Ruisdael W. de Castro Maia
Em uma era em que o utilitarismo das coisas e das pessoas constitui a base dos relacionamentos contemporâneos, encontro-me, em minha incapacidade de alcançar tal plenitude, navegando pelos mares do abstrato. Reviso o indizível sabor da abstração que minha capacidade cognitiva pode gerar, desejando ardentemente, como um apaixonado, a contemplação da perplexidade do belo. Pois, se tudo em minha vida fosse absoluto, como uma máquina em seu funcionamento, que sentido haveria para potencializar meu ser?
Muitas vezes perdido em um vasto mar de reflexões, compenso minha incapacidade de operar automaticamente todos os meus afetos de forma reativa. Em vez disso, trato conscientemente de moldar e emoldurar perspectivas únicas e criativas, extraídas do mais doce néctar do divino e sublime pensamento que me conecta com o eterno.
Deste modo, destaco-me das grandes massas, não por minhas habilidades e utilidades na produção industrializada do pensamento, mas por permitir-me viver e beber do néctar sublime deste cálice divino. Sinto, vivo e experimento a vida como de fato ela deveria ser. Relaciono-me emocionalmente comigo mesmo, muitas vezes em ardil confronto, e nada passa despercebido. Vivo o hoje, não com a razoabilidade de uma vida vaidosa, mas com a profundidade de um verdadeiro construtor de si mesmo.
Ruisdael Maia