Salem Camilla
Ontem me pediram pra soletrar 'saudade'.
Comecei com a cor da parede do seu quarto e terminei com o seu CEP.
Não entenderam.
Tudo bem, eu também não.
Mas persisti em me lembrar das madrugadas regadas à vinho barato e gargalhadas.
Eu amo o som da sua risada.
Odeio o seu vinho favorito.
Ele sempre me deu ressaca.
Igual à você.
Me embriagava a madrugada toda, presa no meu cabelo -que você insistia em jogar pro lado, enquanto me olhava-, e eu acordava com o seu cheiro na roupa.
E na boca.
Você é aquela bebida que eu sempre juro nunca mais beber, e quando me dou conta, ja tomei outro porre e acabo vomitando o quanto de você ainda existe dentro de mim.
Você em excesso causa alucinação.
E eu perco a interpretação.
Você deveria vir com um aviso, tipo embalagem de cigarro.
"Contém 4.700 substâncias tóxicas que te fazem não querer largar nunca mais."
Mas um dia a gente consegue.
E larga.
Larga a bebida.
O cigarro.
E a mania de você.
E outras drogas.
Se nosso caso fosse geometria, minha nota seria zero.
Não por você.
Mas,
Eu mal sei a linha do Equador, e agora que tenho que traçar a linha tênue entre o coração e a razão, a ponta do lápis quebra.
Suja a folha.
Bagunça tudo!
E eu, que odeio bagunça... Começo tudo de novo.
Na matemática você só me confunde.
Os sinais mudam.
Mas, meu bem, as ordens dos fatores não alteram o resultado.
E nem 1 coração quebrado.
Ei, não se desespera, não.
O tempo é rei e o amor é sábio.
Ei, não chora, não.
Cronometramos a vida e o tempo como um espiral.
O tempo não para.
Calma, não se culpa, não.
Talvez ele também queira ser olhado com outros olhos, e talvez, estes olhos não sejam os seus.
Não, não faz isso. Não arremessa os vasos na parede e nem nele.
Isso não vai faze-lo te olhar.
Não se culpe. Não existe crime e não há um acusado.
Existe aceitação.
Aceita, bonita. As vezes não é pra ser.
Reciprocidade é tudo, e a dele tem um nome, um sorriso e um endereço que não é o seu.
Não te quero ser rude, bonita.
Mas, ver você matar o jardim dentro de ti, mata a cor do meu.
Floresça, garota!
Ele nunca prometeu ficar e agora que partiu, não prometeu voltar.
As vezes a vida é como um aeroporto, onde a nossa unica certeza, ate a nossa ultima decolagem é que idas e vindas serão constantes.
Seja a caixa preta de um avião.
Registre só os momentos.
Deixa ir.
Você ainda vai ver muitos pousos e decolagens chegarem ate você, antes de você encontrar alguem que queira decolar contigo.
E nas emoções que você me causa, e na ansiedade que você me oferece sem aceitar devolução, as borboletas que alugaram o meu estômago por tempo indeterminado, perdem o rumo.
Como se puxasse o meu tapete, me tirando as esperanças do amanhã, você me oferece o colo em um salto de pára-quedas.
Eu deveria confiar meu coração à você?
Embarquei nessa viagem.
Na realidade, eu embarquei na tua viagem.
Você sempre gostou de migrar e imigrar, não é?
Eu só não imaginava que existiria essa opção quando lhe ofereci o meu lar.
Peguei uma ou duas mudas de roupa e entrei no seu avião.
Não havia um aviso que sua sina era o piloto automático.
Mas, mesmo sabendo disso, a viagem é incrível!
Você me oferece um elevador no estômago, mesmo quando as borboletas escapam, depois me abraça quando caímos em queda livre assistindo o chão se aproximar, e quando abro os olhos novamente, esperando a poeira e a grama amassada, me vejo seguindo as mãos nas suas costas enquanto o horizonte desaparece na nossa frente...
Mas, olha amor, até que ponto é válido validar suas idas sem aviso e vindas sem hora marcada?
‘’Sim, você é o amor da minha vida. Não duvide disso.
Sim, você abala meu mundo, balança minhas pernas, bagunça tudo.
Sim, eu coloco minha vida, e sempre coloquei-a, no bolso pra viver a tua –não que isso sempre tenha funcionado pra mim-.
Sim, eu lembro de cada ida e cada vinda. O primeiro beijo fez até a minh’alma ficar sem rumo.
Sim, meu amor, você já me disse tantos ‘’sim’’.
Você sim, sabe como fazer e sabe o que não fazer. Você sim, sabe do meu gosto, do meu desgosto e conhece à fundo cada gemido e sussurro meu.
Sim, você foi a melhor coisa que já me ocorreu nesses meus poucos, mínimos anos de vida.
Sim, você foi embora. E sim, você voltou.
E sim, você foi embora de novo. E olha só, você voltou novamente.
Sim, eu sempre pensei que tudo bem a ida, porque eu sempre soube, no mais fundo ou até mesmo no mais raso de mim, que a sua volta sempre chegaria.
Mas cá estamos. Mas cá estou. E ai você tá. Como na maioria das vezes.
Sim, você já me disse ‘’não’’. Já disse nãos.
E de tanto eu te dizer ‘’sim’’, eu entendi que o ‘’não’’ também vem.
O não também existe. E você me mostrou isso.
Da forma cruel como veio.
Das formas cruéis como foi.
Mas pra existir o ‘’sim’’, em algum momento a gente disse não. E meu amor, agora estou te dizendo: Não!
Não, não vem assim, de mansinho como se nada, nunca, tivesse acontecido.
Não, não me olha assim e não me segura dessa forma... Me solta!
Você me machuca com a forma que está me pegando e segurando. –metáforicamente e no modo figurado da coisa, se é que me entende, amor-
Não, eu não vou mais fechar a porta toda noite. Ela vai ficar fechada o dia todo.
Não, eu não vou mais tampar os olhos, pra não te ver.
Não vou mais fechar as janelas e os ouvidos, pra não te ouvir.
É. Sim, isso mesmo. Na verdade, é não.
Você não soube me ter. Você não soube ficar. Você não soube tanta coisa, na mesma medida que soube de tantas.
E agora, eu sei de uma: O meu não é seu, como em todos esses anos, o sim, foi.’’ Com amor, o seu nené...não.
Oi.
Eu vim te contar umas coisas.
Na verdade, vim te contar que: Ela está bem.
Não, ela não superou. Mas eu também não aperto mais.
Às vezes ela até me xinga, quando o culpado na realidade é você, e não eu.
Eu sou o que você precisa dela e o que ela mais precisa de si.
Vim te contar que ela ainda escuta aquela música que você mandou depois do primeiro beijo que antecedeu o primeiro encontro de verdade (risos).
É, ela ainda escuta mas agora eu não fico agitado.
Não tão.
Algumas borboletas até morreram, ou dormiram, ou sumiram... Bem, isso não importa.
Afinal, não é o meu departamento.
Eu vim te contar que você foi um idiota, mas que tá tudo bem, porque todo mundo acha que foi eu.
Você me deve uma.
Duas.
Três.
Quatro, pela vez que você passou na rua com a camisa da banda que ela mais gosta, e beijou sua amiga.
Cinco, porque toda burrada que você faz, ela me culpa.
Seis, porque até as amigas dela falam que "Ah, a culpa é do Coração que não escuta a Razão".
Burrice.
Besteira.
Mentira!
Eu escuto a Razão!!
Na verdade, eu já estou cansado de a escutar reclamar.
Reclamar que deveria ter ido atrás.
Que deveria ter deixado se entregar mais.
Você não tem noção do que é conviver em um corpo onde eu me quebro e ainda tenho que ouvir -sem ter pra onde fugir- uma tagarela metida a sabida, reclamar que não deu certo de novo.
E advinha?
A culpa vai pro Coração novamente.
Bingo!
Preenchi todas as cartelas nesse jogo de azar.
Quando vocês dois se conheceram (não estou falando da Razao), eu até gostava de você, mas você resolveu que o melhor caminho era me quebrar pra conseguir se livrar de um relacionamento que ao seu ver, não estava dando certo.
E agora?
Agora eu estou agitado.
Você decidiu me agitar depois de anos, e ela (pobrezinha), nem tem controle sobre mim.
Antes de mais nada, eu quero te contar outra coisa:
Sabe a Razão?
Mesmo a gente brigando em todos esses anos de vida da garota que você dizia amar, mesmo que por vezes não entrássemos em um acordo, ano passado, quando você foi embora, nós nos casamos.
Casamos e demos um presente pra nossa garota (aquela que você fazia me culpar).
Demos um "não" pra ela.
Foi difícil decidir que havia chegado a hora.
"Finalmente Razão e Coração entram em um acordo."
Essa manchete você não quis ler, não é mesmo?
Preguiçoso pra amar.
Pra ficar.
Pra tentar.
Pra cuidar.
E Até pra ler.
E hoje, meu amigo, te escrevendo essas notícias, sem saber se você vai chegar até aqui, eu e minha mulher temos o orgulho de ouvir aquela garota apaixonada por você, te dizer: Não.
Você já foi melhor, meu caro. E agora eu estou melhor, e nessa história, mais linha alguma terá as suas reticências.
- Com carinho, o Coração da garota mais sortuda do mundo, por ter te perdido.
Perdi o medo de te perder.
É, isso mesmo.
Já não causa tanto estrago em mim as nossas brigas, nem seu tom alto e rude quando te repreendo por me ofender em uma discussão de casal.
Por muito tempo o seu lado da cama teve a marca do seu corpo e o seu cheiro no travesseiro.
Ja não é mais assim;
Por meses eu insisti em colocar a mesa pra dois; E continuei alugando filmes (porque você amava).
Eu podia comprar uma televisão grande com internet e assistir on-line, mas nosso romance tradicional sempre falou mais alto.
Continuei ouvindo nossas músicas; Visitava os nossos lugares; Uso e usava as camisetas da minha banda favorita, que você me deu;
O seu perfume você deixou na cômoda (lembra?).
As músicas já não me trazem nó na garganta.
Mas ainda sim, me lembram você.
Nossos lugares já não são mais nossos, porque pra ser nosso, pelo menos o nós tem que existir.
E convenhamos, o único nós aqui, são os nós que fizemos nesses anos todos.
Eu te perdi tantas vezes que agora eu aprendi a perder. Consegue entender?
E de tanto visitar as aulas de perda, de tanto ter aula pratica... Eu perdi o medo de perder.
De te perder.
Mas aprendi também que tem uma coisa que não se perde: as lembranças.
E agora eu te agradeço por todas elas. Cada m2 que passamos juntos, contam uma história.
E se os próximos capítulos não forem sobre nós, ainda podem ser sobre os nós.
Se cuida.
Beijo.