Sabrine Cantele
nos dias que eu não consegui dormir, a arte me cantou uma música de ninar e puxou o cobertor até a minha orelha. nos dias que eu senti medo ela me abraçou, nos dias que eu chorei ela me convidou para dançar e nos dias que eu quis gritar ela me mostrou que eu podia escrever.
você que tem a força e o impacto de um desastre natural. você que flui como cachoeira. arrancou os espinhos cravados no seu peito sozinha. mulher tu irradias. tu inspiras. tu és gigante.
meu corpo não é patrimônio público, que você toca sem permissão. meu corpo é lar de uma alma que sente, que ri, e que chora. meu corpo é meu. tracei limites. então mantenha suas mãos atadas. eu não sou um objeto. eu sou uma mulher.
você não é boa o bastante. essa frase minha mente já decorou e recita para mim, a todo momento. me desculpa sentir tanto. me desculpa chorar demais. me desculpa escrever coisas tristes. toda vez que corta, eu sinto rasgar.
- eu não conseguia falar, então eu escrevi, página 17.
o único som que eu escuto
é do eco que as minhas palavras fazem,
sobre o buraco que você deixou
quando foi embora.
- eu não conseguia falar, então eu escrevi, página 14.
então percebi que minha felicidade dependia só de mim
e essa foi a primeira vez que me senti livre.
- eu não conseguia falar, então eu escrevi, página 63.