamedas
Hoje as ciências obscuras
Não haverá mais o novo velho
Cientificamente haverá o velho novo
Imerge-se e emerge-se
Através de uma nova Lei Gravitacional Tecnológica
As lágrimas coroem o rosto
Os próprios Oceanos consomem os peixes
O ar irrita os olhos
E a terra, estas várzeas continentais, absorve os pequenos seres...
Mas há um lugar...
Um lugar onde esse poema se dissolve
Não se sabe bem onde
Talvez no futuro de uma criança
Ou no coração moribundo de um velho
Ou no significado das palavras de uma dócil mulher
Um lugar onde os olhos adormecem
E o mundo é mundo.
Por que dizer adeus?
Nos tempos velhos da infância;
A fantasia do dia nos consome;
Sol e chuva em mesma estância;
Abstinência de banho e fome;
As ruas nos pertence em alma frágil;
Não há nem penitência ou alvará;
O dia não cede à noite o sufrágio;
E todos os dias vem cedo nos acordar;
Então por que dizer adeus?
Essa palavra tão triste e nostálgica?
Adeus de tantas maneiras
Simples, subjetiva, discreta, cálida.
Então por que dizer adeus?
Não há de formas meigas
O adeus que herda lágrimas
São fendas no abismo
O momento que se afaga
Subitamente
em silêncio nossas almas.
O tempo é indissolúvel
Há de mil poesias que compõem a face do poeta
Não retrata nele quem é ou a falha do falta ser
Apenas se deve, deve o cumprimento da poesia
Não que o poema acabe;
mas que o poema não faceie.
Veracidade é característica dos severos
O poeta já não é severo, porém abstraído
Do tempo que o rodeia e o sonda,
das margens que o circunscrita e absorve.
Não será um ponto final de poesia
Nem moldura de jornal
(seria a noticia do dia?)
Há de mil poetas que compõe o jornal
E sobre as notas de observador: Indago;
Será poeta o tempo
Na manhã, na véspera da noite ou no silêncio das palavras
Será poeta o tempo
Indissolúvel, estonteante.
(Dá graça que ninguém vê mais).
Conhecimento
O que pensar do ser pensante?
O homem.
Pensam de tantas maneiras, porém impensantes;
Atrelam o meio ao fim, e o marco á vindima.
Rosas maculadas que desferem caos.
Caóticos e deslumbrantes: assim são os homens.
Nesses traços peculiares, deixam o medo.
Não dorme cedo ou chega tarde,
o medo.
Constroem o novo e esquecem o velho.
Urutus indecorosos que emancipam a hecatombe.
Resplandecentes e minazes: assim são os homens.
Poucos diferentes de muitos poucos mortos ou vivos,
de poucos lugares, paulatinamente vagos e impregnados:
assim são os homens.