Sandra Helena Queiróz Silva
Na Sombra
Na sombra vivem os que não tiveram sorte,
pequenos e pisados, os artistas sem glórias,
as meretrizes,os gigôlos,os bêbados e os humildes anônimos
no mundo.
Na sombra multiplicam essa paisagem contínua.
A sombra dá os limites,entre o que foi e o que é.
anula aparências,aproxima distâncias...
Na sombra nascem as estrêlas,as sementes,as idéias...
As músicas e a própria Vida....
Confidências de uma Poetisa
Não pretendo escrever palavras insensíveis e sem sentido.
Quero apenas transcrever,um pouco da minha história
sem saudade,sem amargura;somente a essência pura.
Insisto em ruminar perdidos sonhos,frases e poemas imaginados e que estão em estado latente,a espera do momento certo.
Gostaria que entrassem nos corações sofridos,atingindo o seu alvo fatal,como lanças pontiagudas na mente dos noctâmbulos,revelando aos sensíveis o verdadeiro sentido de ser;
entendendo o verdadeiro significado das palavras onde serão lidas quem sabe,
Num canto qualquer...
O Novo
O novo deriva de uma ânsia de começos e da redescoberta da forma inaugural a relacionar com tudo.
O novo assusta porque nos conota com o livre e o criativo,é a capacidade de encontrar solução sempre parcial e diferente para enigmas que se repetem.
O novo inquieta porque nos obriga a acertar, e sim a experimentar.
O novo é mais obscuro,sedutor,assustador e o mais difícil dos caminhos.
O ano não será novo,o dia não é novo.A natureza não se rege por calendários;criação dos homens.Cada dia será igual a sempre e a todos.
Seja novo no minuto,reinaugure-se só então,cheio de medo e insegurança poderá aspirar a si mesmo,livre o suficiente para enfrentar qualquer prisão.
A maior das quais é a REALIDADE.
Espaços
Para os estabilizados na vida,
os dias não contam mais.
Os espaços conquistados,
o ideal realizado
pelo objetivo maior.
Garantiram concerteza,
a quietude pretendida.
Retribuíndo fronteiras,
ampliando os anseios num arquipélago de solidão,
em ilhas de egoísmo.
Vão desfilando vidas, que no anonimato ficaram
nos rostos contraídos.
Pelo cansaço e pela decepção.
Lá vai o Pedro Pedreira...
Lá vai o João Bobão...
Pedindo pelo amor de Deus
um pedaço de pão.
Que antagônica é a vida,
para uns é ânsia,suspiro e amor.
Para outros persiste a fome e a dor.
NA ESFERA CRISTALINA DOS VALORES
Na esfera cristalina dos valores
aprimora a virtude soberana
de descobrir o bem onde exista.
Ama a verdade mesmo contra todos,
a verdade será tanto mais tua
quanto mais a espalhares pelo mundo.
Na medida do humano põe tua alma
e serás a mão da caridade.
Em cada ato de amor e de justiça.
Nos momentos mais duros ou banais,
ou quando entregues às formas do exato
de um sopro de beleza não pressintas.
Seja o teu pensamento alto e sereno
como a água que domina os horizontes,
como a cruz que se eleva na montanha.
ESPERANÇA
No olhar do mundo esconde uma esperança,
em justiça,
em razão,
em liberdade contrária do comodismo humilhante.
Do povo conformista,
caminhamos...
Indecisos sem solução,
sem muita esperança,
mas é preciso sonhar...
O sonho não dispensa ninguém da ação.
Tudo é fatalístico,na verdade.
O sonho é a preparação do traçado a seguir depois.
NO ÁPICE DO MUNDO
Eu estava no cimo do mundo,
poeiras cósmicas caiam na esfera incolor...
As nuvens brancas, formavam desenhos e arabescos.
Meus olhos fascinados observavam festival de magia.
Continuei a olhar o infinito
neste espaço sem nexo,
neste mundo tão complexo,
e este todo fazia parte do meu sonho...
Eu estava apenas, no ápice do mundo
sonhando e pensando
pensando e sonhando...
REFLEXÃO DE UMA ALMA
As estrela
na minha noite brilham...
Refulgindo de novo o sol
no meu caminho.
E uma estrela brilhou,
no firmamento escuro de minha alma.
Orientando-me o caminho
que não pode nunca se extinguir.
E eu crescia,e cresci
sem limites de tempo
que não posso definir.
O TEMPO
Olhei a manhã dourada vestida de claras cores;
O sol surgindo,ao longo do horizonte e o colorido céu a se espelhar na fonte.
O vitral da manhã banhou-se de esplendores.
Breve passa o tempo,tão breve quanto espumas,
porque dia igual não voltará jamais do singular roteiro das vastidões da vida.
Pelas janelas largas da imaginação afoguei meus pensamentos.
No sopro leve do vento,sentindo na face a aragem benfazeja,aumenta a minha esperança e concretiza meus sonhos alados.
Não vejo o perfume da flor, mas sei que ela existe,assim como existe uma pessoa em cada coração.
Unindo fragmento a fragmento terei no tempo um novo sonho para sonhar sem sofrer e sem chorar.
A MISSÃO DA ARTE DE AMAR
Pouco importa que a sombra da montanha,não cubra toda a planície.
Mais importante é pressentir a quente e edificante presença do sol.
De nada vale ficar lamentando os bons momentos que se foram;as oportunidades que não vieram, porque-mais importante é seguir acreditando.
E não lamentar o sonho decepado.
Muito mais importante é perdoar,porque nem todos assimilam a beleza e a mensagem do amor ,a profundidade do ser,nem todos entendem.
Surge na verdade que a mensagem do amor prossiga:
levando carinho,
criando beleza,
distribuindo paz,
trocando sugestões,
enfeitando trilhas,
recriando a existência,
levando as circuntâncias para o Sonho Maior(e duradouro).
Quem deixa rastros identificadores;
Quem ama plantando auroras;
Cavando em almas e semeando a fé;
Jamais poderá dizer que não ama a vida.
DE PASSAGEM
Só vim de passagem,
assim como tantos.
Mas o mais difícil não é vir como passageiro e
sim como achar a verdadeira passagem.
Passagem é um portal de enganos e desenganos.
Temos que ter perseverança de tomarmos o rumo certo.
Pois sempre estamos incertos do que somos,que fazemos e
para onde vamos.
Se aprimorarmos nossos horizontes,sentimos que somos passageiros do espaço livre,e podemos passar por vários estágios,mesmo de passagem;para outros ainda melhores do que os anteriores.
ANGÚSTIA
Esta angústia de encontrar os outros em nós,
a descobrir os nossos gestos.
Esta angústia de não ser xérox,segunda-mão do desconhecido.
Esta angústia me faz mais só,num mundo dúbio.
Esta angústia não usa disfarces
essa essência limitada,só aceita pela existência de uma força.
Fora do alcance da mão,essa angústia constante,
por um mundo melhor,
sem muita frustração.
TUA PRESENÇA
Tua presença me acalma,fazendo dos teus olhos meu espelho.
Minha eterna crença,quando suspiras - harpa maviosa .
Sinto-me relva transformada em rosa.
Tua presença,são meus sonhos refletindo luares.
Tua presença me aproxima demais da felicidade;
Porque a minha inspiração,
todos os anseios e desejos,
Vem da tua presença.
PRISIONEIRA
Vesti minha túnica humana e fiquei prisioneira,
do mundo feito de enganos onde canto e me exalto.
E tu que nunca reparas nem sabes,que sou alma rara.
Sei que me medes,me pesas, me observas,me destilas.
Me revolto,fujo e entristeço.Crio asas e vôo no silêncio,
como a abelha em flor em flor.
Fabricando mel sem ter colméia...
Nasci livre,como o vento,
Eu quero, apesar da minha idade,que este amor sufocado
ainda se expanda.
E dentro da minha ternura
nestes instantes de beleza calma
Presa a este amor confuso
meu ser se transfigura.
Porque sinto que o amor é luz
e a mais alta manifestãção do ser.
OCASO
O céu é um borrão de sombra e luz,
a claridade surge mansamente.
Um sossêgo interior,em mim produz entre os matizes transparentes e azulados.
As árvores crescem, na beleza da galharia exuberante e farta.
E o sol transforma o inquieto dia,
como rubra púpila, a se afundar na noite em plena escuridão.
O astro rei morre,estourando de luz,
despencando nas trevas
como um meteoro.
E diante do espetáculo em que me encontro,
admiro tudo ao redor,serenamente.
Meus olhos se perdem na distância da amplidão,
nas descargas de luz de cada solução.
PENUMBRA
A silhueta baila
esconde o corpo
desenhado pela luz.
Do claro-escuro
sem disfarce
que o tempo demarca
ausente de gestos
se mantém submersas
onde o vai e vem
da palavra...
Emudece...
A grande sombra emerge
sem escolha,cede
dá lugar às cores
sem escolha volta e
tudo prossegue.
PERDIDO NA MULTIDÃO
Na minha loucura
Como quem anda à procura
Desvairada ilusão
Encanecido devaneio em que persigo
Um semblante ou um rosto amigo
Extraviado na multidão
Na minha loucura
Aonde o vento murmura
Promessas de um amor distante
Inquietante minha alma vislumbra
Sentindo um vazio na alma
Entre tanta e tanta gente
Na minha loucura
Como quem anda à procura
Minha andança fugaz
Olhares olvidados nos céus
Conclamo à Deus
Que eu encontre qualquer dia
Mais calor humano, perdido nas ruas
Pois, o que vejo é sagaz
CRISTAL TRINCADO
Ocaso é punhal afiado dilacerando o coração apaixonado. Não há em ti ou em mim, traços de um romper. Foram os momentos, as circunstâncias de caminhos bifurcados e trincados em um tempo. Os dias ensolarados e as noites com luar, serão os reflexos de nosso passear de mãos dadas pela vida a sonhar. Trançamos uma linha paralela, para andarmos lado a lado e jamais separados. Fragmentados na fragilidade transformados em cacos estilhaçados no chão, que não servem para nada. Há fendas e brechas aparecendo as trincadas que na queda espatifou. Abeirar-se no ápice de todas as emoções afloradas, sem termos desabrochado nos jardins com aromas etéreos. Minguamos nas linhas paralelas e por mais que venhamos percorrer lado a lado, os olhos não mais enxergam a beleza que o outro refletia na retina dos olhos da paixão. Sumimos aos poucos com o nevoeiro de todos os desenganos, andaremos em outras linhas retas com as curvas de outros caminhos, não mais sendo aquela paralela que fazia de nossos dias a vida ser mais bela.
FLERTANDO MINHA ALMA
Na imensidão do meu ser
Fiz morada num castelo de sonhos
Revertia em meus olhos um encontro solitário
Capaz de mensurar as necessidades interiores
Gritando e clamando por um minuto de atenção
Flertei a minha alma, como se flerte um amor à primeira vista.
Deixei fluir a essência de sentimentos contidos
Um namoro entre o corpo com alma
Flertei de leve sem medo de toca-la apalpando suavemente
Buscando entender a complexidade das formas
O corpo entrelaçou a alma e fizeram um bailar de momentos
Esquecidos, apagados e lembrados a cada passo dado.
Deste flerte minha alma fixou um ponto de apoio
Olhei na profundidade conforme o meu alcance
Vislumbrando a vida de outra forma
Onde o corpo esvanece enquanto a alma floresce...
Assim, flertei minha alma...
DESNUDEI MINHA ALMA
Larguei os pudores rumo aos desejos
Estes desejos que latejavam em mim
Qual força de uma represa
Estava presa...
Sem saber e despojar do meu Eu
Estes desejos não são de sensualidades
Há outros que latejam em almas silentes
Que acordam e sonham...
Ou que sonham e acordam...
Desnudei-me das sombras e colori meu corpo
Com tintas avivadas da própria vida
Libertei o melhor que em mim aprisionava
Soltando em pequenos momentos os liames
Embaraçados e reprimidos
Minha alma sente leveza
Meu sorriso esboça alegria
Onde hoje a paz fez morada
No meu silêncio sem agonia...
TUDO TEM RIMA MENOS UMA
Quantas palavras
Escritas e rimadas
Refiro-me a duas palavras
Tão conhecidas
Ditas diariamente
E veio-me a tal conclusão
Pai
Rima com vai, sai
Enquanto,
Mãe
Não tem rima
Tente rimar
Não irá encontrar
Mãe é palavra
Sagrada
Quem nem na Língua Portuguesa
Tem rima
Para tal beleza
Mãe não rima
Rema nas águas
Revoltas
Calmas
Seguindo
Labirintos
Acolhendo seus filhos
Outros
E assim
Por diante
Mãe
É um diamante
Algumas permanecem
Em estado bruto
Outras polidas
Reluz
Conduz
Seus filhos
Pelo caminho
De Luz
SEGREDOS DESNUDOS
Existe versos que nos tocam
Com a mesma intensamente se tivesse boca.
Palavras de ternura, de espera...
De enorme amor, de promessa louca.
Expressões despidas que roçam
Qual a noite que invade meu rosto
Por vezes se recusam
Sem deixar um desgosto
De repente avivadas
Entre vocábulos sem cor
Anunciadas repentinas
Como a inspiração ou o amor.
Palavras que nos conduzem
Aonde a crepúsculo é mais forte
Ao segredo dos amantes
Abraçados sem norte...
CANÇÃO MATINAL...
Recitas em meus ouvidos uma canção matinal...
Ergues a taça para um brinde de encontros...
Desencontros na contramão da vida...
Suspiros e sorrisos de contemplação
O dia enaltece... Um rouxinol voejando
Nos arbustos da imaginação/momento...
Dissipa os nevoeiros da saudade que inflamam
Dos lábios que não se tocam...
Dos corpos que não se ajustam...
Dos olhos que não sabem o seu fulgor
Um amor que nunca penetrou em minha concupiscência
Nem deixou seu perfume, nos poros de minha epiderme
Colidem nas barreiras de um tempo de outrora
Nas relvas distantes... De um encontro que ainda não nasceu...
Aguardando uma canção matinal...
O SABOR DE UMA SAUDADE
Quem atreveria dizer
Que sabor tem a saudade...
Será salgada
Amarga
Doce
Saborosa
Somente sei
Que o aroma
Exala
Fragrâncias
Suaves
Fortes
Marcantes
Fugaz
Esta saudade...
Adormece o peito
Deixando sabor
De quero mais
VARAL ESTENDIDO
Lençóis estendidos, debelados de apontamentos.
Somam um bocado de biografias estendidas
Colorindo os dias no balanço do vento
Presos no varal estendido...
Cravejados de perfumes, percepção de júbilo.
Marcas deixadas no encantamento dos dias
O sol contempla na sombra dos reflexos preenchidos
Esvoaçando em breves movimentos
Um passado interligado ao presente, junção ao futuro...
Peças contemplativas no espaço escolhido
Esperas de momentos vindouros que não findou
Saudades latejantes de um coração - amor
Estendidas no varal colorindo o mundo ao redor
Sem vendavais, aguaceiro ou torós.
Somente unindo os lençóis – recordação
Sentidos e vividos na choupana da emoção...